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Pode-se dizer que o paranaense de Ponta Grossa radicado em São Paulo Sérgio Bianchi é hoje um dos diretores mais polêmicos do país. Seus filmes têm como marca registrada uma aguda crítica ao sistema vigente como, por exemplo, em Cronicamente Inviável, de 1999, em que trata do caos social brasileiro, e Quanto Vale ou É Por Quilo, de 2004, em que denuncia a solidariedade de fachada das ONGs e mostra que a situação dos negros no país pouco mudou após a abolição da escravatura.

Em seu novo filme, Os Inquilinos – Os Incomodados Que Se Mudem, exibido na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, o "grande provocador" volta a cutucar o imobilismo da sociedade brasileira diante de suas mazelas ao transpor para as telas, em roteiro assinado em coautoria com Beatriz Bracher, um conto de Vagner Giovani Ferrer, escrito como tarefa de classe do Curso de Educação de Jovens e Adul­­tos (EJA), em 2002.

A história segue Valter (Ma­­rat Descartes, prêmio Shell de melhor ator em 2006 pela peça Primeiro Amor), um pai de família que trabalha de dia, estuda à noite e cria com a esposa (Ana Carbatti) dois filhos pequenos em um bairro próximo a uma favela paulistana. A tranquilidade da família é interrompida com a mudança para a casa ao lado de três jo­­vens barulhentos e agressivos, tornando Valter paranoico e amedrontado.

Bianchi vai além de "pôr o dedo na ferida", sobrepondo o discurso exterior à narrativa, como acontece em seus últimos filmes, ao construir uma realidade ficcional que, por si só, produz mal-estar e reflexão. Há pouquíssimos momentos em que o filme se torna didático, como quando a professora de Valter, vivida por Cássia Kiss, discute questões de classe com os alunos, entre eles, Caio Blat, em uma conversa silenciada pela explosão de um ônibus pelo "partido", facção criminosa da capital paulista. Ou quando explicita a erotização infantil, apontando-a como estímulo à pedofilia.

Desesperança

Na maior parte do tempo, entretanto, o modo de filmar não faz julgamentos e deixa que os personagens resolvam as situações conforme o nível de compreensão que têm sobre elas.

O diretor vai criando um clima tenso, de suspense, em uma história que dialoga, em alguma medida, com Gran Torino, de Clint Eastwood. Mas, enquanto Valter se afunda cada vez mais em um imobilismo gerado pelo medo de represálias à sua família, Kowalski, personagem do diretor norte-americano, age para preservar seus valores ameaçados pelos vizinhos estrangeiros.

Bianchi critica, com brilhantismo e, infelizmente, com certa desesperança, o apartheid e a opressão vivenciados hoje no Brasil.

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