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O cinema versus a televisão

Daniel Filho conversou com a reportagem na semana passada, por telefone, de dentro de uma van, indo de São Paulo para o Rio de Janeiro. Como a maioria das pessoas, decidiu evitar os aeroportos.

No meio do caminho, não deu para evitar e a entrevista entrou no tema "cinema versus televisão".

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"Sou um diretor sem personalidade", diz Daniel Filho, em entrevista ao Caderno G. Pouco depois, ele emenda: "Tenho a personalidade que a história manda eu ter. O diretor não deve aparecer. Adoro filmes em que o diretor é invisível". Perguntado sobre os nomes que o influenciam, responde que "sou influenciado por um cinema bem narrado".

Com fama estabelecida na televisão, o diretor, produtor, ator e "homem de circo" (palavras suas), aos 69 anos de idade e 55 de carreira, pode não ter características próprias quando faz cinema – numa autocrítica severa –, mas tem uma qualidade inegável. A sintonia que mantém com o público é, no mínimo, impressionante.

É por causa dela que Primo Basílio, longa-metragem baseado no romance homônimo de Eça de Queiroz, entra em cartaz amanhã no país como uma espécie de candidato a arrasa-quarteirão brasileiro. De alguma forma, Daniel Filho sabe exatamente o que oferecer à maioria dos freqüentadores de cinema do país.

Para se ter uma idéia, seu filme anterior, a comédia Se Eu Fosse Você, com Tony Ramos e Glória Pires, terminou o ano passado como uma das maiores bilheterias – considerando filmes nacionais e estrangeiros –, atraindo mais de 3,6 milhões de espectadores. Não à toa, deve ganhar uma continuação, de novo sob a batuta de Daniel Filho – que trabalha ainda em uma biografia do médium Chico Xavier.

O diretor já havia adaptado Primo Basílio no final dos anos 80, na forma de uma minissérie para a televisão. Nela, Marcos Paulo era Basílio de Brito, Giulia Gam encarnou a prima, Luísa, casada com Jorge Carvalho (Tony Ramos). Juliana, a empregada maquiavélica, foi interpretada por Marília Pêra.

Para Daniel Filho, o filme é "inteiramente diferente da minissérie". Ele conta que decidiu voltar à obra de Eça de Queiroz porque queria fazer um bom melodrama, com consistência e bons personagens. Cogitou adaptar algo de Nelson Rodrigues. "Mas por que não Eça, que já o Nelson Rodrigues bebe tanto na obra do português? Achei que a junção dos dois dava uma nova dimensão. A de um ‘Eça rodrigueano’", explica.

Ele chegou a estudar outros livros de Eça, mas, em relação ao Primo Basílio, diz se sentir mais à vontade porque conhece "cada gesto, cada motivo, cada ação". Na versão para o cinema, Débora Falabella faz Luísa, Fábio Assunção defende o papel-título, enquanto Reynaldo Gianecchini é o marido, Jorge, e Glória Pires, a empregada Juliana.

Euclydes Marinho, Rafael Dragaud e o próprio Daniel Filho adaptaram o romance, transportando a história de Portugal do século 19 para o Brasil dos anos 50, em plena construção de Brasília, durante o governo Juscelino Kubitschek.

Na época, a revolução feminista estava para acontecer, não havia pílulas anticoncepcionais e o casamento era uma instituição sagrada. Nesse contexto, Luísa vive o dilema de desejar viver a paixão que sente por Basílio, embora tenha um casamento feliz com Jorge.

Hoje, é possível que esse tipo de drama não faça muito sentido. As mulheres são mais independentes do que eram meio século atrás e o casamento deixou de ter a aura de "intocável" e "indissociável". Porém, segundo Daniel Filho, o que o interessa para ele (e para o público) é que os sentimentos abordados por Eça e pelo filme são "eternos". "É o que torna o livro obrigatório", acredita.

Para ele, não importa o quanto as mulheres são revolucionárias ou independentes, elas sempre vão sonhar com um "príncipe encantado" e, secretamente, desejar ser princesas. Isso explicaria o fascínio exercido pela Diana (1961 – 1997), primeira mulher do príncipe Charles, morta em um acidente em Paris.

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