Pode soar pejorativo dizer que um espetáculo traz uma “mensagem”, mas um dos motivadores por trás de Selfie é exatamente isso: dar um recado para você, ao vivo, sem mediações. “O público vai em busca de comédia e sai do teatro com uma reflexão”, contou à Gazeta do Povo o diretor e também ator Marcos Caruso.
Estão em cena Mateus Solano e Miguel Thiré, com texto de Daniela Ocampo pensado para provocar questionamento sobre os excessos trazidos pelo uso de dispositivos eletrônicos portáteis.
A ideia partiu do produtor Carlos Grun e da dupla de atores, que convidou Caruso para a direção – ele brinca com o fato de ter aceitado uma situação inusitada: dirigir uma peça cujo texto ainda não existia. “Topei na hora, porque combinamos que todos palpitariam”, conta.
Durante três meses, o grupo maturou o plano por meio de improvisações e da construção de personagens. O resultado ficou semelhante a um show de humor – mas com uma “função” para além de distrair. Em tempo: Daniela é roteirista do programa Tá no Ar: a TV na TV, da Rede Globo, e dirigiu comédias bem recebidas pelo público carioca.
O protagonista é Claudio (Solano), rapaz que leva tão a sério a hiperconexão atual que decide criar um dispositivo único para reunir todos os seus dados.
O problema é que ele derruba café nessa panaceia eletrônica e perde tudo que estava armazenado, descobrindo em seguida não ter mais memória alguma, já que nunca mais havia precisado registrar nada no próprio cérebro.
Para reconstituir a vida, ele chama à cena 11 personagens (todos feitos por Thiré), e juntos eles dão corpo a causos cômicos.
Como cenário, quase nada: dois banquinhos. Os eventos que os dois atores relembram foram inspirados na vida real. “A Dani tem um profundo conhecimento do mundo da conectividade”, elogia Caruso.
Para ele, a hiperconexão, que já gerou ficções interessantes como o filme Ela e a novela Geração Brasil, pode levar a um lugar de exceção em que se perde o humano: deixa-se de lado a troca de sentimentos e até mesmo o hábito de ouvir o outro.
“O humor tem uma função. Nesse caso, com uma dose imensa de reflexão.”



