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"Eu nasci numa fazenda/ E fui criado na favela/ Namorei mulher casada/ Fui homem de moça donzela/ Treze anos de caserna/ Me deram boa lição/ Fui formado na Vila Isabel/ Fiz do samba profissão." Os versos autobiográficos abrem o documentário "Filosofia de Vida - O Pequeno Burguês", que retrata uma das figuras centrais do samba carioca, hoje com 72 anos. Logo se ouve a voz mansa de Martinho da Vila. Ele começa contando que nunca planejou ser artista, e que em vários momentos pensou em parar. O sucesso não permitiu.

Rodado nos últimos dois anos, o filme, que está saindo em DVD pela MZA Music e o Canal Brasil e conta com interessantes imagens de arquivo (de shows, de velhos carnavais), emocionou Martinho demais. Não só pela homenagem, mas pelo fato de todos os seus oito filhos (cinco dos seis adultos envolvidos com música) terem aparecido na tela, assim como as fotografias de sua mãe, dona Teresa, falecida. Além dos relatos da família, o documentário traz também depoimentos de admiradores, como o pagodeiro Dudu Nobre e o poeta Ferreira Gullar, e registros de viagens com sua banda.

Mais do que qualquer imagem, o que arrebata é o espírito de Martinho, traduzido na fala macia, nas músicas. Nas cenas no rio pescando (e depois devolvendo o peixe à água, para que siga seu caminho), nas passagens em Duas Barras, sua cidadezinha, no interior do Rio (onde tem sua fazenda e o Instituto Cultural Martinho da Vila, na casa em que nasceu, e que desenvolve ações sociais e culturais com a comunidade). "O que eu mais gosto mesmo é o caminho até Duas Barras", ele diz, na estrada. "A vida nossa é tão corrida que a gente passa pelas coisas sem ver. Eu sou aquele que procura ter olhos de ver."

Esse é o Martinho da Vila Isabel, a escola de samba da zona norte do Rio da qual é símbolo desde 1965, e à qual tanto se doou, artística e administrativamente, sem nada pedir em troca; da fama com "Canta Canta, Minha Gente", "Madalena do Jucu", "O Pequeno Burguês", "Devagar, Devagarinho", "Mulheres" e "Disritmia"; da incursão africana, que vem dos anos 80; da literatura (publicou dez livros e chegou a concorrer a uma vaga na Academia Brasileira de Letras este ano).

Curiosidades

O filme mostra passagens pouco conhecidas da vida de Martinho, para além da Vila Isabel e dos sucessos colecionados em mais de 40 discos gravados (o primeiro foi em 1969, e já tinha alguns dos versos que se tornariam os mais famosos de sua carreira, como os de "Casa de Bamba" e "Quem É do Mar Não Enjoa"). Histórias como a do menino de 10 anos que se encantou com ele em Angola, numa de suas muitas passagens pelo país, e o seguiu até o Rio, burlando a segurança de aeroportos pelo caminho. Sozinho. O episódio é dos anos 80.

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