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Ilustrações de Koko Be Good, de Jan Weng (na foto à esquerda): autora tornou-se popular com tirinhas publicadas em seu site | Divulgação
Ilustrações de Koko Be Good, de Jan Weng (na foto à esquerda): autora tornou-se popular com tirinhas publicadas em seu site| Foto: Divulgação

Parece pouco coerente que uma artista tão orgânica – que desenha manualmente – como a quadrinista americana Jen Wang tenha ganhado destaque justamente no ambiente eletrônico da internet, onde publica webcomics. Por outro lado, parece muito plausível que em um universo repleto de artistas digitais o traço limpo, porém não completamente destituído de ruído, de Jen ganhe a proporção necessária para despertar a atenção da editora First Second Books, que publicou sua primeira graphic novel: Koko Be Good.

Com uma temática jovem, o livro – que agora chega ao Brasil pela editora Barbanegra – tem como mote a vida de Jon, um recém-adulto que, tomado por uma falta de norteamento na vida, decide sem muita deliberação mudar-se para o Peru com a namorada. Encontramos Jon ao começo da história fazendo os preparativos finais para a viagem, enquanto ouve uma fita em espanhol para aprender o idioma que passará a falar nos anos seguintes. É quando conhece Koko, uma jovem de idade indeterminada que vive de pequenos golpes e demonstrações públicas com seu amigo Faron, um garoto acrobata que mora com a mãe e o padrasto.

Dormindo de favor no sótão de um senhor, e sendo sistematicamente despedida de todo trabalho que tenta empreender, Koko é uma espécie de espírito livre que resolve deixar a vida malandra para ser "uma pessoa boa". Como os dois estão em fases de transição, Koko e Jon começam a partir daí uma amizade um tanto filosófica, em que discutem as questões mais caras a essa época da vida, como ter ou não ter direcionamento e conhecer os próprios objetivos.

Mesmo assim, não espere de Koko Be Good uma história redentora ou previsível. O livro é permeado por essa constante desilusão entre o mundo idealizado e o mundo como realmente é, e a tônica é a imensa dificuldade de mudar de opinião ou estilo de vida mesmo quando isso parece ser a coisa certa a fazer – a apatia e a inércia em­­purram as trajetórias dos personagens para algo diferente do que eram, mas muito distante do que almejam.

Visualmente falando, Jan Wang tem uma proposta muito in­­­­teressante para oferecer aos fãs de histórias em quadrinhos. Ainda que as ações da narrativa sejam difíceis de ser decifradas a princípio, pelo close excessivo em detalhes de todo o movimento, a autora consegue criar familiaridade com o leitor sem cair no uso de referências culturais. O traço no livro, que sugere movimento e confusão pela maneira quase grosseira com que deixa linhas de rascunho transparecerem, ao mesmo tempo denota uma melancolia, pelos tons pastéis das excelentes aquarelas com que preenche as mais de 300 páginas da obra. Poderia ser a velha história de dois estranhos que se encontram em momentos críticos e mudam suas respectivas vidas a partir da interação com o outro, mas a originalidade e a universalidade da trama dão conta de fazer com que Koko Be Good não seja um quadrinho facilmente esquecível.

Serviço:Koko Be Good – Não É Fácil Ser Boazinha, de Jen Wang. Barbanegra, 304 págs., R$ 29,90. GGG1/2

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