
Um espaço para experimentar e realizar o que não é possível nas emissoras comerciais. Essa é, ou deveria ser, a missão e o objetivo das tevês e rádios públicas no Brasil. Pelo menos é assim que pensam estudiosos, professores universitários e jornalistas consultados pela Gazeta do Povo.
As emissoras educativas, sem compromisso com audiência e patrocinadores, têm de, até por obrigação, oferecer à população conteúdos inusitados, de qualidade e com linguagem não-convencional. Quem afirma é o professor de Comunicação Social da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Elias Santos.
Mas, na prática, é possível um canal público sobreviver sem qualquer compromisso com audiência e verbas?
O rádio surgiu praticamente público no Brasil. Embora a primeira emissão, precária e experimental, date de 1919, em Pernambuco, foi apenas três anos mais tarde que ocorreu a pioneira transmissão oficial. Depois da veiculação de um especial sobre o Centenário da Independência, no Rio, o presidente Epitácio Pessoa deixou os equipamentos sem uso. Em 1923, Edgar Roquette-Pinto conseguiu comprar os aparelhos e colocar em funcionamento a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, a primeira do país. O conteúdo era, basicamente, educativo.
Assim, como a emissora de Roquette-Pinto, outras tentaram não ser comerciais, mas as décadas de 1940 e 1950 provariam que, para sobreviver, era imperativo buscar anunciantes e conquistar ouvintes.
A televisão, por sua vez, já surgiu comercial, pelas mãos de Assis Chateaubriand, em 1950. Diferentemente da situação europeia, em que há modelos alternativos, como a britânica BBC, pública porém independente do governo e bastante popular, os canais educativos no Brasil, de maneira geral, dizem os especialistas, não conquistam corações e mentes. E isso tem explicação.
A TV Cultura, de São Paulo, é uma unanimidade. Ela é apontada, pela maioria dos profissionais de imprensa, como a mais bem-sucedida experiência entre os canais não-comerciais no Brasil. Qual o segredo para essa performance?
"Primeiro, a longevidade", diz o coordenador de qualidade da emissora, o jornalista Gabriel Priolli. No ar há 40 anos, a emissora, que conta com o aporte financeiro do governo paulista, entre erros e acertos, criou uma espécie de "selo de qualidade." Da programação infantil, que obrigou o SBT, por exemplo, a repensar o conteúdo, ao jornalismo, a TV Cultura, na opinião de Priolli, "faz a diferença".
Outro trunfo da emissora paulista, diz o professor de Ética da Universidade de Brasília (UnB) Fernando Paulino, é o conselho curador, formado por quatro dúzias de notáveis. Esse grupo, que inclui jornalistas, professores universitários e integrantes da sociedade, têm poder real, para tirar, e derrubar, o presidente da emissora.
A situação regional
A Rádio e Televisão Educativa do Paraná (RTVE) divide opiniões. A rádio, que opera em AM e FM, e o canal de tevê seguem na opção estatal, o que é previsto pela Constituição Federal. O diretor-presidente da Paraná Educativa, Marcos Batista, comenta que o "viés" educativo remete à época da ditadura militar, quando se veiculavam cursos e programas, efetivamente, "educativos".
Durante a gestão Roberto Requião, ou seja, desde 2003, a RTVE tem a maior parte da sua programação dedicada a temas sociais, que dialogam com a visão de mundo do governador do Paraná.
Na última quinta-feira (22), a emissora transmitiu um debate, com a presença de Requião, sobre o pré-sal, que contou com a presença de dois ministros e do presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli. Na discussão ficou clara a posição nacionalista do governador.
Há quem critique a programação da RTVE. O professor do curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Luiz Paulo Maia diz que a "Paraná Educativa é uma televisão para se ouvir, como se fosse um rádio, porque não tem geração de imagens, apenas programas de debates e entrevistas, além do fato de a tevê ser uma espécie de vitrine pessoal do governador".
O diretor-presidente da RTVE, Marcos Batista, que já trabalhou em emissora comecial, explica que o objetivo do canal público é dar voz a quem não costuma ser ouvido e a temas que não são discutidos em outras emissoras. "Não buscamos o furo, a notícia em primeira mão, mas sim a discussão e aprofundamento posterior", diz Batista.
A RTVE, dentro das 24 horas, produz sete horas de conteúdo próprio, e o restante do tempo é preenchido com retransmissões, incluindo 15 minutos diários da Telesur, a rede de Hugo Chávez.
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