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Durante a juventude, Barreto com temperamento mais “suave” | Reprodução
Durante a juventude, Barreto com temperamento mais “suave”| Foto: Reprodução

Pesquisadora dos limites entre sanidade e loucura em Lima Barreto, a jornalista Luciana Hidalgo recorreu à ficção para mostrar uma face menos conhecida do escritor. Recém-lançado pela Rocco, o romance O Passeador constrói um personagem terno, puro e idealista.

Ao percorrer a juventude de Lima Barreto (1881-1922), antes de publicar os livros que o tornariam respeitado, Luciana revela um homem já mordaz, mas bem mais suave que aquele da fase adulta – amargurado, belicoso e atormentado por alucinações decorrentes do álcool.

"Ele buscava a sinceridade, a verdade e a pureza. Mas, com as dificuldades e a rejeição que en­­frentou, inclusive da crítica, foi se amargurando. Por isso que escrevo [no livro] que só é muito cínico quem um dia já foi muito ingênuo", conta a autora.

O primeiro mergulho de Luciana no gênio do autor de Triste Fim de Policarpo Quaresma produziu Literatura da Urgência – Lima Barreto no Domínio da Loucura (Editora Annablume), ganhador do prêmio Jabuti de crítica literária em 2009 e derivado da sua tese de doutorado em literatura comparada na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

Se naquele trabalho a jornalista investigou a influência da experiência manicomial sobre a escrita de Lima Barreto, agora a aventura ficcional lhe garante maior licença para mesclar gêneros.

Meio novela, meio romance, O Passeador – que recebeu a Bolsa Funarte de Criação Literária, de R$ 30 mil – agrega pitadas de história e ensaio e traz dados biográficos e trechos do diário de Lima Barreto.

O cenário é o Rio de Janeiro da belle époque, entre 1904 e 1905, um caótico canteiro de obras da reforma urbana do prefeito Pereira Passos. O personagem de Lima Barreto, identificado pelo primeiro nome do escritor, Afonso, é o "passeador" do título, que, inconformado com a descaracterização da cidade, faz vigílias noturnas observando as alterações. Durante o dia, divide-se entre o trabalho burocrático na Secretaria da Guerra e as idas ao sebo do livreiro português Tiago, onde trabalha a jovem Sofia, cuja origem a trama desvenda aos poucos.

Nascido há 130 anos no Rio, o que justifica tantos títulos em torno dele em 2011, Lima Barreto foi um celibatário. Ia a prostíbulos, mas, recorda Hidalgo, saía enojado. Seria Sofia um alter ego de Luciana Hidalgo? "Tem um pouquinho, sim. A paixão pela literatura, o idealismo. Mas Sofia também é meio que um duplo feminino dele."

Ex-repórter de cultura do Jornal do Brasil e d’O Globo, a carioca Luciana, de 46 anos, que mora temporariamente na França, onde faz pós-doutorado na Universidade Sorbonne/Paris 3, é autora da biografia de outro artista a ter sua obra impregnada pela internação manicomial: Arthur Bispo do Rosário (1911-1989).

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