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Show comemorativo aos 30 anos de carreira de Nei Lisboa irá revisitar seu cultuado repertório | Adriana Franciosi/Divulgação
Show comemorativo aos 30 anos de carreira de Nei Lisboa irá revisitar seu cultuado repertório| Foto: Adriana Franciosi/Divulgação

Cronologia

Nascido em Caxias do Sul (RS) e radicado em Porto Alegre, Nei Lisboa é uma personalidade no Rio Grande Sul. Ele construiu uma obra sólida. Confira abaixo

Estreia

Em 1983, lança o seu primeiro álbum, Pra Viajar no Cosmos Não Precisa Gasolina. No ano seguinte, aparece com Noves Fora.

Multinacional

A EMI viabiliza, em 1987, Carecas da Jamaica, Prêmio Sharp de Revelação Pop/Rock. Em 1988, sai Hein?!.

Longe demais das capitais

De maneira independente, lança Amém (1993).

Clássicas em inglês

Com Hi-Fi, de 1998, ele revisita clássicos pop, de Beatles a Elton John.

Maturidade

É com Cena Beatnik (foto), de 2001, que ele amplia ainda mais o público, que o acompanha desde a década de 1980.

O futuro chegou

Em 2003, é a vez de Relógios de Sol e, em 2006, de Translucidação.

Opinião

Cantar fez Nei Lisboa pular o mundo

Marcio Renato dos Santos, repórter da Gazeta do Povo

Ele imprime cores no imaginário humano pela soma de sonoridade melódica e texto elaborado. Em três décadas, tornou-se sinônimo de música popular de qualidade, principalmente no Rio Grande do Sul. Mas há, espalhados pelo Brasil, ouvintes que se entusiasmam e emocionam intensamente quando soa uma canção de Nei Lisboa.

"Páginas ao vento em confissão/ Luas de setembro, céus em minhas mãos/ Nuvens em assombro e procissão/ Luas que me lembram noites que virão", canta Lisboa, em "Confissão", faixa de seu álbum mais recente, Translucidação, de 2006.

O artista, que cria primeiro as melodias para em um segundo momento escrever a letra, é sutil. Ele sabe dizer "eu te amo" sem dizer "eu te amo". Ou seja, Lisboa sempre encontra um viés inédito para falar o que precisa, e isso o credencia como um compositor do primeiro time da MPB.

Basta conferir qualquer fragmento de uma canção dele, como "Fábula": "Não importa o mundo/ Não importa o mundo, o que disser/ Só você do meu lado, chega/ Você do meu lado chega/ E você do meu lado chama a atenção."

Ouvir o repertório de Lisboa, seja as lentas ou as rápidas, é se deparar com achados, belezas, um arco-íris noturno. Em "Máquinas de Fazer Máquinas", ele se supera, ainda mais, ao falar sobre o que pode ser a passagem do tempo: "Olha as horas/ Olha as horas como passam/ Distraídas em silêncio/ Como marcam seus compassos/ Olha as horas como esperam/ Como se espreguiçam/ Olhas as horas como voam/ E não marcam compromissos."

Desde o primeiro álbum, de 1983, até agora, Lisboa mantém regularidade. Dito de outra maneira: ele não consegue "cometer" um álbum ruim, nem regular.

O efeito das canções desse artista parece transportar todo e qualquer ouvinte a um estado de quase-felicidade, a partir da força do canto de uma voz suave.

"Por isso meu amor/ Não leve tão a sério/ Se eu morro de medo/ Brinco de paixão/ Não vai ter graça o dia/ Em que eu te ver na porta/ E não souber se entro/ Ou faço uma canção", canta em "Romance", uma espécie de confissão de seu propósito neste mundo.

O cantor e compositor gaúcho Nei Lisboa, de 51 anos, faz amanhã (28) o show de estreia de sua turnê nacional, Vapor da Estação (confira o serviço completo do show), em Curitiba. Ele vai mostrar, no palco do Guairinha, algumas das canções mais conhecidas de seus nove álbuns, gravados em 30 anos de carreira.

Cantores, bandas e intérpretes gaúchos da nova geração, como Marietti Fialho, Planet Roots e Frank Jorge, participaram da gravação do álbum Baladas do Bom Fim, com releituras de canções de Lisboa. Caetano Veloso regravou "Pra Te Lembrar", do álbum Relógios de Sol (2003), tema do filme Meu Tio Matou um Cara, de Jorge Furtado. Zélia Duncan incluiu o clássico "Telhados de Paris" em seu repertório.

