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CINEMA

Vida longa ao Shakespeare

Presença de astros na nova versão de “Macbeth”, em cartaz na cidade, joga nova luz sobre adaptações da obra do bardo inglês

James McAvoy é um cozinheiro em versão de “Macbeth”, da BBC. | Divulgação
James McAvoy é um cozinheiro em versão de “Macbeth”, da BBC. (Foto: Divulgação)

Volta e meia surge uma adaptação de Shakespeare para o cinema com grandes astros, como é o “Macbeth”, de Justin Kurzel, em cartaz na cidade, com Marion Cotillard e Michael Fassbender no papel do casal sanguinário.

Diferentemente de outras produções grandes como “Romeu + Julieta” (1996), com Leonardo DiCaprio, que funcionam de forma autônoma, este “Macbeth” trabalha com um lirismo de filme-arte que poderá chocar quem não conheça o enredo de antemão.

A peça em si é apoiada em profecias e sutilezas que exigem uma imersão no drama interior dos personagens, atormentados primeiro pela fantasia de grandeza, depois, pelos atos criminosos realizados para “apressar o destino”.

A opção do filme foi por situar a trama na Escócia medieval, mais ou menos na época sugerida pelo bardo em sua peça. Além disso, os diálogos reproduzem o texto escrito por Shakespeare, o que amplifica o resultado lírico.

Mas nem sempre as adaptações se atêm às palavras e cronologias do autor – e isso não é nenhum problema.

“Eu considero uma boa adaptação um filme que realmente recrie a peça, e não tente ser fiel”, opina a estudiosa de Shakespeare da UFMG Thaïs Flores Nogueira Diniz. Como exemplo, ela cita “Trono Manchado de Sangue”, em que Akira Kurosawa transporta ao Japão dos samurais a trama de “Macbeth”, falada em japonês e criando uma atmosfera hipnotizante.

Um ótimo exemplo de recriação é a série da BBC para a televisão “Shakespeare Retold” (“Shakespeare Recontado”), que apresentou em 2005 versões para três comédias do bardo, transpostas aos dias de hoje, além de um “Macbeth” impressionante, em que o protagonista e sua mulher são chef e hostess de um restaurante – e as três bruxas, que predizem o destino do casal, inebriantes lixeiros.

Surgem cada vez mais filmes que abordam o próprio processo de adaptação, visto ser essa uma área que tem atraído interesse crescente.

A professora da UFPR Célia Arns de Miranda cita “Shakespeare Apaixonado” (1998), com Joseph Fiennes como o jovem bardo. Passado nos bastidores do teatro, o longa permite ao espectador imaginar como seriam as montagens no século 16.

Outro apaixonado por Shakespeare, Al Pacino, fala sobre a relevância do autor nos dias atuais: “À Procura de Ricardo III” (1996). “São filmes que evidenciam como tudo é recriação”, diz Célia.

A busca por fidelidade é uma ilusão.

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