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Motoristas | Filippo Monteforte/AFP
Motoristas| Foto: Filippo Monteforte/AFP

O mais jovem escritor a participar da edição deste ano da Festa Internacional de Parati (Flip) escapou por muito pouco da morte. Ishmael Beah, hoje com 26 anos, foi aliciado aos 12 pelo exército do governo de Serra Leoa (África Ocidental), após fugir da guerra civil que devastou seu país durante a década de 90, tornando-se uma das cerca de 300 mil crianças-soldados que participam de conflitos pelo mundo afora. Mesmo depois de reabilitado pelo Unicef, Beah continuou exorcizando seus muitos fantasmas e o resultado é Muito Longe de Casa – Memórias de um Menino-Soldado, lançado no Brasil pela Ediouro.

Na Flip, Beah dividirá a mesa "Sobre Meninos e Lobos" com o escritor Paulo Lins, de Cidade de Deus, para discutir a violência que vitima crianças e adolescentes em guerras e conflitos urbanos. Morando em Nova Iorque desde 1998, o escritor se formou em Ciências Políticas e é membro do Comitê de Direitos da Criança da ONG Human Rights Watch.

Em suas memórias, Beah narra de forma crua a guerra civil que entrou na sua vida em 1993, com a invasão dos rebeldes à cidade portuária Mattru Jong, que obrigou seus habitantes a fugirem pelo interior do país.

A guerra devastou Serra Leoa, antiga colônia britânica e segundo pior índice de desenvolvimento humano (IDH) do mundo, atrás apenas de Níger. Na primeira metade do romance, Beah foge com seu irmão mais velho e alguns amigos que conseguiram escapar da destruição da cidade, tornando-se refugiados em pequenas aldeias. "Sentia como se estivesse sempre recomeçando. Estava sempre me mexendo, sempre indo a algum lugar. Quando caminhávamos, às vezes eu me deixava ficar para trás, pensando sobre essas coisas todas. Sobreviver a cada dia que passava era meu objetivo na vida", escreve Beah, que após ser obrigado a se separar de seu irmão, passa um tempo viajando sozinho pela floresta, até encontrar outro grupo de jovens tão perdidos quanto ele.

Na segunda metade do livro, Beah torna-se algoz. Arrigimentado pelo exército junto com outras dezenas de crianças, algumas ainda mais novas que ele, o escritor passa a cometer as atrocidades das quais foi vítima e que destruíram sua família. Armado até os dentes e consumindo uma mistura explosiva de cocaína com pólvora, Beah se torna instrumento de uma guerra que parece não ter fim. Um relato doloroso sobre os horrores que a violência pode infligir na vida das pessoas, pelos olhos de um garoto. E sobre a esperança.

Serviço: Muito Longe de Casa – Memórias de um Menino-Soldado, de Ishmael Beah (tradução de Cecilia Giannetti. Ediouro, 224 págs., R$ 34,90).

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