
Gramado - Quando recebeu a notícia de que seria premiado em Gramado, o ator Paulo Cesar Pereio pensou: "Ih, vou ser vítima de mais uma homenagem. Mas vou sobreviver a ela". As farpas, lançadas na entrevista aos jornalistas na manhã da última terça-feira, seriam substituídas pela emoção quando horas mais tarde ele subiu ao palco do Palácio dos Festivais para receber o troféu Oscarito.
O ator, que completa 70 anos em outubro, gaúcho de Alegrete, faz parte da história do cinema nacional por sua participação em mais de 90 produções, a começar pelo filme Os Fuzis, de 1964, de Ruy Guerra. De fala franca e sarcástica, conhecido por terminar cada frase com o palavrão "porra", o ganhador de dois kikitos em 1975 e 1985 lembrou que o Festival de Gramado começou, em 1973, com uma seleção em que estava presente o filme de Arnaldo Jabor, Toda a Nudez Será Castigada. "Quando Jabor me chamou pra fazer o filme, disse a ele: Esse será seu primeiro sucesso".
Ele lembra que, logo no primeiro ano, o festival se tornaria conhecido pela sensibilidade para escolher filmes que se tornariam sucessos como, por exemplo, Vai Trabalhar Vagabundo, exibido em 1974, longa que catapultaria Hugo Carvana como diretor, e no qual Pereio também atuou.
Mais tarde, com o fim da Embrafilme durante a era Collor, ele lembra que Gramado enfrentaria uma carência de filmes. "Não havia produção no país, então, o festival voltou seus olhos para o que se fazia na América Latina", conta.
Ao fazer um balanço de sua trajetória, o ator afirma que não pensa em obras prontas, mas em filmagens. Lembra, por exemplo, do dinamismo do set de Ponto.org, filme da mineira Patrícia Moran, exibido na mostra competitiva na noite de ontem, e do qual participa como ator coadjuvante. "Mas ainda não o vi pronto. Nas filmagens muita coisa acontece e é isso que dá a cara do filme", diz.
Desde 2004, Pereio apresenta o programa de entrevistas Sem Frescura, do Canal Brasil, dirigido por sua filha, Lara Velho. Mas, conta ter projetos de filmes em mente, como a finalização do longa Pereio, Eu Te Odeio, dirigido por Alan Sieber. "Já temos mais de 10 horas de depoimentos de pessoas falando mal de mim", conta.
No palco, Pereio agradeceu já sem qualquer ironia: "É incrível eu receber um troféu [com o nome do] de Oscarito, até hoje sou grande fã dele. Com humildade, simpatia e humor ele colocou o humorista em um lugar de destaque. Ele criou a chanchada, gênero que considero até hoje a grande escola do cinema brasileiro e que a crítica desmereceu. Os americanos a roubaram. Mel Brooks para mim é chanchada brasileira".
A jornalista viajou a convite do Festival de Gramado.



