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Art Spiegelman experimentou pelo menos dois momentos fantásticos na carreira de cartunista. Quando venceu o Prêmio Pulitzer pelo livro Maus (Companhia das Letras), em 1992, e quando teve de pensar a capa da New Yorker na edição de 24 de setembro de 2001, duas semanas depois dos ataques terroristas que destruíram o World Trade Center. Ele era diretor de arte da revista e criou uma imagem genial: as torres foram impressas em tinta preta sobre um papel preto. À primeira vista, parece que a capa é apenas preta, mas um segundo olhar revela as silhuetas das torres que já não existiam mais.

Fora da mídia, Spiegelman teve vários momentos cruciais, ou, nas palavras dele, "colapsos" que ajudaram a formá-lo não só do ponto de vista pessoal, mas também do profissional. Eles são narrados em Breakdowns, livro em formato gi­­gante (25,4 cm x 35,6 cm) que acaba de ser lançado no Brasil.

O primeiro e melhor terço do álbum narra a infância e adolescência do autor, mostrando como gostava de brincar com sua mãe – ela rabiscava qualquer coisa em um pedaço de papel e ele transformava o rabisco em um desenho. Ele desenvolveria essa capacidade à perfeição, usando uma espiral pequena para contar a história de uma vida inteira (ela aparece na sinopse do livro, na última página, e foi também capa da revista piauí, que publicou trechos da obra).

Spiegelman conta, por exemplo, que adorava revistas em quadrinhos desde muito pequeno. Um dia, pediu ao pai que comprasse alguns exemplares com o dinheiro de sua mesada. Disposto a conseguir uma barganha, o pai compra um pacote de edições baratas e não se dá conta de que são quadrinhos adultos, com violência e sexo suficientes para transformar a vida do filho para sempre.

Depois desse primeiro terço – em que ele tenta resolver inclusive a perda da mãe, que se suicidou quando ele tinha 20 anos –, produzido entre 2005 e 2008, Break­­downs funciona como uma compilação de quadrinhos criados por Spiegelman entre 1972 e 1977, incluindo as três páginas de Maus que dariam origem, 30 anos mais tarde, ao livro premiado sobre o nazismo e a intolerância, com ra­­tos perseguidos por gatos.

Quando o autor mostrou os esboços para o pai e os amigos dele, todos sobreviventes de campos de concentração, eles passaram a analisar a história com fervor sem nunca se dar conta de que os personagens eram animais e não humanos.

A seleção de quadrinhos mostra um artista em busca de algo que nem ele sabia o que era. A relação de Spiegelman com os quadrinhos sempre foi, enfim, a de um pintor com sua arte.

O desfecho de Breakdowns é um texto do autor sobre tudo o que o leitor acabou de ler: trabalhos geniais e outros irregulares, traços incríveis e experimentações com fotos e materiais de desenho. O impulso é de recomeçar a leitura de tudo.

"Alguns podem julgar Break­­downs um mero produto de seu tempo. Mas, para mim, é um ma­­nifesto, um diário, um bilhete amar­­rotado de suicídio e uma carta de amor ainda válida ao meio que eu tanto adoro", escreve Spiegelman.

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Serviço

Breakdowns – Retrato do Artista Quando Jovem %@&#!, de Art Spiegelman. Quadrinhos na Cia., 80 págs., R$ 79.

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