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Nova York - Preciosa tem sido elogiado por sua honestidade e também acusado por sua descrição extrema e patológica da família negra americana. Escritores americanos da comunidade negra têm tomado partido em ambos os lados dessa discussão e alguns permanecem no meio.

Armond White, o presidente contestador da Associação de Críticos de Cinema de Nova York, acusou o filme de traficar "histeria racista disfarçada de sensibilidade", e encarou o que viu como sendo interpretações errôneas da vida negra americana como aquelas mostradas por D.W. Griffith no infame clássico do cinema mudo de 1915, O Nascimento de uma Nação (acusado de glorificar a escravatura e justificar a segregação social).

Mensagem

Raina Kelley, em um ensaio para a revista Newsweek, analisou de modo mais ambivalente e menos incendiário, apontando que a atenção que o filme deposita em uma única história terrível enfraquece seu potencial de passar uma mensagem ainda maior.

"Queria poder concordar com aqueles que dizem que Preciosa é apenas mais um filme que alimenta a visão que temos de nós mesmos como vítimas", escreveu Raina. "Até isso teria sido melhor do que a mensagem implícita: o fato de que os negros começaram a aceitar como irremediável a situação daqueles que estão presos no gueto."

E essa é uma análise que também poderia se aplicar para O Lado Cego. Ambos os filmes relatam histórias que sugerem uma saída para o fardo da pobreza, brutalidade e calamidade dentro da vida de certos indivíduos afortunados ao passo que não suscitam quase nada a respeito de como tais condições poderiam ser transformadas.

Apesar de todas as diferenças, eles por fim repartem o mesmo posto de serem ao mesmo tempo otimistas e derrotistas. Ambos atribuem as dificuldades enfrentadas por seus protagonistas ao fracasso de suas famílias – das mães, em particular – e encontram soluções em famílias melhores, mães substitutas (Rain e Leigh Anne), cujo altruísmo e lealdade exorcizam os monstros biológicos do passado.

O fato de que O Lado Cego é baseado em uma história real empresta alguma credibilidade a essa ideia compassiva.

Final feliz

Não importa se é de direita ou de esquerda, branco ou negro, o público adora finais felizes. Sobrepujar adversidades é um passatempo internacional, es­­pe­­cialmente se for como espectador. E adoramos histórias de educadores heroicos, treinadores e mães — Michelle Pfeiffer em Mentes Perigosas, Edward James Olmos em O Preço do Desafio — que mudam as vidas das crianças pobres e marginalizadas ensinando o valor do trabalho duro e da autoestima. Mas isso não é motivo para menosprezarmos nenhum dos dois filmes, embora Preciosa seja muito melhor cinema.

Os dois são sinceros e se, acidentalmente, compartilham da mesma trama, também dividem os mesmos deslizes, e não estão sozinhos nessa categoria.

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