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O mundo está ainda mais bélico neste início de século – seguindo perigosamente o caminho do anterior, marcado por duas guerras mundiais. Invasão do Iraque pelos EUA e Inglaterra, a eterna briga entre palestinos e judeus, os conflitos no Haiti e em alguns países da África, o Irã podendo produzir a bomba atômica, a Coréia do Norte, que já tem a sua. Tudo para a felicidade de uma das maiores indústrias do mundo: a de armamentos. A questão bélica é tema de O Senhor das Armas (Lord of War), filme de Andrew Niccol, estrelado por Nicolas Cage, que chega este mês às locadoras.

A primeira informação da produção é alarmante: existem cerca de 500 milhões de armas no mundo, uma para cada 12 pessoas. "O importante é descobrir como armar as outras 11", diz Yuri Orlov, personagem de Cage, um traficante de armas que narra a história em tom de confissão, mas sem exibir nenhum tipo de culpa pelo trabalho que faz.

Ucraniano de nascimento, Yuri migrou para os EUA nos anos 80 e, juntamente com o irmão Vitoly (Jared Leto), descobriu que tinha talento de negociador para o tráfico armamentício, a área mais perigosa do mundo dos negócios. Ele viaja pelo mundo para encontrar presidentes, governantes, terroristas, qualquer um que esteja interessado em comprar os modernos equipamentos que vende. Yuri tem como principais oponentes o concorrente Simeon Weisz (Ian Holm) e o agente da Interpol Jack Valentine (Ethan Hawke), estando sempre um passo à frente deles.

O filme apresenta uma grande quantidade de informações sobre o número de armas no mundo, mostrando que Niccol pesquisou muito o assunto. Ressalta que as armas são uma fonte de muita riqueza para alguns dos países do Primeiro Mundo – armamentos que alimentam as guerras nos países pobres e que depois ainda acabam sendo apontadas para seus fabricantes, quando estes deixam de ser aliados (é só lembrar que Saddam Hussein e Osama bin Laden foram um dia muito próximos dos EUA).

Mas o diretor – responsável pelos roteiros do ótimo O Show de Truman (com Jim Carrey) e pela direção e roteiro do interessante Gattaca – Experiência Genética (com Hawke e Uma Thurman) e do fraco S1m0ne (com Al Pacino) – não acha um foco certo para a história. Preocupa-se mais com a estilização das cenas do quem em debater o assunto que levanta.

O que chama a atenção no filme é a interpretação de Cage, que desde Adaptação (pelo qual recebeu uma nova indicação ao Oscar, depois de ter vencido com Despedida em Las Vegas) vem se especializando em fazer – e bem – papéis de personagens angustiados ou atormentados: em Adaptação, ele dá vida a dois gêmeos roteristas, um deles em plena crise criativa; em Os Vigaristas é um ladrão hipocondríaco e cheio de tiques; em O Sol de Cada Manhã, ainda em cartaz nos cinemas, é o homem do canal do tempo que tem sérios problems familiares.

O ator americano conduz tão perfeitamente Yuri Orlov que o espectador acaba simpatizando com quem deveria ser um verdadeiro vilão. O traficante tem uma vida pessoal atribulada, pois precisa esconder o que faz da bela esposa (Bridget Moynahan) e também deve vigiar de perto o irmão mais novo, que tem verdadeira atração por confusões – o que pode significar morte fácil nos negócios em que atuam.

É interessante notar que o filme estreou nos cinemas no Brasil em meio ao período do referendo sobre a proibição de armas no país. Com as informações que possui, poderia até ter sido usado nos debates sobre o tema, mostrando que a discussão é muito mais ampla do que se permitir ou não que o cidadão comum tenha uma arma à mão. Mas pouco foi comentado sobre a fita na época. GGG

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