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Governo americano coloca Superman no encalço de Batman em O Cavaleiro das Trevas, de Frank Miller | Reprodução
Governo americano coloca Superman no encalço de Batman em O Cavaleiro das Trevas, de Frank Miller| Foto: Reprodução

Ele não é homem. Nem avião. Mas, com certeza, tem cidadania norte-americana. Exilado na Terra, depois da destruição de seu planeta natal, Krypton, Kal-El, ou Clark Kent, nome recebido de seus pais adotivos, é um cidadão exemplar. Nutrido com os valores da chamada América profunda, como integridade, espírito solidário e senso de comunidade, Superman não veste por acaso o azul, o vermelho e o branco, cores da bandeira dos Estados Unidos. Ele, apesar de ter nascido em terras muito distantes, como muitos que construíram o país, o defende, assim como tudo o que ele representa, com seus superpoderes.

Criado na ressaca da Grande Depressão dos anos 1930, que quase arruinou o país após a quebra da Bolsa de Valores de Nova York em 1929, Superman simboliza a esperança, a luz. É o homem que, criado no coração da chamada Terra dos Bravos, como diz o hino nacional ianque, é pura abnegação e coragem. Vigor físico e rigor ético. Salvar é seu lema – até porque teve, ele mesmo, uma segunda chance.

Clark Kent, em certa medida, é uma espécie de antítese de Bruce Wayne, alter ego de Batman, outro super-herói surgido na mesma época, criado nos anos 30 por Frank Foster e repaginado, mais tarde, por Bob Kane. Embora ambos sejam órfãos, Kal-El encontrou na América a família que perdeu com a destruição de seu planeta, além de calor humano e compaixão. O terráqueo Wayne, psicologicamente bem mais frágil do que Kent, não teve a mesma sorte. Todo o dinheiro herdado dos pais, assassinados pela criminalidade endêmica que assola Gotham City, não lhe proporcionou o alento oferecido ao menino extraterrestre pelos Kent. Restou-lhe, então, mergulhar nas trevas, e virar um homem-morcego, avesso à luz que Superman tanto defende e que o guia.

Duas faces de uma mesma cultura, Superman e Batman dizem muito do ambiente que os gerou quando analisados um à sombra do outro. Para o jornalista e crítico de cinema Marden Machado, "Superman segue as regras. Batman as quebra. No entanto, sempre os vi como complementares. O Superman inspira pelo exemplo. O Batman mexe com nossos medos. Se o mundo tivesse um Superman, obrigatoriamente precisaria ter um Batman. Para mim, um não pode existir sem o outro".

A Gotham City de Batman é uma Nova York pós-Depressão, escura e sórdida, repleta de becos onde o risco está sempre à espreita, pronto a emergir. Já a Metrópolis de Superman é Chicago, a grande cidade do Meio-Oeste, celeiro dos Estados Unidos, uma cidade sob ameaça dos gângsteres, mas que emana possibilidades, progresso. Tanto em uma quanto em outra o crime deve ser combatido, mas os dois heróis têm métodos, e princípios filosóficos distintos.

Superman age dentro da conformidade da lei, sem subvertê-la, sempre com o intuito de manter o status quo. Já Batman, não. O homem-morcego tem um senso de Justiça próprio, o que o coloca no limite da marginalidade, e pode fazer com que seja muitas vezes confundido com os contraventores. É meio herói, meio bandido. Sem superpoderes, ele é filho do capitalismo selvagem, da fortuna gerada pelos negócios de sua família, que usa como bem entende e financia a tecnologia que o torna mais forte, mais rápido e quase faz com que seja capaz de voar. Mas é tudo pago.

Como diz o diretor teatral e cineasta Paulo Biscaia Filho, "Batman é um homem tentando ser um deus. Superman é um Deus tentando ser homem".

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