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O cinema independente domina a lista de indicações do Oscar 2006, mas as produções mais tradicionais não foram esquecidas pela Academia. Os filmes que parecem ter estampado em cada pedaço de película o selo "feito para o Oscar" estão representadas este ano pelo melodramático Memórias de uma Gueixa e pela cinebiografia Johnny e June, que tem estréia nacional hoje.

Dirigido por James Mangold (Garota, Interrompida), a produção conta parte da história de uma lenda da música americana: o cantor Johnny Cash, ídolo de astros como Bob Dylan e Bono (U2). Joaquin Phoenix e Reese Whiterspoon encabeçam o elenco, recebendo indicações à estatueta dourada nas categorias principais de atuação – o filme tem ainda mais três nominações técnicas.

A trama retrata os primeiros anos da carreira de Cash (Phoenix) e sua paixão pela cantora June Carter (Whiterspoon), com quem viveu um casamento de mais de 30 anos – encerrado pela morte dela, em 2003; o cantor a seguiria apenas quatro meses depois.

Ao contrário do que diz o título original, Walk the Line – nome de uma das canções de Cash, que pode ser traduzido como ultrapassando os limites –, o filme segue fielmente a cartilha das cinebiografias e dos filmes produzidos com intenção de ganhar alguns Oscars. O roteiro é bem previsível. O protagonista tem um sonho, mas enfrentará muitos problemas para conseguir alcançá-lo – familiares (perda de um ente querido, briga com os pais que lhe causarão profundas marcas) e profissionais (ninguém acredita nele, que vence pelos próprios méritos). Chegando ao topo, vem a dificuldade em se manter; o herói cai, mas se ergue para a redenção final. O espectador já viu essa trama com pequenas diferenças em Ray (sobre o músico Ray Charles) no ano passado.

O filme é resultado de uma escolha. No caso, Mangold optou por focar no amor de Johnny e June – o cantor a admirava desde criança e a pediu em casamento dezenas de vezes até ser aceito. Mas pouco na história mostra para o grande público a importância de Johnny Cash na música americana e mundial. As turnês que o cantor fez ao lado de Elvis Presley, Carl Perkins, Roy Orbison e Jerry Lee Lewis – os maiores nomes do rock nos primórdios dos anos 50 – são apenas apêndices na história romântica do casal.

O Homem de Preto (como era conhecido Cash, por vestir apenas roupas negras) era transgressor e influenciou muitos artistas com seu trabalho, mas esse fato fica quase à margem da trama – é lembrado apenas no concerto que fez na prisão de Folsom, que rendeu um disco de muito sucesso.

O trunfo de Johnny e June fica sendo mesmo o casal de atores e a música de Cash. Tanto Phoenix como Whiterspoon encararam o microfone e interpretam as canções do filme com suas próprias vozes. O ator tem uma atuação mais destacada, pois tem mais campo para ousar, já que seu personagem é o que passa pelas grandes transformações. À atriz cabe um papel mais convencional, da companheira certinha que vai concertar a vida errática do apaixonado parceiro – Reese se sai bem, mas não apresenta nada de espetacular para ser a grande favorita ao Oscar de atriz. GGG

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