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Após cinco anos sem gravar um álbum de inéditas, Marina Lima está de volta com Lá nos Primórdios. Mas a história do novo CD não é recente. Sua jornada começa em 2003, quando a cantora, hoje com 50 anos, gravou um Acústico MTV. Totalmente refeita da depressão que prejudicou sua voz e lhe rendeu discos irregulares, ela queria se reaproximar do chamado "grande público". A estratégia deu certo. Graças ao especial de tevê, Marina se apresentou em todo o país, com direito a shows para grandes platéias, alguns deles gratuitos. "Redescobri o tesão de cantar para muita gente", lembra.

A euforia, no entanto, deu lugar a uma constatação: "Não há como não se emocionar com a pobreza do Brasil". Ao se apresentar, depois de anos, para audiências mais populares, a artista se viu distante do público. "Havia um abismo entre mim e as pessoas, entre o que eu tenho acesso e o que elas têm", diz, referindo-se, principalmente, à informação, cultura, etc.

Encerrada a turnê do Acústico, Marina fez o caminho inverso. Aceitou o convite do piano-bar Baretto, em São Paulo, para uma temporada de apresentações intimistas e, ali, começou a testar novas composições. Retornaria ao lugar para outra leva de shows, mas antes conheceu Bueno Aires, cidade que a encantou e inspirou mais uma fornada de canções.

O passo seguinte foi o equilíbrio entre as duas experiências anteriores. Ao lado da amiga e diretora Monique Gardenberg, a cantora idealizou um espetáculo multimídia, apresentado com sucesso no Auditório do Ibirapuera, também na capital paulista. Chega-se então a Lá nos Primórdios, cujo repertório é justamente baseado nesse show. "Depois de tudo isso, descobri que queria fazer um disco que tivesse uma certa pretensão, mas sem parecer arrogante", conta. Para isso, ela pretende aparecer mais, expondo suas músicas e idéias onde for necessário.

O título Lá nos Primórdios, segundo Marina, diz respeito à essência das coisas. Ou ao valor delas. "Sou muito racional e vejo que tudo é matemático. O dia tem 24 horas e as demandas são muitas. É preciso priorizar o que realmente é importante para você, o que cabe nessas 24 horas. Qual o valor do amor, da grana, do sexo, dos relacionamentos?", viaja. Reflexões à parte, a artista garante: "As pessoas que não levam uma vida muito alienada vão parar para ouvir o disco e descobrir o que as incomoda no dia-a-dia".

"Dona" do disco

O novo CD ainda marca a estréia de Marina como dona do próprio nariz, fonograficamente falando. Seguindo uma tendência abraçada por outros medalhões da MPB, ela pagou o disco com dinheiro de seu bolso – cabendo à gravadora EMI investir em marketing e distribuição. "As gravadoras não estão ganhando tanta grana quanto ganhavam, e os artistas passaram a procurar uma independência maior. Não sei o que vai acontecer com a indústria do disco daqui para frente, mas estou gostando desse momento", afirma.

Mesmo para Marina, que sempre teve controle sobre sua obra, a autoprodução representa uma mudança radical na postura do artista. "Havia uma relação hollywoodiana entre as gravadoras e seus contratados. O artista se sentia um anjo e ficava parado no canto dele, sem querer saber de mais nada", diz. Agora, ensina a cantora, é preciso lidar com dinheiro, contratos, negociações, direitos autorais e outros trâmites envolvidos num projeto fonográfico. "Descobri que, em 2006, crescer engloba tudo isso", confessa, com a satisfação de quem conclui mais uma jornada.

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