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Com honrosas exceções, cinebiografias de astros da música dificilmente fogem do arroz com feijão. São lineares, comportadas, didáticas até. Mesmo filmes festejados, como o recente Ray, limitam-se a contar a história do homenageado – e nada mais do que isso. Por essas e outras, surpreende a ousadia do ator Kevin Spacey à frente de Uma Vida Sem Limites, sobre o cantor americano Bobby Darin (1936 – 1973). Em seu segundo trabalho como diretor, o vencedor de dois Oscar como ator recria os passos de Darin com muita fantasia, cor, irreverência e, é claro, música.

Não são raras as seqüências em que o filme, agora em DVD no Brasil, transforma-se num musical propriamente dito – no sentido de que, a qualquer momento, um personagem pode começar a dançar e cantar, sendo acompanhado por um quarteirão inteiro de figurantes. Detalhe: é o próprio Spacey, no papel do biografado, quem solta a voz na tela. E não é que o danado se sai muito bem? Melhor ainda é a sua direção nos números musicais, que, se não chegam aos pés de um Chicago, revelam um potencial a ser explorado.

Pouco conhecido no Brasil, Bobby Darin foi um dos grandes showmen americanos. De origem pobre, ganhou fama com a clássica canção "Splish Splash". Mas, no fim dos anos 50, o rock ainda não tinha a aura cult dos dias de hoje. Era apenas uma diversão vulgar para negros, "transviados" e adolescentes histéricas. No fundo, Darin queria seguir os passos de Sinatra e firmar-se como crooner. Não só conseguiu como ganhou dois prêmios Grammy, arriscou-se como ator (foi indicado ao Oscar por Pavilhão Sete) e, no fim da vida, virou cantor folk "de protesto".

Como sofria de febre reumática, correu contra o tempo para colocar em prática tudo o que queria fazer. Além de discos e filmes, deixou um filho, Dodd, do casamento com a atriz Sandra Dee (vivida por Kate Bosworth, a Lois Lane do novo Superman), estrela número um dos chamados "filmes de praia". Morreu aos 37 anos, durante uma cirurgia de coração.

Projeto pessoal de Spacey, Uma Vida Sem Limites levou quase duas décadas para sair do papel. Daí a insistência do ator em protagonizar o filme, mesmo sendo dez anos mais velho do que Darin ao morrer. Apesar da maquiagem esquisita, a teimosia valeu a pena. GGG

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