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Hamleto Stamato Sexteto. Delira Música. R$ 25.

A música popular brasileira ganhou prestígio internacional no início dos anos 1960, quando a bossa nova foi adotada por músicos de jazz norte-americanos e catalisada a ponto de tornar-se fenômeno mundial. O Hamleto Stamato Sexteto é um ótimo exemplo dessa fusão frutífera, e o DVD e o CD Speed Samba Jazz – Gafieira Jazz são a prova viva e registrada dessa mescla.

Surgido a partir de uma gravação sem cortes e sem alterações – Speed Samba Jazz – Volume 1 – (2003), que deu crias em 2005 e 2006, o trio Hamleto Stamato (piano), Augusto Mattoso (baixo) e Erivelton Silva (bateria) ganhou reforço de metais e chega em versão caprichada, com 17 faixas em DVD e 14 em CD.

Com o subtítulo de Gafieira Jazz, o registro é de um concerto ao vivo filmado no Pólo Cine Vídeo, no Rio de Janeiro.

No repertório, "Samba de Uma Nota Só" e "Desafinado" (Tom Jobim e Newton Mendonça), "Tema de Academia" e Com Salsa" (do próprio Stamato), "Mas que Nada" (Jorge Benjor) e "A Night in Tunisia" (Dizzy Gillespie e Frank Paparelli), entre outras músicas, que unem improvisos jazzísticos à sofisticação das composições influenciadas pelo ritmo brasileiro.

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DVD 2

Bananas

(EUA, 1971). Direção de Woody Allen. Com Woody Allen, Louise Lasser e Carlos Montalbán. 82 min. Comédia. Classificação indicativa: não-fornecida.

Uma década antes de dirigir Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (1977), vencer o Oscar de melhor filme, roteiro e direção, ignorar a cerimônia da Academia e comprar uma briga que dura até hoje, Woody Allen (que nunca mais foi indicado como diretor, mas só como roteirista) era um comediante nova-iorquino de respeito, com sucesso relativo no teatro e alguma fama em palcos de stand-up comedy. Seu prestígio como humorista permitiu que estreasse no cinema. Porém, Allen admite que, desde o início, sua intenção era escrever e dirigir dramas – inspirado por cineastas que admira, entre eles, Ingmar Bergman e Federico Fellini. A comédia Bananas, recém-lançada em DVD no Brasil, é um exemplo da fase nonsense do diretor de Manhattan (1981). Na história, Allen interpreta Fielding Mellish, um perdedor que se apaixona por uma garota engajada em questões políticas de um país latino-americano (fictício) chamado San Marcos. Depois de levar um fora dela e disposto a reconquistá-la, Fielding decide abraçar a causa de San Marcos e viaja até o país, onde acaba se envolvendo na revolução local. Allen aproveita para tirar sarro de meio mundo e aparece, numa cena já clássica, usando uma barba à la Fidel Castro. Para fãs e para quem não faz idéia de que o diretor de Vicky Cristina Barcelona era um comediante com um pé no absurdo.

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Livro 1

Black Music

Arthur Dapieve. Objetiva, 118 páginas. R$24,90.

Michael Philips é um garoto norte-americano de 13 anos que sabe tudo de jazz e de basquete, mas quase nada de sexo. "He-Man" é um jovem quatro anos mais velho que sonha em se tornar o maior rapper do Brasil. Uma de suas namoradas é Jô, de 16, que sabe de cor as músicas de Tati Quebra-Barraco e teve lições de vida com uma irmã ex-prostituta. O sequestro de Philips por He-Man é o ponto de partida para o entrelaçamento dessas três vidas e para Black Music, segundo romance do jornalista e escritor Arhur Dapieve.

A partir do momento em que o jovem, negro e alto, é sequestrado, há uma íntima relação entre os três personagens principais. As diferenças culturais e econômicas são minimizadas pela idade, outro ponto em comum – além da certeza do que querem da vida.

Enquanto o estrangeiro não é resgatado das entranhas de uma favela no rio, He-Man fica encarregado de aterrorizar Michael (Maicon) por meio de ameaças e tapas espersos. Jô é a responsável por alimentar e limpar o sequestrado.

Aos poucos, o vínculo entre os três aumenta. Sensações conflitantes dão lugar a revelações antes proibidas; sonhos são revelados e compartilhados como fazem bons amigos; raiva e medo começam a ceder lugar para amizade e flertes outrora impossíveis.

Um dos pontos marcantes do oitavo livro do carioca é a flexibilidade de linguagem, utilizada para diferenciar as três vozes predominantes.

