
Para colocar a literatura paranaense sob os holofotes, os diretores de “Paranã”, que estreia nesta quinta (6) no Novelas Curitibanas, privilegiam em cena a presença de quatro ótimos atores. No formato de monólogos, eles trazem alguns dos textos mais importantes de escritores locais, que situam suas narrativas em diferentes partes do estado.
“Outro elemento de união é a excelência dos textos, que retratam pessoas esquecidas, desvalidas e solitárias, mas que constroem histórias diárias poderosas”, disse à Gazeta do Povo a idealizadora Nena Inoue, que realizou três ensaios abertos destinados à imprensa e estudantes.
O cenário é exíguo, bancos e poltronas onde os atores estão sentados. Pouco mais. Quando chega a vez de cada um falar, a luz certeira de Beto Bruel cria mundos ao redor dos intérpretes, faz sair sol, cair a chuva.
O projeto de Nena Inoue começou em 2007 com leituras dramáticas que incluíram “Mar Paraguayo”, que ela considera a obra-prima de Wilson Bueno, morto em 2010. O texto foi reduzido e “encaixado” no corpo e voz de Silvia Monteiro, que dá vida a uma guarani moradora de Guaratuba, onde é a libertina local, “marafa”, sortista. A novela de Bueno inova ao mesclar o português ao espanhol e guarani, e Silvia usa isso em seu monólogo, sob direção de Nadja Naira. Se algumas palavras são incompreensíveis, o todo do relato é absorvido na interpretação generosa da atriz. Vale ressaltar que são oito anos de experiência com o texto.
Esfuziante é a narração que Rafael Camargo faz de “O Encalhe dos 300”, texto do londrinense Domingos Pellegrini que a equipe também considera sua obra-prima. É a hora de irmos ao interior enlameado, onde a chuva impede que caminhões, ônibus e carros saiam de um atoleiro entre Cruzeiro do Oeste e Cianorte. O texto parte do melhor e do pior do ser humano em situações de crise, e a interpretação de Camargo não economiza vigor, energia, entrega.
A direção foi de Nena, que, por sua vez, foi dirigida por ele ao contar pequenos textos de Dalton Trevisan – o escritor foi o “autor inaugural” do Novelas Curitibanas, em 1992, quando Ademar Guerra revolucionava nossa cena teatral com “O Vampiro e a Polaquinha”.
“Dois Velhinhos”, “Ipês” e “Mil Passarinhos” são textos mais líricos do que sacanas na extensa obra de Dalton, em que a Praça Tiradentes revela flores no alto das árvores sobreviventes, mas que ninguém vê florescer, e atitudes poéticas de onde nada se esperaria.
Nena também dirige o caçula do grupo, Ricardo Nolasco, da Casa Selvática. A portentosa figura empresta só a cabeça para o mais teatral dos solos, “O Grande Circo de Cavalinhos”, de Dalton. Usando objetos e bonecos, ele confere ainda mais fantasia ao hiperbólico conto em que ninguém sai ileso de um espetáculo circense.
A hora da literatura
Além das apresentações até 6 de setembro, em alguns domingos, às 16 horas, a trupe propõe encontros no próprio Novelas para falar da nossa história teatral. Em 2016, Nena trará “Curitiba Mostra”, projeto que reúne diferentes coletivos encenando vários escritores locais ( como Manoel Karam e Jamil Snege).



