Talento tipo exportação

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Em 2004, quando verteu ao português uma série de canções de David Bowie, para a trilha sonora do filme A Vida Marinha com Steve Zissou, o cantor e compositor brasileiro Seu Jorge foi achincalhado em seu país de origem.

Não foram poucos os que se apavoraram diante das medonhas releituras do carioca, que teve a manha de mudar os versos iniciais do clássico "Space Oddity" para "grande controle da Major Tom", ou então, transformar o refrão de "Rebel Rebel" em "zero a zero". Imperdoável. A não ser pa­­­ra sua enorme legião de fãs estrangeiros, que se deliciaram ao ouvir os hits de Bowie em versões acústicas, cantadas em uma língua tão, digamos, "exótica".

Seu Jorge ainda insiste em in­­­­cluir algumas dessas releituras em seus shows, mas, com certeza, a reação negativa o fez pensar duas vezes antes de traduzir para o português os versos de "Rock with You" (Michael Jackson) e "Das Model" (Kraftwerk), ou en­­­tão de cantar em inglês as antológicas "Cirandar" (Martinho da Vila) e "Juízo Final (Nelson Cavaquinho). Tanto que ele preferiu deixá-las em suas devidas versões originais (ufa!) em seu mais novo projeto, Seu Jorge and Almaz, que acaba de lançar seu CD de estreia homônimo, apenas no exterior.

Formada em 2008, durante as gravações de uma música para a trilha sonora do filme Linha de Passe (2008), de Walter Salles e Daniela Thomas, a banda Almaz consiste nos vocais de Seu Jorge, mais as guitarras de Lúcio Maia, a bateria de Pupillo – ambos integrantes da Nação Zumbi – e o baixo de Antonio Pinto, músico premiado pela criação das trilhas de longas-metragens como Central do Brasil e Cidade de Deus. No repertório, apenas releituras de canções que os influenciam musicalmente, em português e inglês – sem traduções!.

Produzido por Mario Caldato Jr. (Beastie Boys e Jack Johnson), o CD de estreia do Almaz foi lançado pela gravadora Now-Again, nos EUA, no mesmo dia em que o grupo iniciou uma turnê de três semanas pela América do Norte (27 de julho). Rendeu resenhas bastante elogiosas de veículos como The New York Times, Rolling Stone, Pitchfork e Seattle Times.

No dia 14 de setembro, será a vez da Europa, por onde a banda excursiona durante duas semanas, no final de outubro. Disponível no loja virtual iTunes, o álbum de estreia do grupo ainda não tem previsão de lançamento no Brasil, muito embora seja um trabalho que transpira brasilidade.

Em uma releitura climática e percussiva, repleta de reverb, "Errare Humano Est" (Jorge Ben) abre o disco, ganhando corpo e impressionando no vozeirão de Jorge, que capricha ainda mais na sequência, na suingada versão para "Cristina" (Tim Maia). A levada lenta de "Everybody Loves the Sunshine" (Roy Ayers) ganha ares de trip-hop, enquanto que o hit "Das Model" (Kraftwerk) é repaginado ao som de ritmos jamaicanos. Há ainda espaço para o samba-rock, em "Saudosa Bahia" (Noriel Vilela) e "Cirandar" (Martinho da Vila) ganhou arranjo idêntico ao de "Janaína", do mais recente álbum do pernambucano Otto. O único momento ruim fica por conta da "homenagem" de Seu Jorge a Michael Jackson, na equivocada versão de "Rock with You". Fora de tom,os vocais de Jorge seriam capazes de fazer o finado Michael levantar assustado do sono mais profundo de Demerol.

Graças à gatorra

Figura famosa no circuito underground brasileiro, o eletricista gaúcho Antonio Carlos Correia de Moura, 59 anos, mais conhecido como Tony da Gatorra, graças ao instrumento que ele mesmo inventou – a gatorra, uma espécie de bateria eletrônica com sintetizador em formato de guitarra – caiu de vez nas graças dos "gringos".

Após ter uma guitarra comprada por Nick McCarthy, da banda escocesa Franz Ferdinand , Tony trocou as ruas de Porto Alegre pelas do Reino Unido. Isso mesmo, após conhecer o galês Gruff Rhys, vocalista da banda Super Furry Animals, Tony parece ter ganhado o mundo de vez.

Em formato de duelo (Tony da Gatorra vs. Gruff Rhys), a dupla gravou disco The Terror of Cosmic Loneliness em um intervalo de cinco horas, durante uma das passagens de Rhys pelo Brasil. O resultado, descrito por ambos como "musicalmente heterodoxo e experimental" chegou às lojas estrangeiras em edição limitada no dia 26 de julho e, assim como o mais novo projeto de Seu Jorge, ganhou a simpatia da crítica.

De quebra, Tony participa ainda de Separado! (2010), documentário de Rhys que narra sua jornada pela América do Sul em busca de familiares galeses que vieram parar na Patagônia durante a Era Vitoriana. Isso tudo sem contar a turnê de divulgação do disco, que irá render uma bela viagem a Tony e sua inusitada gatorra.

Serviço:

Seu Jorge and Almaz, Seu Jorge and Almaz. Now-Again. Importado. Preço médio: US$ 15. GGG1/2

The Terror of Cosmic Loneliness, Tony da Gatorra vs. Gruff Rhys. OVNI/Turnstile Music. Importado. Preço médio: a confirmar. GGG