
Contos
Três Novelas Femininas
Stefan Zweig. Tradução de Adriana Lisboa e Raquel Abi-Sâmara. Zahar, 176 págs., R$ 39.
O austríaco Stefan Zweig (1981-1942) é conhecido por ser um dos escritores mais versáteis de seu tempo. Desde que iniciou a carreira literária como tradutor, ainda no século 19, se mostrou irrequieto e criativo em diversos gêneros literários. Escreveu poemas, ensaios, peças de teatro e biografias. E talvez seja, injustamente, menos conhecido por sua ficção.
Por isso, é tão oportuno e bem-vindo este volume Três Novelas Femininas, que reúne um tríptico de contos escritos entre as décadas de 1910 e 1920. Os três textos têm em comum o olhar libertário e avançado do autor sobre a condição feminina de sua época.
Selecionados e comentados pelo jornalista Alberto Dines, autor da mais completa biografia de Zweig no Brasil, as novelas se destacam por seus enredos intensos, criativos e surpreendentes.
E também pela forte influência da filosofia e da psicanálise de seu amigo e conterrâneo Sigmund Freud (1856-1939). Em especial, quando as personagens se deparam com situações de desespero, em que o amor e a condição feminina podem levar a situações de culpa, estigma e morte.
Zweig toca em temas tabu (pelo menos em seu tempo) como o adultério, sem moralismos e com romantismo e elegância. Seu texto é, ao mesmo tempo, ágil e sofisticado.
A primeira novela do livro é "Medo", publicada em 1919. Tornou- se um de seus escritos mais famosos, "marco inicial de um ciclo de novelas sobre os abismos do amor", segundo Dines.
O segundo texto é "Cartas de Uma Desconhecida", trabalho que repercutiu muito na Europa na década de 1920 e ganhou várias traduções. Na trama, o amor é uma verdadeira maldição e o enredo é tão engenhoso que mereceu várias adaptações para o teatro e o cinema.
Espelhos
O terceiro texto é o melhor da obra. "24 Horas na Vida de Uma Mulher" foi publicado pela primeira vez em 1922 e logo apontado como uma obra-prima da literatura em língua alemã (Freud foi um dos seus resenhistas mais entusiasmados).
A história é perturbadora: após um rumoroso incidente de adultério em um hotel de luxo, uma viúva inglesa acima de qualquer suspeita faz uma longa confissão sobre um dia passado em um cassino em Montecarlo, em que eventos inesperados mudaram o rumo de sua vida.
A história é um verdadeiro jogo de espelhos, uma celebração dos impulsos humanos (e femininos) e também um elogio a uma desordem social que só chegaria a ser aceita plenamente algumas décadas depois.
Com dois narradores, o enredo antecipa recursos considerados modernos da linguagem cinematográfica Zweig, naqueles tempos, estava fascinado pela sétima arte.
A edição caprichada conta com textos adicionais escritos por Dines, que comenta o contexto em que Zweig escreveu as novelas, a recepção dos leitores e as adaptações de suas histórias para o cinema e a televisão. GGGG
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