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Sessões mediúnicas de cinema

Contestado – Restos Mortais: transes para reconstituir episódio histórico | Divulgação
Contestado – Restos Mortais: transes para reconstituir episódio histórico (Foto: Divulgação)

O cinema brasileiro vive um momento de deslumbramento pelo espiritismo, e a edição deste ano do Festival de Cinema de Gramado é prova disso. Cristiane Grumbach apresentou o seu documentário As Cartas Psicografadas de Chico Xavier, na Mostra Panorâmica – já visto em Paulínia, dentro da mostra oficial.

Em competição na Serra Gaúcha, o pernambucano Geraldo Sarno exibiu O Último Romance de Balzac, uma investigação sobre as interpretações do livro Cristo Espera por Ti, supostamente ditado pelo escritor francês Honoré de Balzac ao médium Waldo Vieira.

Por fim, Sylvio Back usa o transe mediúnico como recurso narrativo de seu documentário sobre um tema aparentemente pouco relacionado a questões espíritas, a Guerra do Contestado. Os bravos espectadores que acompanharam as quase três horas de Contestado –Restos Mortais, na última terça-feira, apesar do esgotamento físico e emocional, saíram da sessão espantados com as reais dimensões do sangrento episódio ocorrido nas fronteiras entre Paraná e Santa Catarina entre 1912 e 1916. "Não tinha a noção do que foi esta guerra", comentou um jornalista.

O filme de Back já é, nesse sentido, documento-chave da historiografia da Guerra do Contestado. Usa como fio condutor principal depoimentos de diversos pesquisadores e de moradores mais velhos da região onde ocorreu o massacre entre os caboclos insurgidos pelas questões de terra e de fronteira e os soldados do Exército Brasileiro. "Foi a maior guerra civil no país no século 20", disse Back ao apresentar o filme.

Em uma montagem que promove um grande diálogo, os depoentes falam sobre as lutas, o fanatismo religioso dos caboclos e as barbaridades cometidas pelas lideranças de ambos os lados do conflito. A racionalidade das falas tem como contraponto as entrevistas feitas por Back com espíritos de pessoas que morreram na guerra, incorporados por médiuns da região.

O apelo ao fantástico, ao mesmo tempo em que oferece um viés emocional doloroso, chama de volta o espectador já desgastado pela aridez de um filme baseado, sobretudo, em depoimentos – há também algumas animações, poucas (mas belas) imagens de arquivo e uma reprodução um tanto tosca das batalhas com bonecos que lembram Playmobil. Recursos necessários diante da falta de material imagético sobre uma guerra que, ao contrário da Guerra de Canudos, de traços muito semelhantes, não faz parte do insconsciente coletivo da historiografia brasileira. "Quis contar a história daqueles que não estão na história", disse Back. (AV)

A repórter viajou a convite do Festival de Cinema de Gramado.

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