A trajetória de Lisboa, a exemplo do curso de um rio, teve alguns desvios, inesperados até, e ele soube recriar a realidade por meio de texto e música, sem mágoas, e com algum lirismo.

Um ziguezague surpreendente

As aparições de Lisboa em bares, teatros e espaços alternativos da capital gaúcha não passaram despercebidas dos olhares e ouvidos do público e da crítica. Já nos primeiros anos da década de 1980, a revista Bizz, principal vitrine para quem fazia música popular no Brasil, dedicou páginas e mais páginas para elogiar, e endossar, a qualidade das canções do artista do Rio Grande do Sul.

Em 1987, a EMI, gravadora multinacional, lançou Carecas da Jamaica, álbum em que, com olhar crítico e a verve de poeta, Lisboa fez uma espécie de crônica da Era Sarney, quando a inflação galopava dia após dia e o apocalipse não parecia distante.

Se o chamado grande público quase não tomou conhecimento da performance do artista, jornalistas de todo o país aplaudiram e escreveram elogios que garantiram a Lisboa mais um álbum pela EMI. Mas, durante as gravações, a namorada dele morreu em um acidente automobilístico. Quando Hein?! começou a ser distribuído nas lojas de discos, em 1988, ele estava emocionalmente fragilizado pela perda e praticamente desistiu da vida de artista.

Em Porto Alegre, começou a escrever o romance Um Morto Pula a Janela, publicado em 1991 pela editora Artes & Ofícios. Gravou o álbum Amém, em 1993, mas o entusiasmo dele estava em baixa. Abriu uma empresa de editoração eletrônica e deixou o acaso ditar os seus passos pela vida.

Ao revisitar a memória, co­­meçou a lembrar do período em que viveu no sul da Cali­­fórnia (EUA), entre 1975 e 1976. Naquela temporada, com um violão de aço em pu­­nho, ele tocava e cantava canções como "Bennie and The Jets", de Elton John, "Every­bo­dy’s Talking", de Fred Neil e "Ventura High­way", de Deney Bunnel. Em "modo acústico", gravou essas músicas, de seu imaginário afetivo, o que re­­sultou no álbum Hi-Fi, de 1998, que provocaria uma reviravolta em sua trajetória.

Cena Beatnik

O show de lançamento de Hi-Fi em Curitiba foi em um 12 de junho, dia dos namorados, e envolveu uma promoção. Ao comprar dois ingressos, o álbum era "de presente". A estratégia deu certo e, durante quatro anos seguidos, ele retornou à capital paranaense para mostrar o seu repertório autoral.

Então, a exemplo do que fez em Carecas da Jamaica, esboçou uma nova crônica sonora de um período, no caso, do início do século 21, em que fóruns sociais e protestos criaram uma ponte com os anos 1960. Cena Beatnik, de 2001, tem algumas das canções que o público mais admira, entre as quais "E a Revolução", tributo a seu irmão mais velho, Luiz Eurico, um dos primeiros desaparecidos políticos brasileiros, cujo corpo foi localizado, pouco antes de a década de 1970 apagar as luzes.

Lisboa reconhece que são as letras de suas melódicas canções o motivo pelo qual ele é cultuado, principalmente no Rio Grande do Sul, onde a sua obra encontra ampla ressonância. "Sou grato, mas não posso me contentar com esse ‘afago’. Afinal, o gaúcho costuma praticamente esconder embaixo da cama aquilo que admira", diz, anunciando que essa turnê nacional, com patrocínio da Petrobras, tem a finalidade de "revelar" o seu conteúdo para novas plateias.

Recentemente, ele disponibilizou todos os seus álbuns em seu site (www.neilisboa.com.br), por meio de um programa chamado webvitrola.

E o próximo passo? Lisboa ainda não sabe de que maneira vai veicular canções, se em CD, DVD ou apenas na internet. "Por hora, é tempo de mostrar o que já fiz. Depois? Não dá para saber o que o amanhá dirá", finaliza.

Serviço:Vapor da Estação – Show comemorativo aos 30 anos de trajetória de Nei Lisboa (confira o serviço completo do show). Guairinha (R. XV de Novembro, 971), (41) 3304-7900. Dia 28, às 21 horas. R$ 30 e R$ 15 (meia).

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