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Les Misérables, A Bela e a Fera, O Fantasma da Ópera, Miss Saigon. São apenas alguns dos inúmeros musicais estrelados pelo curitibano Marcos Tumura, 39 anos, formado em dança pelo então CDC – Centro de Danças Clássicas do Teatro Guaíra.

Em 1987, com apenas 19 anos, ele foi fazer um teste para um papel no espetáculo Splish Splash (de Flávio Marinho, sob direção de Wolf Maya), "só para ver como era". Passou e dividiu o palco com uma das musas dos musicais nacionais, a atriz Cláudia Raia, com quem trabalharia por mais 12 anos.

Este ano, o artista completa 20 anos de carreira só de teatro musical, encarnando um dos mais desafiadores papéis do mega espetáculo Miss Saigon, o engenheiro cafetão vietnamita, que sonhava em enriquecer nos Estados Unidos em plena guerra. "Costumo dizer que já sou um senhorzinho, não tenho mais idade pra fazer essas coisas, não sei porque me meto", brinca. Confira trechos da entrevista concedida pelo ator ao Caderno G.

Caderno G – Como ingressou no mundo dos musicais? É um gênero que lhe agrada mais?Marcos Tumura – Há 20 anos, dançava, mas achava que faltava alguma coisa. Teve uma época em que entrei num dilema pessoal, "será que quero dançar, cantar, atuar?" E aí, quando fui encenar Splish Splash e vi que era possível fazer as três coisas ao mesmo tempo, me apaixonei por esse gênero. Nunca fiz um espetáculo só de teatro, a vida me levou para o musical.

Considera este boom de musicais importados positivo para os artistas e para o público brasileiros?Há muita gente tirando projetos das gavetas, o que antes era muito complicado. Agora, com as empresas abertas para patrocinar, a gente vê coisas nacionais aparecendo, não do tamanho de um Miss Saigon, ainda, é claro. Aqui em São Paulo, por exemplo, se você pega um jornal de cultura vê vários musicais em cartaz. Alguns são maravilhosos, divertídissimos.

Então é possível imprimir uma marca nacional no gênero?O caminho é começar a tirar projetos nossos da terra, da gaveta, e montá-los agora que os musicais importados abriram as portas para isso. Ultimamente, vários musicais do Rio vem para São Paulo, como, por exemplo, Rádio Nacional, Ô Abre-Alas, e são muito bem aceitos. A gente precisou desse ponta-pé inicial para começar a produzir com a mesma qualidade dos musicais franquiados, o que antes não era possível, pois não sabíamos direito como se fazia.

Há uma deficiência de profissionais aptos (que cantem, dancem e atuem) para participar de musicais?Como não temos essa tradição – nos Estados Unidos, as pessoas começam a fazer musicais no colégio –, começo a perceber um movimento do meio para se especializar. Gente que é só bailarino troca aula com quem é só ator ou só cantor... Está rolando um intercâmbio, até surgir alguma escola. A gente tem escolas aqui que estão dando aula de canto, de dança, mas nada tudo junto.

E como você aprendeu tudo isso 20 anos atrás?Tinha que usar o rebolado brasileiro, ir observando... Tive oportunidade de trabalhar com pessoas muito competentes, aprendi ao vê-las atuar. Sempre falo para quem está começando para não ficar muito louco, pois cada um tem um jeito de trabalhar. Se o que aprendi com os outros ficava comigo, ótimo, senão, não era para ser meu. Além disso, a dança me ajudou a ter muita disciplina. Diferente do ator, do cantor, sem querer desfazer nenhuma facção artística, o dançarino tem uma disciplina diferente, aprende pela observação. Quando veio a onda dos musicais, eu tive sorte de já saber um pouco de cada coisa. Uma das partes mais difíceis é saber cantar e dançar junto.

Como é a rotina de um artista de musicais?A gente tem que fazer teste, independentemente do currículo. Lógico que o currículo ajuda porque mostra que você tem experiência. Mas, é preciso se encaixar no papel. Chicago, por exemplo, não fiz porque não tinha a cara de nenhum dos personagens. É preciso ter um perfil físico. Além disso, o ator precisa ter conduta de atleta, se preparar fisicamente, comer direito, dormir o mais cedo que conseguir – o que é difícil, porque depois que a gente sai do teatro, a adrenalina está a mil. Como a gente ensaia muitas horas, automaticamente vai se condicionando fisicamente para cantar e dançar ao mesmo tempo.

Em Miss Saigon, canto e danço, o que foi um desafio porque passei dois anos, tempo em que participei de O Fantasma da Ópera, praticamente só cantando. No Miss Saigon, os ensaios duraram dois meses, nove horas por dia, com apenas um dia de folga na semana. Durante a temporada, fazemos sete espetáculos por semana de quase três horas (2h45). Vivo mais no teatro que na minha casa, meu camarim tem até colchãozinho.

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