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Houve um tempo em que os jornais brasileiros não eram praticamente todos iguais. Alguns deles, inclusive, investiam em publicações paralelas, experimentais, com o objetivo de lançar novas linguagens e talentos. Surgido dentro da redação do Jornal dos Sports (ainda em atividade no Rio de Janeiro), O SOL foi o que se convencionou chamar de "jornal-laboratório", ou "jornal-escola". Comandado pelo jornalista, poeta e designer Reynaldo Jardim, o diário fez barulho e marcou época no fim dos anos 60, influenciando de maneira decisiva a imprensa alternativa que se firmava no país.

Tema de um documentário que estréia hoje nas principais capitais brasileiras, O SOL (escrito assim mesmo, com letras maiúsculas) circulou por cerca de seis meses, entre 1967 e 1968. Um curto espaço de tempo, mas suficiente para revelar nomes emergentes e dar espaço para que outros mais experientes liberassem sua criatividade. A lista de ex-repórteres, colaboradores, estagiários e ilustradores é enorme: vai de Ruy Castro a Ziraldo, passando por Zuenir Ventura, Henfil, Daniel Azulay, Otto Maria Carpeaux, Carlos Heitor Cony...

A diretora Tetê Moraes (de Terra para Rose) e a roteirista/produtora Martha Alencar (mulher do ator Hugo Carvana) também trabalharam no SOL e resolveram contar essa história. Para isso, organizaram o que chamam de "festa-filmagem" para reencontrar seus antigos colegas. Alugaram um terraço no Rio de Janeiro e, durante uma tarde, receberam e entrevistaram uma penca de convidados ilustres. Figuras que, se não chegaram a colaborar com o jornal, foram assunto de suas páginas. Como Caetano Veloso, cuja canção "Alegria, Alegria" traz os versos "O Sol nas bancas de revista/ Me enche de alegria e preguiça". Ele nega ter se inspirado no diário, ainda que sua primeira mulher, Dedé, tenha sido estagiária da redação.

O SOL – Caminhando Contra o Vento ainda traz depoimentos de Chico Buarque, Gilberto Gil, Arnaldo Jabor, Betty Faria, Carlos Lessa, Fernando Gabeira, Gilberto Braga e Bete Mendes. Mas se perde na contextualização do período histórico, pré-AI-5. Preocupadas em descrever o ambiente e o espírito da época, Tetê e Martha acabaram deixando de lado informações relevantes sobre o próprio jornal e sua linguagem inovadora.

Sabe-se, por exemplo, que a criação do diário foi uma sugestão de Reynaldo Jardim à viúva de Mário Filho, dono do Jornal dos Sports, para que o grupo editorial buscasse um novo perfil de leitores. Esse detalhe, no entanto, sequer é mencionado no longa. Se a idéia era atrair os estudantes de Jornalismo, faltou conteúdo – e sobrou autocelebração, uma das marcas de uma geração que soube contar sua história, apesar dos exageros.

Ainda assim, não deixam de ser curiosas as reflexões dos entrevistados sobre "o fim do sonho" dos anos 60. Entre desiludidos e esperançosos, destaca-se, mais uma vez, Caetano: "Acho que o sonho acabou no sentido de como era possível se viver em nome dele naquele período. Mas isso não é uma má notícia, necessariamente". Que surjam outros "sóis", mas com a cara dos dias de hoje, na imprensa brasileira. GGG

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