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Detentos caracterizados: transformação de vidas via teatro | Divulgação
Detentos caracterizados: transformação de vidas via teatro| Foto: Divulgação

Lançamento

César Deve Morrer

(Cesare Deve Morire. Itália, 2012) Direção de Paolo e Vittorio Taviani. Com Salvatore Striano, Giovanni Arcuri e Juan Dario Bonetti. Europa Filmes. 76 minutos. Classificação indicativa: 14 anos. Drama.

Os irmãos italianos Paolo e Vittorio Taviani, com mais de 60 anos de cinema, não deixam de se inquietar com as muitas possibilidades do seu meio de expressão artística. César Deve Morrer, longa-metragem que lhes deu o Urso de Ouro no Festival de Berlim de 2012, é prova dessa sede de continuar experimentando e expandindo suas fronteiras.

O filme, apenas exibido em Curitiba em sessões de pré-estreia e agora lançado em DVD, é um instigante registro de uma versão livre da clássica peça Júlio César, de William Shakespeare, encenada por detentos da prisão modelo de Ribibbia, um subúrbio de Roma, para onde são enviados traficantes de drogas, assassinos e integrantes da Camorra, organização criminosa nascida em Nápoles, no sul da Itália.

Os irmãos cineastas travaram pela primeira vez contato com o projeto de levar teatro a uma prisão de segurança máxima meio ao acaso, quando uma amiga os convidou para assistir a uma performance em um presídio, também na região de Roma.

A insistência da amiga acabou por convencê-los a embarcar numa supreendente encenação de "Inferno", primeira parte do clássico renascentista A Divina Comédia, de Dante Alighieri. Quando um dos atores lhes disse que eles não tinham condições de compreender o significado das palavras e os conflitos presentes na obra de Dante dentro da perspectiva deles, os cineastas ficaram muito intrigados. E instigados em partir para um experimento, em parceria com uma pequena companhia de teatro de Ribibbia: rodar o processo de criação de uma montagem teatral dentro da penitenciária, com um elenco totalmente formado por internos.

Uma escolha fundamental seria o texto a ser encenado, já que a peça deveria refletir questões essenciais aos prisioneiros, muitos deles condenados a longas penas.

A opção por Júlio César teve suas razões, portanto. O texto fala de temas muito próximos ao universo dos detentos, como assassinato, traição, luta pelo poder, desonestidade e violência. Os ensaios e a performance foram filmados. O que faz de César Deve Morrer um grande filme é justamente essa intertextualidade, esse diálogo orgânico entre três realidades: a do filme sendo feito, a do cotidiano dos presos e a do próprio texto de Shakespeare.

Autores de filmes como Pai Patrão (1977), vencedor do Festival de Cannes, e A Noite de São Lorenzo (1982), Grande Prêmio do Júri no mesmo festival, eles são defensores de um cinema socialmente engajado – vários dos presidiá­­rios que participaram da peça depois publicaram livros e um deles até se tornou ator profissional fora dos muros da prisão. Os diretores, ao mesmo tempo, sempre se mostraram muito preocupados, e fascinados, em discutir os limites do cinema enquanto expressão de arte – não à toa fizeram Bom Dia, Babilônia (1987), sobre o processo de realização do clássico Intolerância (1916), de D. W. Griffith.

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