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Opinião

Paulo Camargo, editor do Caderno G

Filme segue tendência for export

Pode até ser que Salve Geral tenha méritos cinematográficos, mas a escolha do filme para representar o Brasil no Oscar 2010 talvez seja um equívoco. Trata-se de mais um longa-metragem brasileiro que fala de crime organizado, violência urbana, sistema prisional, jovens infratores e injustiça social, ou seja, clichês da realidade contemporânea brasileira que costumam povoar títulos nacionais que alcançam ressonância internacional.

Em 2008, a comissão do MinC escolheu o apenas mediano Última Parada 174, longa de Bruno Barreto que sequer figurou nas listas de críticos americanos de possíveis indicados ao prêmio de melhor produção estrangeira. Neste ano, voltaram a optar por uma produção com o "perfil Cidade de Deus/Tropa de Elite/Carandiru". O cinema nacional não se reduz a isso.

É uma paisagem de cortar o fôlego, espetacular – a entrevista com Sérgio Rezende realiza-se no 26.º andar de um hotel com vista para a Praia de Ipanema. O repórter brinca – "um lugar tão bonito e, em vez de uma comédia bem romântica, você vai a São Paulo para fazer Salve Geral (assista ao trailer e veja as fotos), um filme sobre o dia em que a cidade parou, em maio de 2006". Rezende sorri por trás dos óculos escuros. "É um defeito nosso" (ele engloba uma parcela significativa dos colegas cineastas brasileiros). "A gente só quer fazer filmes mostrando a maldita realidade."

Quando se encontrou com o repórter, Rezende, diretor de filmes biográficos como Lamarca e Zu­­zu Angel, mas também dos ficcionais Quase Nada e Onde Anda Você, havia sido recém-informado de que seu novo filme tinha sido selecionado como representante do Brasil para pleitear uma vaga no próximo Oscar. Depois de Cidade de Deuse Última Parada 174 , outro filme violento dará a cara do Brasil no Oscar. A entrevista começa por aí. "Não sou botafoguense para já entrar em campo achando que o time vai perder. O melhor dessa indicação é que chega em boa hora, a duas semanas do lançamento, no dia 2 de outubro", diz Rezende. O cineasta conta que Salve Geral foi feito de maneira muito reservada. "Filmamos em Paulínia, Cam­­pinas, São Paulo, Rio e Foz do Igua­­çu, set fechado para a im­­pren­­sa. Não é muita gente que sabe da existência do filme. A indicação para o Oscar dá uma exposição bacana que ajudará no lançamento. E por que o set fechado? Questões de segurança? Não bem de segurança, mas o próprio tamanho do filme e a dificuldade de filmar em presídios, fazer cenas de ação nas ruas", conta o diretor.

À exceção de Andréa Beltrão, que vive o papel de uma mãe cujo filho é preso por homicídio à época da ação do PCC que parou São Paulo, o filme não tem figuras muito conhecidas no elenco.

Embora existam personagens negativos no lado do crime de Rezende, as autoridades são retratadas como muito piores. Podem acusar o filme de simpatia pelo PCC. O que Rezende pensa disso? "Sempre escrevo o roteiro dos meus filmes, mas nunca sozinho. No caso de Salve Geral, escolhi a Patricia Andrade por ser jornalista e mulher. Desde que desenvolvi o conceito do filme, eu o via pelo ângulo das mulheres. Patrícia me ajudou muito, e como jornalista, fez um belo trabalho de investigação. A última revisão do roteiro foi minha, mas a investigação já estava feita, sem negociação. O PCC e o dia em que São Paulo parou são panos de fundo", responde.

Mas, embora diga que não quis fazer um filme pró-PCC, Salve Geral estreia dia 2 e o julgamento dos líderes da organização começa dia 1.º. "O julgamento? Você não vai querer dizer que a Justiça brasileira será manipulada pela estreia do meu filme. Não estou com essa bola toda e nem creio que o cinema seja tão influente."

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Interatividade

Será que filmes como Salve Geral são tudo o que o cinema brasileiro tem a dizer sobre o país ao mundo?

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