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Marilyn Monroe, nem mesmo em seu tempo, era exatamente original. Pouco antes dela, Judy Holliday, a surpreendente coadjuvante de A Costela de Adão (estrelada por Spencer Tracy e Katharine Hepburn) e protagonista oscarizada de Nascida Ontem (de George Cukor), havia aprimorado o tipo que seria celebrizado por Marilyn em clássicos como Adorável Pecadora e Como Agarrar um Milionário: a loira aparentemente burra e sensual, por quem ninguém dá nada, mas que, na hora "h", diz a que veio, revelando-se não apenas inteligente, mas, também, repleta de humanidade e intuição.

Foi em cima desse, digamos, arquétipo, que Marilyn construiu sua carreira, redescoberta e reavaliada pelas novas gerações graças a livros, ensaios e o lançamento de quase toda sua filmografia em DVD. Há quatro anos, por ocasião dos 40 anos de sua morte, a Fox lançou uma coleção, batizada com o sugestivo título de Diamante (em referência à canção "Diamonds Are a Girl’s Best Friend", de Os Homens Preferem as Loiras), que além de 12 filmes da estrela, também inclui um importante documentário a respeito dos derradeiros e turbulentos meses de sua vida.

A coleção, mais até do que uma seleção do "melhor" de Marilyn, é, acima de tudo, uma reunião do que de mais essencial ela realizou em sua carreira, durante a qual participou em cerca de três dezenas de filmes, do final dos anos 40 ao inicio dos 60. É claro que não faltam clássicos absolutos, como O Pecado Mora ao Lado (que traz a inesquecível cena do esvoaçante vestido branco sobre a grade de ventilação do metro nova-iorquino) e Quanto Mais Quente Melhor, ambos dirigidos pelo gênio Billy Wilder. Também estão no pacote comédias mais ligeiras, mas extremamente charmosas, como Nunca Fui Santa, Adorável Pecadora e Os Homens Preferem as Loiras, filmes que ajudaram a catapultar a imagem da atriz que até hoje persiste no imaginário popular.

Entre os DVDs, no entanto, o cinéfilo curioso também vai descobrir uma outra faceta de Marilyn. Embora a palavra drama esteja mais relacionada à atribulada vida da atriz fora das telas, pelo menos dois títulos provam que a maior estrela de Hollywood de seu tempo queria mais de sua carreira e pretendia provar ao mundo ter estofo dramático capaz de segurar papéis mais sérios.

Em O Rio das Almas Perdidas (1954), Marilyn surpreendeu os fãs ao subverter sua imagem glamourizada e aparecer num western, ao lado de Robert Mitchum, descendo corredeiras e lutando pela sobrevivência. Os críticos aprovaram, mas o público não. O filme não decolou nas bilheterias, provando que os admiradores da loira não estavam preparados para encarar Marilyn nua e crua. O relativo fracasso da produção, contudo, não a impediria de continuar tentando se reinventar. O filme da virada viria sete anos mais tarde: Os Desajustados (1961), escrito pelo dramaturgo Arthur Miller, com quem foi casada, e dirigido pelo mestre John Huston.

Contracenando com outras duas lendas vivas da época de ouro de Hollywood, Clark Gable (de E o Vento Levou) e Montgomery Clift (de Um Lugar ao Sol), Marilym pode, finalmente, viver uma personagem que se aproximava mais do que era na vida real, uma mulher doce, terna, mas com uma dimensão trágica que a impedia de ser feliz. Muitos chegaram a afirmar que Miller teria escrito Roslyn, seu papel no filme, sob medida pura ela. Ironicamente, Os Desajustados marcaria as últimas aparições de Monroe e Gable no cinema. Em 5 de agosto de 1962, Marilyn seria encontrada sem vida em sua casa em Los Angeles, vitima de uma parada cardíaca causada pela ingestão excessiva de barbitúricos. Morria a mulher e nascia o mito.

Com ela foram enterrados vários segredos, assunto até hoje de especulações. O mais apimentado deles é seu suposto caso amoroso com o presidente John Fitzgerald Kennedy, um reconhecido Casanova, para quem cantou, em maio de 1962, a versão mais lânguida e sensual de "Feliz Aniversário" de que se tem notícia. Neste mês em que a estrela completaria 80 anos, nada melhor do que rebobinar a fita do tempo e tentar imaginá-la entoando "Happy Birthday to You", com sua voz pequena e sussurrada, e desta vez para si mesma.

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