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| Foto: Ludovic Carème/Divulgação

CD

L’Aventura

Sébastien Tellier. Record Makers. Importado. US$ 9,99 (iTunes). French pop.

Opinião

Uma elegante e aveludada combinação

Agência O Globo

O olhar estrangeiro em direção a um Brasil "exótico" já produziu obras constrangedoras, repletas de clichês, mas L’Aventura é uma exuberante exceção à regra (apesar da capa esquisitona).

Sem apelar para modelos batidos, como a bossa nova ou o samba, monsieur Tellier cria uma atmosfera de sonhos, alimentada por suas lembranças infantis de uma terra distante e colorida, e por sonoridades que passam pelo progressivo do Pink Floyd, pela sensualidade do Air e pela grandiosidade orquestral de Arthur Verocai, numa elegante e aveludada combinação.

O inglês vem misturado a escorregões no francês na fala do multi-instrumentista Sébastien Tellier, 39 anos. Mesmo ao telefone, são perceptíveis o entusiasmo e o esforço para explicar L’Aventura, o seu sexto álbum solo, que acaba de ser lançado no exterior. "O Brasil é um lugar muito exótico para um francês", diz ele, como que para introduzir a conversa sobre esse trabalho em que tomou o país de Tom Jobim e Jorge Ben Jor como um tipo muito peculiar de inspiração.

"Quando eu era criança, a música brasileira era muito popular aqui. E os músicos franceses tentavam tocá-la do seu jeito, do melhor jeito que podiam, como os italianos. Ficávamos sonhando com o Brasil", conta Tellier, que, após ser músico de apoio da dupla parisense Air, fez sucesso em 2005 com a canção "La Ritournelle" e, três anos depois, representou a França no festival Eurovision, com "Divine".

L’Aventura é, basicamente, um disco em que Tellier tenta reinventar sua infância evocando lembranças do fascínio provocado pelo Brasil (país que só veio a conhecer em 2009, quando se apresentou em São Paulo). E não só o fascínio musical. A luz do sol, o gosto das frutas, as cenas de dança na rua, tudo isso mexia com a cabeça do garoto, que, já adulto, ganharia algum renome na cena do pop alternativo depois que a cineasta Sofia Coppola incluiu canções suas em seus filmes.

O disco foi gravado em parte em Paris, em parte no Rio de Janeiro, onde Tellier teve a colaboração do maestro e arranjador Arthur Verocai. No Brasil, aproveitou também para fazer fotos, gravar clipes e experimentar todos os sucos de fruta e pratos típicos que conseguiu. Em suma: o francês se jogou.

"Para mim, o Brasil é isso. Seja na música, na dança ou no futebol, sinto que os brasileiros gostam de se arriscar, de viver a vida como ela deve ser vivida", analisa. "Não sou um especialista. Para mim, a música brasileira é um estilo, um lugar. O violão abriu um novo mundo para mim. De certa forma, o que estou tentando fazer é uma música completamente livre."

"Truques"

Os arranjos de cordas "super soft" que Verocai fez nos anos 1970 para artistas como Marcos Valle, foram fundamentais para que Tellier procurasse o maestro. "Queria aprender todos os truques que fazem a música brasileira soar tão bem. Aquela nota que pode até não estar na tonalidade, mas que tem um propósito", diz o francês.

Além de escrever os arranjos de cordas e de fazer alguns ajustes nas partes das flautas, Verocai arregimentou os músicos, que gravaram para o disco no estúdio Companhia dos Técnicos, em Copacabana. Daniel Garcia (flauta e sax), Dirceu Leite (flauta), Robertinho Silva (bateria), Jurema de Candia e Daíra Saboia (vocais) se juntaram a uma pequena orquestra de oito violinos, duas violas e dois cellos.

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