
Este fim de 2009 é um momento mais do que especial para Luís Henrique Pellanda. O curitibano, de 36 anos, tem muito o que comemorar. Depois de seis anos envolvido com uma assessoria de comunicação, empresa da qual está desligado, Pellanda agora trabalha em novos projetos em seu apartamento, no Centro. É um arranjo que ele encontrou para também estar próximo de sua filha Dora, nascida há três meses.
O jornalista, que já trabalhou na Gazeta do Povo, conhecido pelo seu texto primoroso, passou a escrever roteiros sob encomenda para produtores de audiovisual paulistanos. Concluiu um roteiro para um longa-metragem, a ser dirigido ano que vem por um premiado diretor brasileiro.
No entanto, há um outro motivo que revela a boa fase na vida de Pellanda. O seu mais recente livro O Macaco Ornamental acaba de chegar às livrarias.
O autor passou os dois últimos anos escrevendo e reescrevendo ficção. Diz ter jogado fora dois romances. Não gostou do resultado. Mas se entusiasmou com os 14 contos que integram esse que é o seu livro de estreia na literatura brasileira. O Macaco Ornamental sai com a chancela da Bertrand Brasil, uma editora carioca, apontada como uma das melhores no quesito distribuição, que é o que realmente importa para um autor pois coloca a obra, no caso dele, com tiragem de 2 mil exemplares, em vitrines de livrarias de todo o Brasil.
Problematização
A epígrafe de O Macaco Ornamental funciona como uma chave para ajudar a decifrar a obra. Logo nas páginas iniciais, Pellanda inseriu a última frase de A Montanha Mágica, de Thomas Mann: "Será que também da festa universal da morte, da perniciosa febre que ao nosso redor inflama o céu desta noite chuvosa, surgirá um dia o amor?". Pellanda reconhece que os 14 contos dialogam com a "tese" de Mann. "Realmente me espanta essa frase, pois, será que diante dos absurdos do mundo, apesar de tudo, ainda será possível surgir o amor? Os contos dizem respeito a essa indagação", afirma.
Pellanda escreve sobre os impasses da vida, que se apresentam como tragédias, de pequenas e grandes proporções. "Tudo que é ruim na vida de alguém é uma tragédia", argumenta. Seja uma relação que, de um ponto de vista é bem-sucedida, e do outro, um fracasso, como acontece no conto "O Buquê", ou a incomunicabilidade entre integrantes de uma banda de música, em "Little Boat of Love."
Um aspecto que chama a atenção é que o escritor consegue produzir contos breves, de poucos parágrafos, como o que empresta o título ao livro, e de texto longíssimo, de dezenas de páginas, como "Caldônia Beach", o primeiro do livro.
Pellanda conta que não segue fórmulas: "Se a idéia se resolve rapidamente, faço o conto breve. Mas se o que preciso dizer exige desdobramentos, então, construo um texto mais longo".
Outra característica da ficção de Pellanda é a linguagem elaborada, com muitas referências a livros, álbuns e à cultura ocidental como um todo. O escritor, ainda no final da década de 1980, integrou a banda Woyzeck (hoje desativada), que gravou álbuns, fez shows, conquistou público e destacava-se pelas letras, feitas por Pellanda, com a mesma "linhagem" que o escritor agora realiza enquanto prosador.
O Macaco Ornamental é o desdobramento da inquietação desse curitibano que, neste momento, tem uma peça de teatro, Astério, em vias de ser encenada, e já escreve mais contos e procura refletir sobre o desafio e o mistério que é ser humano e viver (apesar de tudo, inclusive da morte).
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Serviço
O Macaco Ornamental, de Luiz Henrique Pellanda. Bertrand Brasil, 192 págs., R$ 34.



