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Sandra Werneck embarcou para Berlim, onde exibirá pela primeira vez seu novo documentário "Meninas" em um dos festivais de cinema mais importantes do mundo. Mas a diretora do grande sucesso das telas "Cazuza" já está de olho na produção de seu próximo longa de ficção.

Assim que voltar ao Brasil, ela começa a fazer testes para a escolha das protagonistas de "Sexo, crochê e bicicleta", uma espécie de continuação de "Meninas"... ( saiba mais sobre este filme ).

Como fez na escolha do ator que viveria Cazuza no filme sobre o roqueiro, Sandra quer cara nova para o longa baseado no livro "Meninas da esquina", de Eliane Trindade.

- A preferência é por caras desconhecidas do público. Quem sabe tenho a sorte de encontrar um Daniel Oliveira? - aposta Sandra, lembrando do intérprete de Cazuza no filme que deve, em parte, seu sucesso ao ator.

O documentário que será exibido na mostra Panorama, do Festival de Berlim ( saiba mais sobre o festival ), ao lado de outro brasileiro, "Casa de areia", de Andrucha Waddington, trata da gravidez na adolescência. Sandra Werneck diz que não quis fazer um tratado sociológico e, sim, mostrar a realidade de meninas despreparadas para ter um filho.

Para a diretora, o filme "Meninas" é o começo de um "trágico círculo vicioso", que desencadeia violência, miséria e até casos chocantes como o de Letícia, bebê de dois meses encontrado dentro de um saco plástico na Lagoa da Pampulha depois de ser abandonado pela mãe.

- Vejo essas e outras histórias e penso como meu filme é o começo de tudo - diz Sandra, referindo-se às constantes histórias no noticiário de crianças abandonadas pelas mães, sejam adolescentes ou não. - As garotas são despreparadas para ter filho. Vêem na gravidez e maternidade a realização de um sonho ligado a auto-estima perante à família e à comunidade. Acaba que quando o sonho se torna real elas não estão maduras.

Sandra acompanhou a rotina durante um ano e meio de três adolescentes, entre 10 e 16 anos. Todas de classe baixa do Rio de Janeiro, já que a proposta inicial de mostrar um painel de garotas de vários níveis sociais não deu certo.

- As meninas da classe média ou não queriam aparecer, ou a família não falava sobre o assunto ou já tinham resolvido a questão com aborto - conta Sandra.

Essa não é a primeira vez que Sandra Werneck aborda causas sociais em seus documentários. Ela já filmara - antes de estrear em longas de ficção com "O pequeno dicionário amoroso" - "Damas da noite", em 1987, sobre prostituição infantil, e "A guerra dos meninos", em 1991, que mostra o trabalho de crianças no tráfico de drogas e outras atividades criminosas.

- Quis entender como começa tudo isso. É falta de informação? Falta de preservativos? Também, mas é falta de perspectiva que essas meninas têm para realizarem seus sonhos. Antes de tudo meu filme é sobre sonhos. As de classe média vão estudar, querem ficar com os meninos. Essas não. Elas acabam indo para um caminho mais fácil de assegurar o afeto do companheiro e o respeito na comunidade.

A idéia de filmar "Meninas" surgiu no meio de "Cazuza" e pouco depois da posse do presidente Lula. Dois meses após acabar de rodar o longa, Sandra estava debruçada na pré-produção do documentário.

- Lula tinha acaba de ser eleito e me deu vontade de voltar a documentários. Imaginava que viesse um oásis de trabalhos sociais... Nesse ponto me decepcionei um pouco. Precisamos de projetos de educação e não só assistencialismo - diz Sandra.

Assumindo não conseguir "curtir a gestação" de seus filmes, Sandra está mergulhada no projeto de "Sexo, crochê e bicicleta". A Columbia, a mesma distribuidora de "Cazuza" já se demonstrou interessada no longa, que deverá ter atores consagrados os papéis principais masculinos.

Já "Meninas" será exibido no Festival de Berlim no próximo dia 14 e estréia no Brasil em maio com a distribuição da Downtown Filmes. Antes, o filme vai circular por várias ONGs e escolas servindo de instrumento de debates sobre gravidez na adolescência.

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