"Calisser nunca me falou da bebida, nunca me disse que a partir daquele momento podia e devia bebê-la. Naquele dia deixou a garrafa como por descuido, e depois apareceu outra no meu quarto. Na época eu chamava a garrafinha de "Beba-me", recordando as aventuras de Alice; só mais tarde descobri que os antiquários a chamavam de elixir."
Trecho de Os Antiquários, de Pablo De Santis.
O argentino Pablo De Santis bebeu da fonte do realismo mágico, marcante na literatura latino-americana das décadas de 60 e 70, e de Drácula, de Bram Stoker, para compor o ótimo Os Antiquários. A mistura de acontecimentos irreais com uma base histórica sobre a Buenos Aires da década de 50 compõe a narrativa bem estruturada de De Santis.
O escritor constrói os personagens e os ambientes de forma competente, mas não deixa de surfar na onda vampiresca, que tomou conta da literatura mundial nos últimos anos e desencadeou sucessos como Crepúsculo, de Stephenie Meyer, e suas cópias. A composição do texto prende o leitor e deixa uma dúvida: seriam os antiquários seres que sobrevivem à passagem dos anos por guardar relíquias antigas?
Santiago Lebrón, o personagem que narra a própria história, conta como chegou em Buenos Aires aos 20 anos para trabalhar com um tio no conserto de máquinas de escrever. Vira jornalista e se vê envolvido numa trama política, sendo cooptado para trabalhar para o governo argentino como informante do Ministério do Oculto. Reviravoltas, perseguições e Lebrón é salvo pelos antiquários, virando um deles.
Aí De Santis mostra a influência da literatura fantástica de Gabriel García Marquez e Julio Cortázar na narrativa. Usa uma história inverossímil, mas que seria até possível nas repúblicas latinas de meados do século passado gastar dinheiro público para espionar supostos dons especiais de algumas pessoas , para criticar governantes. A trama se passa durante o governo de Juan Domingo Perón, presidente argentino (1946-1955) que marcou e influencia até hoje a política daquele país.
Em nenhum momento De Santis cita Perón e o golpe que o derrubou do cargo é contado sem muitos detalhes no livro. Para quem conhece a história da Argentina, seus traumas, vai perceber a possível intenção do autor: falar de forma genérica sobre o passado que, como ele, assombra o país ainda hoje. Afinal, vemos a presidente Cristina Kirchner usar de expedientes muito parecidos com os de velhos caudilhos argentinos.
Vampirismo
A influência de Bram Stoker é perceptível em Os Antiquários pelo uso das características que criaram o mito do vampiro: a necessidade de se alimentar de sangue e a intolerância à luz do sol. Um romance impossível entre Santiago e Luisa filha do Van Helsing portenho, professor Balacco, que persegue os antiquários também está lá, mas com um desfecho diferente ao de Drácula e Mina, no original de Stoker. GGG
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