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Sanatsu Uesawa: para ela, o nível dos alunos é baixo | Marcelo Elias/ Gazeta do Povo
Sanatsu Uesawa: para ela, o nível dos alunos é baixo| Foto: Marcelo Elias/ Gazeta do Povo

Pé de meia na oficina

Afonso Campos, 45 anos, conta os dias para que vire o ano e janeiro ressurja. O vendedor de livros, CDs e DVDs é fiel à Oficina de Música e monta sua barraquinha – na verdade, um conjunto de mesas em que mostra seus produtos – desde o primeiro evento, em 1983.

"O pessoal chega aqui carente de literatura especializada", conta ele, mostrando um livro raro que traz a partitura da Missa de Santa Cecília, composição sacra do brasileiro José Maurício Nunes Garcia (1767-1830). O material, editado pela Funarte, sai por R$ 65. Contando com a sorte, o vendedor fatura incríveis R$ 700 por dia.

Campos trabalha das 11 às 19 horas. Mineiro de Pouso Alegre, ele tem a música como paixão maior. Toca violão e gosta de ler e discutir sobre música com os eventuais alunos e professores.

"O ambiente aqui é muito bom. Há gente do país todo e trocamos muitas informações", conta ele, citando a apresentação de Edu Lobo no Teatro Positivo, uma de suas preferidas desta edição. Quando não está em Curitiba, o vendedor, com suas caixas de livros, circula por universidades de todo o Brasil e outros eventos.

Balanço

O Caderno G acompanhou apresentações da 29ª Oficina de Música e destaca pontos relevantes da edição:

Fry Street Quartet

O quarteto norte-americano voltou para a Oficina simplesmente porque se encantou com ela. Na apresentação deste ano, devolveu a receptividade em forma de boa música. A dedicação e o entrosamento dos instrumentistas eram perceptíveis à distância.

Terra Sonora

O grupo já foi maior e parece que agora, reduzido, tem de trabalhar mais para conseguir voltar a atenção do público para suas músicas étnicas. A interpretação da cantora Liane Guariente, no entanto, continua arrebatadora.

Orquestra do Algarve

A escolha de composições de Johannes Brahms e Béla Bartók contribuíram para a apresentação que a orquestra multinacional fez no Teatro Guaíra. Destaque para o solo de marimba, de Fernando Rocha, e a execução do tema da Pantera Cor de Rosa, já no segundo bis.

Edu Lobo

A apresentação morna criou uma distância estranha entre plateia e artista. O carioca é indiscutível, mas esqueceu letras e não parecia estar em sua melhor forma.

  • Letícia Sabatella: aluna em 2011
  • No QG da oficina, tudo é motivo para música: edição de 2011 contou com cerca de 1.300 alunos participantes.

Ótimos concertos dos grupos residentes, avanço na programação, com inclusão de bate-papos, exibição de filmes e eventos no litoral, aumento no número de alunos – sublinhando o fato de que isso não está necessariamente aliado à qualidade dos instrumentistas –, shows mornos de grandes nomes da MPB, como Edu Lobo e Zeca Baleiro, e boas surpresas no circuito off são o saldo da 29.ª Oficina de Música, que acabou neste sábado, com o concerto de Leny Andrade, Paquito d’Rivera e Trio Corrente, no Guairão.

"Foi uma ousadia trazer a Or­­questra do Algarve, por exemplo. Mas valeu a pena. Essa foi uma das melhores oficinas dos últimos tempos", comemorou Janete An­­drade, diretora geral do evento promovido pela Fundação Cultural de Curitiba.

A conversa com a reportagem aconteceu no pátio da Universidade Tecnológica do Paraná (UTFPR), QG da oficina, uma das maiores da América Latina em se tratando de música. As surpresas, disse ela, ficaram por conta dos bate-papos musicais mediados por Roberto Mugiatti e da mostra de cinema na Cinemateca – eventos que receberam um público considerável.

A certa altura da conversa, Janete teve de erguer a voz para driblar um solo de cavaquinho que um dos cerca de 1.300 alunos inscritos fazia, demoradamente.

Os alunos, aliás, parecem continuar a conhecer a oficina no boca-a-boca. Foi o caso da japonesa Sanatsu Uesawa, que ficou sabendo do evento quando conheceu uma amiga brasileira em Mannheim, cidadezinha da Alemanha. Sanatsu escolheu as oficinas de flauta e choro, mas, para ela, a expectativa foi maior do que a realidade.

"Muitos alunos não têm o nível adequado. Os professores são bons instrumentistas, mas não têm muita didática. Aí acabam nivelando a turma por baixo", reclama a musicista, que chegou em Curitiba no dia 14 e se encantou com a capivara que viu ao lado do Shopping Barigui. "Foi incrível. Aquele rio e aquele bicho no meio da cidade."

Uma das novidades da edição 2011 foi o curso de Composição Experimental em MPB, que contou com os professores Chico Me­­lo, em Curitiba, e Octávio Ca­­mar­­go, que simultaneamente le­­cio­­nava na Ocidental College, em Los Angeles. A espécie de teleconferência musical, conseguida com uma parceria entre a oficina e a instituição norte-americana, parece ter agradado à paraguaia Julia Peroni, também estreante no evento.

"Um amigo brasileiro comentou comigo ano passado e fiquei empolgada. Aí vim neste ano. É maravilhoso, a cidade ganha uma atmosfera mágica", diz a cantora, que em Assunção integra o grupo Sembrador. Tocar para uma plateia formada por músicos ou estudantes de música e ouvir manifestações musicais nas ruas da cidade foi o que mais chamou a atenção de Julia.

Estrela na oficina

No intervalo do curso de Composição Experimental em MPB, era a atriz Letícia Sabatella quem saia de fininho, descendo a rampa rapidamente. "Conheço o trabalho do Chico Melo há muito tempo. A oficina está sendo perfeita", contou ela, que já participou de um grupo vocal como cantora. Mineira de nascimento, Letícia tem forte ligação com Curitiba, já que aqui cresceu e tem parte da família mo­­rando na cidade. "É muito im­­portante para mim estar de volta. Tenho um carinho imenso por Curitiba e o diálogo com a música que a oficina proporciona é incrível. Isso é muito forte para mim."

Nem bem acabou e a Oficina de Música já planeja a sua edição de número 30. "Ela será especial em 2012", disse Janete Andrade, sem confirmar atrações, mas revelando um sonho: trazer a Curitiba a Orquestra Filarmônica de Berlim.

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