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Nas favelas que formam o Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, a taxa de ocupação dos cinemas é a maior do país: 55% de média | Henry Milleo/Gazeta do Povo
Nas favelas que formam o Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, a taxa de ocupação dos cinemas é a maior do país: 55% de média| Foto: Henry Milleo/Gazeta do Povo

Existe uma nova mania entre os moradores do Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro: assistir a filmes. Ver produções como Rio, de Carlos Saldanha, e Assalto ao Banco Central, de Marcos Paulo, antes de estrear formalmente nos cinemas e com direito a presença de estrelas, também é recorrente na comunidade. Isso por conta da chegada, há nove meses, do CineCarioca Nova Brasília, inaugurado em dezembro do ano passado. É a primeira sala de uma rede de cinemas populares criada pela prefeitura do Rio, com gestão e programação da RioFilme, e ingressos a R$ 4. Os ambientes contam também com equipamentos de projeção de última geração, incluindo o sistema 3D.

Nos nove meses de funcionamento, foram vendidos 65 mil bilhetes e a taxa de ocupação das salas no período é a maior do país: 55%. No início de outubro, os moradores também tiveram a experiência de receber um evento importante, já que o Festival do Rio exibiu no local o longa-metragem francês L’Apollonide, os Amores da Casa de Tolerância, numa noite de sábado. Como de costume, a sessão ficou lotada e foi bem recebida pelo público, conta o presidente da RioFilme, Sérgio Sá Leitão. "Eles entraram no clima do festival. Houve um envolvimento grande e reações acaloradas, exatamente como em outras partes da cidade."

Durante o Festival do Rio, que acontece até a próxima terça-feira, os moradores tiveram e terão acesso a filmes da Argentina, Espanha, China, Estados Unidos e Noruega. "O objetivo é expandir o alcance do evento, tradicionalmente restrito à Zona Sul e ao Centro do Rio".

Prova de que o acesso é fundamental para a formação de plateia é o estudo que a empresa realizou antes de estruturar as salas de cinema no Alemão. Foi detectado que havia grande demanda não atendida por cinema na cidade, sobretudo em comunidades e nas classes D e E. De acordo com Leitão, existem três barreiras ao consumo de filmes: preço elevado, grande distância entre cinemas e residências e falta de informação. "Estamos fazendo salas de alta qualidade dentro das comunidades, com ingressos acessíveis e uma estratégia de comunicação adequada. Com isso, superamos as barreiras e saciamos uma demanda reprimida".

Além do chamariz gerado pela presença de atores e atrizes convidados nas pré-estreias (uma delas foi a americana Anne Hathaway, em março, para a divulgação de Rio), a estratégia do CineCarioca Nova Brasília, explica o presidente, é a combinação da programação, dividida entre filmes brasileiros e estrangeiros de grande apelo de público, quase sempre lançamentos. Outra preocupação é que a grade atenda públicos-alvos diferentes (crianças, jovens e adultos) e tenha gêneros distintos (drama, comédia, entre outros). São exibidos de dois a quatro filmes por semana, com quatro sessões de segunda a sexta-feira e cinco nos fins de semana.

Essa configuração da programação e o projeto de levar as salas para a comunidade alcança, na ponta, a formação de plateia, diz Leitão. "É, primeiramente, uma ação de inclusão social e cidadania cultural, pois amplia o grau de acesso ao cinema. Também é uma iniciativa de desenvolvimento de mercado, pois traz um novo contingente de consumidores". Finalmente, contribui para formação de público, já que há disponibilidade próxima. "Permitir que mais pessoas vejam filmes de diferentes gêneros, estilos e nacionalidades gera o hábito de ver e pensar cinema."

Debates

Já existem planos de expansão das salas para outras comunidades do Rio de Janeiro, afinal, o foco da RioFilme é que o acesso gere naturalmente interesse pelo cinema. Além disso, o projeto faz parte da ação Praças do Conhecimento, da prefeitura municipal, que prevê instalação de salas e módulos de inclusão digital em regiões onde existem projetos do PAC, do governo federal. No entanto, já foram realizados debates depois de sessões (um deles foi o argentino O Levante, que também integra o Festival do Rio)."Esta é a experiência de um festival. Fazer com que a comunidade viva o frenesi e a polêmica em torno de um filme, e tenha a experiência que outros cinéfilos têm", salienta Leitão.

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