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Uma reflexão sobre variados temas como religião, biologia, evolução e transgressão, tradição e traição é a proposta de A Alma Imoral, monólogo que atriz carioca Clarice Niskier apresenta na Mostra Oficial do Festival de Teatro de Curitiba, em três sessões, de amanhã a domingo, no Teatro do Sesc da Esquina.

A peça foi um dos grandes sucessos de crítica e de público da temporada 2006 nos palcos do Rio de Janeiro, valendo a Niskier o prêmio Shell de melhor atriz, um dos mais importantes do teatro brasileiro. A Alma Imoral é baseado no livro homônimo do rabino Nilton Bonder, que, segundo Clarice, tocou fundo em sua emoção. "Ele me surpreendeu muito, pois trata de questões como tradição e traição de uma forma muito bonita. É simples e contundente ao mesmo tempo, tem uma profundidade, ilumina muito os temas que trata", revela a atriz em entrevista ao Caderno G.

Ela conta que passou dois anos trabalhando na adaptação do texto, e que Bonder participou do processo fazendo várias leituras. A atriz também formou grupos para analisar o texto. A partir das observações que recebia, teve a idéia de reunir, em um prólogo do espetáculo, as dúvidas mais recorrentes sobre os temas que desenvolverá em seguida na encenação.

A artista lembra que a interação das pessoas com o texto é grande, tanto que abre espaço na peça para retomar alguns trechos que não foram muito bem entendidos. "É como em um livro, quando você retorna algumas páginas para entender melhor as coisas. São partes mais difíceis, como as que tratam de solidão, casamento, crianças. Durante o espetáculo, vou ficando cada vez mais à vontade com o público e ele comigo, é uma troca muito legal", comenta.

Clarice se apresenta nua no palco, coberta apenas por um véu transparente. Ela revela que a idéia do nu partiu do sentimento que o texto passa – na abertura do texto, o autor diz que não há nudez na natureza. "Quando um bebê nasce, não há esse sentimento de nu, porque ele é uma natureza, assim como qualquer outro animal. Ele não está ainda inserido dentro de uma cultura. Ele só é nu depois de um primeiro banho, quando recebe um nome. Será que nós, adultos, perdemos essa natureza? Será que não podemos mais nos ver como natureza?", questiona a atriz.

Ela diz que Nilton Bonder propõe que a tradição, a cultura e o mandamento de reprodução convivam lado a lado com a evolução e a traição. "É a natureza transgressora que nos impulsiona para frente. Muita vezes, não sabemos explicar porque fazemos determinadas coisas, mas fazemos, essa é a nossa alma. Quando eu digo que a alma não precisa de vestimentas, e revelo isso ao público com minha nudez, mostro que estou vivenciando o que estou falando", continua.

Para Niskier, as questões que trata na peça não têm nada a ver com a auto-ajuda, pois a obra do rabino não apresenta as coisas em forma de manual ou como fórmulas. "Esse texto é para se pensar, fazer um exame de consciência da vida. O Nilton coloca uma série de conceitos e você faz deles o que bem entender", conclui.

Serviço: A Alma Imoral. Teatro do Sesc da Esquina (R. Visc. do Rio Branco, 696), (41) 3304-2222. Sexta, sábado e domingo, sempre às 20h30. Ingressos a R$ 26 e R$ 13 (meia-entrada).

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