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“Aerial Contortion in Silk”: coreografia dramática desenhada em torno da ideia de suicídio | Antonio Costa/Gazeta do Povo
“Aerial Contortion in Silk”: coreografia dramática desenhada em torno da ideia de suicídio| Foto: Antonio Costa/Gazeta do Povo

Quidam é supostamente o espetáculo no qual o Cirque du Soleil derramaria uma maior carga emocional, ao inscrever os atos acrobáticos – sua marca de excelência – em uma narrativa teatralizada. O roteiro do show, criado em 1996, acompanha a incursão da garota Zoe por um universo de seres fantásticos, despertados pelo descontentamento da menina com a sisudez do mundo adulto, representado pela mãe deprimida (papel da curitibana Denise Wal) e pelo pai, cujos olhos não se desviam das páginas de jornal.

A história, contudo, se dilui ao longo das duas horas de apresentação, às quais, pelo que se viu na estreia realizada sexta-feira (27) na tenda armada no estacionamento do Expotrade, em Pinhais, falta ritmo. E, contraditoriamente, emoção.

Em 2007, os canadenses impressionaram o público paranaense com uma sequência coesa e impactante de números que exploravam ao máximo as habilidades corporais dos seus artistas, no show Alegría. Ao retornar à cidade com o espetáculo seguinte de seu repertório, Quidam, a trupe não demonstrou o mesmo domínio da linguagem dramatúrgica: nem na construção da narrativa nem nas interpretações – ambas frágeis.

Na ansia de espalhar a história e seus personagens pitorescos ao longo do espetáculo (em busca, talvez, de unidade narrativa), são poucos os números que favorecem a concentração. O mais significativo deles é o "Aerial Contortion in Silk" (Contorção Aérea em Seda), quando o picadeiro se esvazia para receber apenas uma contorcionista e o tecido vermelho ao qual ela se agarra – muitas vezes sustentada pelo pescoço. A iluminação se fecha sobre a coreografia dramática, desenhada em torno da ideia de suicídio. A perfeição técnica e a emoção pretendida se realizam inseparáveis, como em nenhuma outra parte de Quidam.

No sentido oposto, maquiagem, figurinos e música, no geral, não repetem a plasticidade harmônica que se viu em Alegría e a distribuição dos artistas em cena é com frequência dispersiva.

Ao mesmo tempo em que um grupo de acrobatas se esmera em realizar com precisão movimentos difíceis, personagens alheios desviam, sem necessidade, o olhar do público. A menina Zoe, sentada atrás, observa o número. No canto, uma mulher gira sem parar sua saia rodada. Outro tipo sem importância se posiciona em um quarto ponto de atenção. Nada acrescentam, senão elementos desestabilizadores.

Mas Quidam tem seus momentos, que fazem jus à fama do grupo (e aos preços cobrados). É quando a excelência técnica volta ao centro do espetáculo e os artistas realizam atos aparentemente impossíveis para o corpo humano, que exigem equilíbrio, força ou sincronia limítrofes.

Em "German Wheel", o desafio é feito ao equilíbio e à gravidade, por um homem que se encaixa como o diâmetro da roda alemã e rodopia pelo palco. O número abre com sucesso a encenação, enquanto, nos intervalos, a plateia é cativada pelo palhaço que a convida a interagir.

A graça de um grupo de meninas chinesas (em "Diabolos") igualmente conquista espectadores, que até suspendem a respiração na ansiedade por que tudo saia de forma correta (e se compadecem de um erro) quando as crianças, munidas de fios onde equilibram carretéis, atiram-nos umas às outras, num jogo de destreza e sincronia.

Também impressionante é "Statue – Vis Versa", ato em que um casal usa de força e flexibilidade para constituir m corpo só. Chegam ao extremo de, os dois em posição vertical, um encaixar a cabeça na nuca do outro, que se equilibra de pernas para o alto. É daquelas visões verdadeiramente surreais – muito mais do que as tentativas de alcançar a surrealidade pela invasão de personagens esquisitos. GGG

Serviço

Quidam. Estacionamento do Centro de Convenções Expotrade (Rod. João Leopoldo Jacomel, 10.454 – Pinhais). Com o Cirque du Soleil. Quintas e sextas-feiras às 21 horas, sábados às 17 e 21 horas e domingos às 16 e 20 horas. R$ 300 (setores Premium, 1 e 2), R$ 230 (setor 3) – adicional de R$150 para acesso ao Tapis Rouge. Classificação indicativa: menores de 13 anos acompanhados dos pais ou responsáveis legais. Ingressos à venda pelo telefone 4004-3100 ou pelo site www.ticketmaster.com.br. Até 13 de dezembro.

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