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Cena de Jaguar IV Ato – Floresta de Carbono: de Volta ao Paraíso Perdido, de Francisco Carlos: dramaturgia selvagem | Juliana Hilal / Divulgação
Cena de Jaguar IV Ato – Floresta de Carbono: de Volta ao Paraíso Perdido, de Francisco Carlos: dramaturgia selvagem| Foto: Juliana Hilal / Divulgação

Conjunto da obra

Veja o que agradou ou decepcionou os críticos na 20ª edição do Festival de Curitiba, que teve recorde de ingressos esgotados:

Agradou

Édipo

Dirigida por Elias Andreato, foi considerada uma montagem segura da tragédia grega devido à compreensão do texto pelos atores.

Sua Incelença, Ricardo III

O espetáculo de rua dirigido por Gabriel Villela só recebeu elogios. O drama histórico de Shakespeare ganhou referências do Nordeste brasileiro e encantou o público pelas soluções cênicas como bonecos e cocos representando personagens.

Savana Glacial

O texto fragmentado de Jô Bilac foi considerado seguro e criativo.

Jaguar Cibernético

A dramaturgia do amazonense Francisco Carlos trouxe à mostra Conexão Roosevelt um exemplar da vertente do "pensamento selvagem", com elementos indigenistas. Os nomes dos atos de Jaguar Cibernético chamaram a atenção: "Banquete Tupinambá"; "Aborígene em Metrópolis"; "Xamanismo The Connection"; "De Volta ao Paraíso Perdido", assim como os das peças Namorados da Catedral Bêbada; Românticos da Idade Mídia e Banana Mecânica.

Não agradou

Trilhas Sonoras de Amor Perdidas

Muitos apontaram como defeitos na montagem de Felipe Hirsch a perda de ritmo devido à longa duração e a atuação ainda não amadurecida de Natália Lage.

Ligações Perigosas

A falta de criatividade é um dos senões apontados pelos críticos.

Pedras nos Bolsos

Apesar do desdobramento dos atores em diversos personagens, bem avaliado, o texto não agradou.

  • Abertura com espetáculo de rua (Sua Incelença, Ricardo III) popularizou o festival

Além da boa resposta do público neste Festival de Curitiba – 200 mil pessoas passaram pelos teatros da cidade em 13 dias, um aumento de 15% em relação ao ano passado – críticos ouvidos pela reportagem são unânimes em considerar esta uma das melhores edições da mostra oficial destes 20 anos. A avaliação indica uma opção acertada por parte da curadoria, que valorizou grupos estruturados.

"Não há como não reconhecer que o melhor teatro de dramaturgia passa pelos grupos", considera Valmir Santos, autor de um dos sites de crítica mais consultados do país (www.teatrojornal.com.br).

Miguel Anunciação, crítico do jornal mineiro Hoje em Dia, que há 15 anos frequenta o festival, veio com altas expectativas, dado o conjunto proposto na mostra. Quando chegou, achou ainda melhor.

Para ele, a qualidade de um festival anual depende da "safra" de espetáculos nacionais. "Os curadores tiveram um bom momento e puderam escolher peças que tornaram esta edição especialmente interessante. Mesmo naquilo de que não gostei vi méritos."

Acompanhe o que caiu bem ao olhar exigente dos críticos, e aquilo em que eles viram problemas:

Aprovado

Os motivos que levam um crítico a se surpreender com um espetáculo variam muito. Michel Fernandes, do site Aplauso Brasil e colaborador do Diário de São Paulo, gostou muito da montagem de Édipo, de Elias Andreato, porque foi a primeira encenação de uma tragédia grega que o deixou "realmente satisfeito", nas palavras dele. "Foi muito simples e muito direto. Eles conseguiram revelar toda o prazer de um texto bom, em um espetáculo bem falado e bem interpretado. É porque entenderam o texto."

No outro extremo do texto clássico, estão as criações coletivas. Esse aspecto de Adultério, escrito com base em Luigi Pirandello pela Companhia Atores de Laura, se destacou aos olhos da professora de literatura da Uniandrade e crítica teatral Anna Camati.

"Eles mostraram molduras [recortes da realidade] dentro de molduras, o que foi muito interessante", disse à reportagem.

Ela compartilha com Miguel Anunciação a aprovação a Os 39 Degraus, de Alexandre Reinecke, pela homenagem que presta ao teatro. "É um espetáculo para grande público, cheio de entusiasmo, com luz e atores admiráveis", avalia o mineiro.

Também foram bastante citadas as montagens O Livro e Savana Glacial.

Fringe

Se a mostra oficial foi aprovada, a paralela Fringe, criticada no passado pela variação da qualidade, se beneficiou da seleção de alguns espetáculos em nove mi­­cromostras.

Chamou a atenção dos críticos – mais do que do público – a seleção Conexão Roosevelt, feita pelo paranaense Ivam Cabral, autor e ator do grupo Os Satyros. A ideia era mostrar ao público do festival um recorte da vitalidade dos seis espaços cênicos localizados na Praça Roosevelt, no centro da capital paulista.

Cabral optou por um retrato completo da criação de Francisco Carlos, representado em sete das 13 peças da mostra. Desde 2004, o amazonense cria textos baseados no "pensamento selvagem", com referências da mitologia indígena trabalhadas sob o prisma da Filosofia, área de formação do autor.

"Ele deflagra um momento raríssimo da dramaturgia nacional a ser entendido daqui a algum tempo", elogia Valmir Santos. "É encantador sair de Curitiba tendo tido a oportunidade de ver e rever todos os textos dessa vertente."

Da produção curitibana, a peça mais citada pelos críticos é Oxigênio, da Cia Brasileira de Teatro. "É um trabalho de fôlego e mostra a capacidade de se reinventar da companhia, além de apresentar um novo autor [o russo Ivan Viripaev]", diz Santos.

Pode melhorar

Três dos quatro críticos ouvidos pela reportagem citaram Trilhas Sonoras de Amor Perdidas, de Felipe Hirsch, como exemplo de uma grande expectativa que frustrou em alguns pontos.

"A estrutura escolhida para apresentação da história toma muito tempo. Quando chega a virada do intervalo, o espetáculo já perdeu muitos espectadores", avalia Valmir Santos.

Miguel da Anunciação cita o conservadorismo e a falta de assunto de Adultério como um ponto baixo do festival, ainda que considere a obra defensável pelo conjunto da montagem. O mesmo ocorre com Pedras nos Bolsos, em que ele viu bons atores, boa iluminação, mas um texto ruim. "Culpabilizar a suposta massificação trazida pelo cinema americano é até xenófobo", diz.

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