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Rosaldo Pereira: radialista que comanda o programa há 28 anos foi padrinho de 4 mil casamentos | Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo
Rosaldo Pereira: radialista que comanda o programa há 28 anos foi padrinho de 4 mil casamentos| Foto: Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo

Ex-solitários

Casal está junto há 12 anosHá 12 anos, Hercília Pereira da Silva e Valdemiro Matrimbale eram os solitários "Hortência" e "Pastor à Procura de uma Ovelha". O pseudônimo dele a atraiu. Ela enviou uma carta-resposta a Rosaldo Pereira querendo conhecer melhor aquela pessoa que procurava alguém livre e que não tivesse compromisso com filhos ou ex-mulheres. "Escrevi que era livre, viúva e que tinha uma filha casada. Ele recebeu outras cartas, e deixou a minha em cima da mesa. Só pegou depois", conta Hercília, 67 anos.Demorou mais dois anos até que o Casamenteiro fosse responsável pela união de mais um casal. Aconteceu quando os papéis se inverteram, e ela mandou uma carta para ser lida no programa. "Ele ouviu, gostou e me escreveu de volta, sem saber que era eu. Foi engraçado porque no telefone ele disse que meu nome não era estranho. Aí finalmente deu certo", diz a aposentada. O primeiro encontro aconteceu no inverno de 2000, em um jardinzinho em frente à Secretaria de Saúde de Piraquara. Em setembro do mesmo ano, o casal juntou as panelas e aboliu os pseudônimos. Hercília e Valdemiro já não ouvem mais o programa de Rosaldo Pereira, embora o indiquem para aqueles que continuam solitários. "Estamos juntos há 12 anos, e tudo está muito bem", diz Hercília. Mais um para a conta de Rosaldo.

Santo Antônio deve estar enciumado com o sucesso de Rosaldo Pereira. Sobre a mesa de madeira maciça que tem na Rádio Colombo, no centro de Curitiba, cerca de 20 cartas presas por um clipe grande encaravam o radialista numa quarta-feira à tarde. O endereço certeiro das correspondências não é o Edifício Cláudia, na Praça Generoso Marques. E sim alguém que ouve o Programa Casamenteiro, responsável por apaziguar corações solitários há 40 anos.

Contar e relembrar é difícil, mas talvez o "programa de rádio mais antigo do sul do Brasil" já tenha sido corresponsável por mais de 5 mil "sims". No ar há 40 anos e comandado por Rosaldo Pereira há 28, o Casamenteiro é sucesso de audiência entre as 22 e 23 horas, de segunda à sexta-feira. "Entrei para quebrar o galho, mas quando fui substituído, os ouvintes fizeram um abaixo-assinado com 3 mil assinaturas para que eu voltasse. Estou quebrando o galho desde então", diz Pereira, este sim um autêntico "voz de veludo".

O cupido sonoro trabalha no prefixo ZYJ-244, a 1020 Khz. Seus trâmites são os seguintes. Um solitário – assim os ouvintes são descritos – escreve uma carta para o programa. O intuito é quase sempre o mesmo: conhecer alguém, o que muitas vezes significa casar. Há descrições físicas e profissionais e expectativas em relação à pessoa procurada. As cartas vêm assinadas com pseudônimos. "Rosa Carinhosa" e "Jovem Velho", por exemplo, já arranjaram seus pares.

Por cada leitura de carta, é cobrado um valor de R$ 8. E nunca uma carta é lida mais de uma vez no mesmo dia. Do outro lado, quem se interessar pela descrição, envia uma carta-resposta com telefone. Às vezes com foto. O solitário sortudo da vez é avisado que há alguém à sua procura. E aí é com eles.

"Geralmente, marcam um encontro em algum lugar central e movimentado, como a Catedral ou a Praça Santos Andrade", diz Pereira, 62 anos, casado há 30.

Procura

Em média, 20 cartas por dia chegam às mãos da secretária Dioneia, que as repassa a Rosaldo assim que o radialista entra no estúdio, às 13 horas. Em seu auge, o Casamenteiro já chegou a receber mais de 50 correspondências por dia, o que exigia um processo de seleção prévio, já que muitas cartas ficavam para o dia seguinte. Sem falar nas letras criptografadas que o desafiam diariamente. "Ih, rapaz. Às vezes, tem que adivinhar o que está escrito. Então vou lendo e inventando, já que tenho uma noção do que as pessoas querem dizer", comenta Pereira, padrinho de nada menos do que 4 mil casamentos desde que comanda o programa. "Chegou em 4 mil e parei. Uma vez dei até um vestido de noiva para uma ouvinte", revela.

Da mesma forma que o número comprova o sucesso do encontro mediado pelo rádio, há os que insistem em encontrar uma alma gêmea há mais de dez anos. É o caso de Léo (pseudônimo), aposentado de 70 anos. Na longa carta escrita a caneta preta e em letra de forma, lê-se: "Sou meio agrisalhado (sic), olhos claros e bigode aparado – que eu posso raspar! Não possuo vício, nem calvície e não sou mulherengo. Procuro mulher que seja vivida, instruída, esclarecida e amadurecida. Não precisa trabalhar. Sou eu que vou mantê-la. Conheça o Léo e mande a solidão para o beleléu". "Ele conheceu muitas pessoas, mas não deu certo. Ele é muito exigente", conta o radialista, que vez em quando recebe mimos junto com as cartas. Pacote de café, arroz, bolacha. Até um troféu já ganhou.

Baile

O programa fez tanto sucesso que Rosaldo Pereira criou o Clube dos Solitários, espaço em que as pessoas que trocavam correspondências de segunda à sexta, poderiam dividir olhares ou algo mais nos finais de semana. A primeira sede foi no Clube Juventus. Depois Pereira alugou um salão, onde 800 pessoas iam aos domingos. Aí foi a vez de um espaço na Travessa da Lapa, que já abria durante todo o final de semana. A sede atual é na Rua Barão do Rio Branco, 580. Cerca de 1,2 mil pessoas passam por lá de sexta a domingo.

Os solitários não são só os da terceira idade. "Vai uma moça levar a avó e aí começa a dançar, conhece alguém. No outro, a vó não vai mas ela leva as amigas", diz Pereira, que comanda o som no clube: forró, boleros, xotes. Tudo "em nome do amor".

E o maior casamenteiro sem batina que já se viu se sente realizado com todas as proezas. "Fico feliz da vida, principalmente quando as pessoas vêm falar comigo, avisando que também estão felizes. Meu ego vai lá em cima", comenta Rosaldo Pereira, antes de entrar no estúdio para gravar mais uma hora do programa que, implacavelmente, caça solitários.

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