• Carregando...

Enquanto a maioria maciça das bandas de punk rock/hardcore das grandes gravadoras nacionais entregou-se de corpo e alma às canções sentimentais de auto-ajuda que tanto fazem a alegria dos seguidores do modismo emo, o quinteto capixaba Dead Fish puxa para si a tarefa de oferecer algo a mais na mesmice do cenário pop/rock brasileiro sem escapar do gênero musical que vem calcando seus 15 anos de trajetória. Prova disso é o recém-lançado Um Homem Só, sexto álbum da banda e segundo pela independente Deckdisc.

Após o irregular Zero e Um (2004) – disco considerado pela banda como um trabalho de transição, por marcar sua passagem do cenário underground ao elenco de uma gravadora de grande porte – e com uma nova formação mais entrosada e solidificada, Rodrigo (vocal), Nô (bateria), Alyand (baixo) e os guitarristas Hóspede e Phillipe dão mostras de amadurecimento em Um Homem Só, disco pensado nos mínimos detalhes. "Tivemos pouco tempo para fazer Zero e Um. A banda havia acabado de passar por mudanças de formação. Entramos no estúdio e gravamos nossas primeiras idéias. Desta vez, pudemos pensar mais na sonoridade e nas letras. Optamos por uma afinação mais grave, os vocais estão mais nítidos e as músicas são todas interligadas", explica o baterista Nô, em entrevista ao Caderno G.

E é justamente a temática das composições que destaca o Dead Fish de seus pares. Apesar de um tanto indiretas e, por vezes, abstratas, as canções escritas por Rodrigo e seus companheiros de banda fazem críticas à política e à falta de postura e personalidade. "Todos os integrantes da banda sempre gostaram de bandas de conteúdo político. Acho que falta um contraponto no rock nacional. Enquanto todas as bandas estão falando de amor e relacionamentos frustrados, a gente quer denunciar, abrir o olho das pessoas para o que está acontecendo no país e no mundo", conta o baterista.

Sob bases rápidas e mais pesadas, graças à afinação um tom abaixo do padrão, "Didático" questiona a passividade da população diante dos mandos e desmandos de um governo que não a coloca em primeiro plano ("Você precisa acreditar/Pois eles sabem o que é melhor/Aperte o cinto, eles disseram/Todos devem cooperar/Novas taxas velhos hábitos/Baixa estima e pouca informação"). Tema semelhante aparece um "Eleito por Ninguém", que incita a tomada de postura diante das próprias decisões políticas ("Pare de apontar, se este mesmo é você/Atrás de desculpas pra que possa se omitir/É simples e frustrante concordar/E a maioria diz aceitar".

Mesmo assim, o quinteto capixaba não escapa do rótulo de emo, devido à clara influência sonora (e não temática) do gênero em canções como "Obrigação" e "Exílio", fato que não parece preocupar os integrantes. "Sempre fomos uma banda de muita personalidade. Nunca nos importamos muito para o que falavam da gente e nunca nos deixamos atingir por rótulos. Acho que tentar se encaixar em qualquer tipo de modismo é prejudicial à identidade de uma banda. Por isso, quando falam que somos emo, entra por um ouvido e sai pelo outro", analisa. GGG1/2

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]