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Sozinho em cena, Guilherme Leme “contracena” com o Sol | Divulgação
Sozinho em cena, Guilherme Leme “contracena” com o Sol| Foto: Divulgação

Antes de Samuel Beckett e Eugene Ionesco, outra du­­­pla de escritores havia já constatado o absurdo da existência: Jean-Paul Sartre e Albert Camus. A diferença é que, para os dois existencialistas, a constatação se bastava como assunto de seus escritos. Só com Beckett e Ionesco o tema se precipitou na forma, originando o chamado teatro do absurdo e seus diálogos esvaziados de sentido, que ainda causam estranhamento.

Em O Estrangeiro, um dos principais romances de Camus (1913-1960), o protagonista se dá conta dessa dimensão absurda da vida depois de passar por acontecimentos, em última instância, comuns. Morre a mãe, mata um homem, é julgado.

Meursault segue modestamente a correnteza da vida e não encontra amparo nem quando se vê livre: na liberdade está a angústia maior do ser humano (a ela estamos condenados, dizia Sartre). Guilherme Leme, como intér­­pre­­te, assume-a, junto ao desamparo e à culpa que impregnam o monólogo O Estrangeiro, em breve temporada no Teatro da Caixa, de sexta (16) a domingo (18).

A peça já esteve em cartaz em Curitiba antes, na programação da Mostra Contemporânea do Festi­val de Curitiba, em 2009. Trata-se da versão criada pelo dinamarquês Morten Kirkskov, um amigo de Leme. O ator e outra amiga, a atriz Vera Holtz, assistiram ao espetáculo naquele país e se decidiram por montá-lo no Brasil, experimentando ter Vera incubida da função de diretora pela primeira vez em sua carreira. Por dois anos maturaram o projeto, até enfim levá-lo pronto à cena.

Vera, tímida em se dizer diretora – o que considera "quase uma entidade" – se concentrou na direção do intérprete, deixando a Leme as preocupações com a encenação, motivo pelo qual assinam juntos o espetáculo. Outro profissional essencial no processo de montagem foi o iluminador Maneco Quinderé, a quem coube dar forma ao Sol, figura determinante do livro e com a qual Meursault, o personagem de Leme, em alguma medida contracena.

Diz-se que foi por causa da publicação do romance O Estran­­geiro que Camus e Sartre se conheceram, em 1942. O companheiro de Simone de Beauvoir havia elogiado a obra e queria saber quem era seu autor.

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