Quando Philips fala, o texto é em prosa, bem escrito e coerente. Quando He-Man tem a vez, a mensagem vem em versos, em rap. Para dar voz a Jô, "meio surda de tanto ficar perto das caixas de som nos bailes funk", Dapieve cria um monólogo devastador em letras garrafais, que ignora a norma culta, mas que respeita seu dialeto particular.

Por meio de um sequestrador louro e um sequestrado negro, Dapieve cria uma fábula em que a violência, ainda que obviamente indesejada, torna-se forma de expressão e de aproximação de culturas.

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CD

Friday Night in San Francisco

Al Di Meola, John McLaughlin e Paco de LuciaSony & BMGPreço médio: R$ 20.

Um dos marcos da história da guitarra, e do violão, foi um show realizado na noite de 5 de dezembro de 1980. No palco do The Warfield Theatre, em São Francisco, três dos mais talentosos nomes do instrumento de seis cordas: Al Di Meola, John McLaughlin e Paco de Lucia.

São apenas cinco canções (uma delas, do brasileiro Egberto Gismonti, "Frevo Rasgado"), mas suficientes para o ouvinte entrar em contato com possibilidades e versatilidades que o violão é capaz de soar. Do virtuosismo mais radical ao rasgueado do flamenco, incluindo duelos de velocidade entre os três músicos, este Friday Nigth in San Francisco era já nos tempos do vinil (década de 1980) um clássico instantâneo, cultuado desde o seu lançamento. Agora em CD, apenas reconfirma a ideia-força de que o violão sempre pode se reinventar e surpreender. Simplesmente primoroso.

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Livro 2

Galiléia

Ronaldo Correia de Brito Alfaguara 240 págs. R$ 32. Romance.

O consagrado contista Ronaldo Correia de Brito, autor do já clássico Faca (2003), debuta como romancista com um livro incomum, Galiléia. O autor faz do sertão nordestino cenário para acerto de contas entre familiares durante a reunião de despedida do patriarca. Três netos que abandonaram a fazenda Galileia, e o próprio Brasil, para fazer a vida no exterior, retornam para o que parece, mais que um encontro marcado, uma tragédia predestinada.

"Somos aves de arribação. Mesmo quando partimos sem olhar para trás, retornamos; quando imaginamos firmar os pés numa nova paragem, estamos de volta." Assim, a voz narrativa, sintetiza o (eterno) retorno dos que partiram unicamente para voltar e, de certa maneira, "encenar" o que parecia estar escrito desde sempre.

A convivência entre os parentes, na ficção de Brito, rima com o que há de pior entre humanos. Trapaças, apropriação de bens alheios, traições variadas, incesto e crimes fatais. Tudo costurado com uma linguagem que lembra uma peixeira, tamanha a precisão do corte no texto, o que proporciona leitura veloz de um conteúdo denso, profundo e que faz refletir.

Brito, médico (a exemplo de um dos narradores, Adonias), vive no Recife e se notabilizou por ter realizado pesquisas sobre literatura oral, elemento pulsante e presente em sua ficção, sobretudo neste Galiléia.

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DVD 3

Os Pivetes e Antoine e Colette

(Les Mistons/ Antoine et Colette. 1957/ 1962. Direção de François Truffaut. Com Jean-Pierre Léaud. 18 min/ 20 min. Drama.

Para muitos, os melhores filmes do cineasta François Truffaut (1932-1984) são os da série chamada As Aventuras de Antoine Doinel. O personagem, um alter ego do diretor, foi interpretado pela primeira vez pelo ator Jean-Pierre Léaud quando este tinha 15 anos de idade em Os Incompreendidos (1959). Truffaut e Léaud voltariam a Doinel nos longas-metragens Beijos Roubados (1968), Domicílio Conjugal (1970) e O Amor em Fuga (1979), três momentos distintos das relações amorosas. Agora, dois curtas-metragens raros saem no Brasil em DVD. Um deles, Antoine e Colette, é uma prévia dos percalços sentimentais de Antoine Doinel e foi feito por Truffaut para o projeto O Amor aos 20 Anos, do qual fizeram parte outros quatro cineastas. Já Os Pivetes é a primeira incursão séria do então crítico de cinema da revista Cahiers du Cinéma na direção. Foi a partir deste trabalho que Truffaut reuniu coragem e experiência para realizar Os Incompreendidos, vencer o prêmio de direção no Festival de Cannes e se tornar um dos nomes da nouvelle vague, ao lado de Jean-Luc Godard e Claude Chabrol. É também em Os Pivetes que se nota o talento que tinha para trabalhar com crianças, presente nos filmes O Menino Selvagem (1970) e A Idade da Inocência (1976).

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