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Barnes: obra reconhecida no exterior e traduzida no Brasil | Divulgação
Barnes: obra reconhecida no exterior e traduzida no Brasil| Foto: Divulgação

Contos

Pulso

Julian Barnes. Tradução de Christina Baum. Rocco, 240 págs., R$ 32,50.

Infelizmente eu não conheço Julian Barnes, autor de O Papagaio de Flaubert, livro que adoro. Anos atrás, acompanhei uma conferência dele, que me pareceu uma pessoa ao mesmo tempo culta e simples.

Felizmente eu não conheço Julian Barnes. Caso contrário, causaria constrangimento minha opinião sobre o último livro dele, Pulso. Não é um bom livro. Fiquei decepcionada com alguns dos contos, a maioria deles, que não me parecem à altura do escritor.

Desde que O Papagaio de Flaubert foi publicado na década de 1980, a reputação de Barnes não parou de crescer. Ele se firmou como um dos nomes mais importantes da vida literária inglesa contemporânea e um dos poucos que não tem origem nas ex-colônias (hoje são esses autores que mais chamam atenção na literatura da ilha). Em 2011, saiu no Brasil O Sentido de um Fim, que deu a ele o importante Man Booker Prize daquele ano. Daí a justificativa para se falar de Pulso, mesmo que ele não seja uma grande obra.

Pulso traz 14 contos que giram em torno de um mesmo tema: o relacionamento homem-mulher pela perspectiva masculina. Mais especificamente, Barnes parece interessado em registrar a dificuldade de comunicação entre os dois sexos, partindo do pressuposto de que eles se expressam de formas diferentes e incompatíveis – dois sexos, dois idiomas, ele parece dizer. Daí o mistério que intriga os personagens de Pulso: como é possível que um relacionamento dure, se um dos dois é capaz de, um belo dia, sem perceber, dizer uma frase fatal, com poder de acabar com a união?

Desenvolvimento

Se o ponto de partida dos contos é interessante, o desenvolvimento é banal em vários textos. Em quatro deles, o autor compõe um diálogo entre casais de amigos que se encontram e batem papo. Quem conduz a conversa são os homens, sempre levantando dúvidas sobre a vida sexual de si mesmos, dos ingleses, dos americanos. Enfim, da humanidade. Falta a estes textos uma elaboração maior, uma construção que vá além do registro de piadas e provocações.

Barnes é mais bem-sucedido no conto que abre o livro, "O Vento Leste". Nele, um agente imobiliário inglês, recém-divorciado e convencido de que viverá escondido e sozinho em um balneário melancólico, acaba se envolvendo com uma imigrante do leste europeu. O diálogo com a mulher é limitadíssimo: ela mal fala inglês e não está disposta a se abrir. Esta comunicação aos trancos e barrancos parece perfeita para ele. Até que o interesse por ela cresce e ele passa a investigá-la. Acaba por abordar, de forma desajeitada, um segredo que a moça guarda. Perplexo, ele se vê destruindo o que parecia ser um relacionamento promissor. E não entende nada.

Aliás, os personagens de Barnes nunca entendem o que fazem de errado, por que afastam suas pretendentes. Assim como parecem não registrar o momento em que o interesse apareceu (da parte dele) ou despareceu (da parte dela). Simplesmente tocam o barco... até que o veem naufragar.

Talvez Julian Barnes devesse ter deixado os contos na gaveta mais tempo para ver se envelheciam bem. Talvez pudesse ter trabalhado um pouco mais cada um deles. O que está em Pulso não é trabalho de amador, mas tampouco é obra para o currículo de um grande escritor.

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