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Pellanda conta que não segue fórmulas: “Se a idéia se resolve rapidamente, faço o conto breve. Mas se o que preciso dizer exige desdobramentos, então, construo um texto mais longo” | Hedeson Alves/Gazeta do Povo
Pellanda conta que não segue fórmulas: “Se a idéia se resolve rapidamente, faço o conto breve. Mas se o que preciso dizer exige desdobramentos, então, construo um texto mais longo”| Foto: Hedeson Alves/Gazeta do Povo

Paralelas

Saiba quais são algumas das atividades de Luís Henrique Pellanda

Multifacetado

Atualmente, Pellanda é colunista do jornal Rascunho, participa do projeto Paiol Literário, escreve roteiros para cinema (não revela, ainda, em que projetos está envolvido) e é cronista e coeditor do site de crônicas Vida Breve (www.vidabreve.com).

Musical

Além do Woyzeck, Pellanda também participou das bandas Gente Boa da Melhor Qualidade, Svetlana e Frutos Madurinhos do Amor.

Início

Começou a ler e a escrever com 5 anos, em casa. A família tinha enciclopédias e ele manuseava aqueles volumes. De compêndios de zoologia a livro de Erico Verissimo, e outros, foi um passo.

O conto-título de O Macaco Ornamental, de Luís Henrique Pellanda.

"O nenê para de chorar. Dorme. E eu olho pela janela. Estufa de gente. Lugar feio, sem árvores, sem um rio que mereça o nome de rio. Minha cidade sem horizonte, feita somente de objetos de uso, tua lei é a utilidade, a economia das coisas. Aqui dentro, ali fora, lá embaixo, quase tudo um utensílio. Carro, prédio, sinaleiro, outdoor. Placa de trânsito, antena de celular. Sei que é a ladainha da moda, o choro da mídia, mas hoje sou um homem do meu tempo. Sabedor de gírias, amante dos clichês. Integrado e objetivo. Com meu primogênito no colo, três vezes maior que um charuto grande, o moinho do meu sossego, frágil gerador da energia que me resta.

Converso com ele.

Quando tudo for utensílio, digo, o próprio homem será apenas um enfeite no mundo. Seu último adorno desnecessário. Uma espécie ornamental de macaco.

Ele reage mal, acorda.

Duvida, meu filho? Ontem mesmo, na internet, vi a foto de uma múmia de bugio asteca. E ela era a tua cara. Péssimo, não? A múmia me lembrou você. Paramentada para a morte."

Este fim de 2009 é um momento mais do que especial para Luís Henrique Pellanda. O curitibano, de 36 anos, tem muito o que comemorar. Depois de seis anos envolvido com uma assessoria de comunicação, empresa da qual está desligado, Pellanda agora trabalha em novos projetos em seu apartamento, no Centro. É um arranjo que ele encontrou para também estar próximo de sua filha Dora, nascida há três meses.

O jornalista, que já trabalhou na Gazeta do Povo, conhecido pelo seu texto primoroso, passou a escrever roteiros sob encomenda para produtores de audiovisual paulistanos. Concluiu um roteiro para um longa-metragem, a ser dirigido ano que vem por um premiado diretor brasileiro.

No entanto, há um outro motivo que revela a boa fase na vida de Pellanda. O seu mais recente livro O Macaco Ornamental acaba de chegar às livrarias.

O autor passou os dois últimos anos escrevendo e reescrevendo ficção. Diz ter jogado fora dois romances. Não gostou do resultado. Mas se entusiasmou com os 14 contos que integram esse que é o seu livro de estreia na literatura brasileira. O Macaco Orna­­men­­tal sai com a chancela da Bertrand Bra­­sil, uma editora carioca, apontada como uma das melhores no quesito distribuição, que é o que realmente importa para um autor – pois coloca a obra, no caso dele, com tiragem de 2 mil exemplares, em vitrines de livrarias de todo o Brasil.

Problematização

A epígrafe de O Macaco Ornamental funciona como uma chave para ajudar a decifrar a obra. Logo nas páginas iniciais, Pellanda inseriu a última frase de A Montanha Má­­gica, de Thomas Mann: "Será que também da festa universal da morte, da perniciosa febre que ao nosso redor inflama o céu desta noite chuvosa, surgirá um dia o amor?". Pellanda reconhece que os 14 contos dialogam com a "te­­se" de Mann. "Real­­men­­te me es­­panta essa frase, pois, será que diante dos absurdos do mundo, apesar de tudo, ainda será possível surgir o amor? Os contos di­­zem respeito a essa indagação", afirma.

Pellanda escreve sobre os impasses da vida, que se apresentam como tragédias, de pequenas e grandes proporções. "Tudo que é ruim na vida de alguém é uma tragédia", argumenta. Seja uma relação que, de um ponto de vista é bem-sucedida, e do outro, um fracasso, como acontece no conto "O Buquê", ou a incomunicabilidade entre integrantes de uma banda de música, em "Little Boat of Love."

Um aspecto que chama a atenção é que o escritor consegue produzir contos breves, de poucos parágrafos, como o que empresta o título ao livro, e de texto longíssimo, de dezenas de páginas, como "Caldônia Beach", o primeiro do livro.

Pellanda conta que não segue fórmulas: "Se a idéia se resolve rapidamente, faço o conto breve. Mas se o que preciso dizer exige desdobramentos, então, construo um texto mais longo".

Outra característica da ficção de Pellanda é a linguagem elaborada, com muitas referências a livros, álbuns e à cultura ocidental como um todo. O escritor, ainda no final da década de 1980, integrou a banda Woyzeck (hoje desativada), que gravou álbuns, fez shows, conquistou público e destacava-se pelas letras, feitas por Pellanda, com a mesma "li­­nhagem" que o escritor agora rea­­liza enquanto prosador.

O Macaco Ornamental é o desdobramento da inquietação desse curitibano que, neste momento, tem uma peça de teatro, Astério, em vias de ser encenada, e já es­­creve mais contos e procura re­­fletir sobre o desafio e o mistério que é ser humano e viver (apesar de tudo, inclusive da morte).

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Serviço

O Macaco Ornamental, de Luiz Henrique Pellanda. Bertrand Brasil, 192 págs., R$ 34.

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