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O tradicional figurino azul e branco de Roberto Carlos vai combinar com as cores nacionais do Estado de Israel | Divulgação
O tradicional figurino azul e branco de Roberto Carlos vai combinar com as cores nacionais do Estado de Israel| Foto: Divulgação

Tel Aviv, Israel - Nas curvas da estrada de Tel Aviv para Jerusalém, o "Rei" já está presente. Bandeirolas com o rosto de Roberto Carlos enfeitam os postes na entrada da cidade sagrada, onde o cantor se apresenta, em show único, no dia 7 de setembro, para um público estimado em 5,5 mil pessoas num anfiteatro colado às muralhas da Cidade Velha. A poucos dias da apresentação – que será gravada em tecnologia 3D e transmitida pela TV Globo no dia 10 de setembro, além de gerar o indefectível DVD –, o entusiasmo dos produtores, dos 300 técnicos brasileiros e locais, dos cerca de 1,5 mil fãs que vão viajar à Terra Santa só para o evento – a empreitada incluía levar 3 mil, mas não havia logística possível – e da comunidade de 15 mil brasileiros em Israel aumenta a cada segundo. Afinal, não é todo dia que o autor da música "Jesus Cristo" canta na cidade onde o próprio viveu e morreu.

Mas o show – que contará com um cenário grandioso de 14 metros de altura, avaliado em cerca de R$ 600 mil, e um palco de 40 metros de fundo reproduzindo os principais pontos religiosos da Cidade Velha: o Muro das Lamentações, a Igreja do Santo Sepulcro e a Mesquita de Al-Aqsa – não vai acontecer sem uma pitada de polêmica, como é de praxe no Oriente Médio. A data e o repertório não agradaram aos diplomatas brasileiros em Israel. Afinal, todo ano, o 7 de setembro é reservado para a comemoração oficial do Dia da Independência na residência do embaixador, em Herzelyia (ao norte de Tel Aviv), com presença de autoridades locais e convidados internacionais.

Este ano, por causa do show de Roberto, o coquetel teve de ser adiantado para às 17h – para evitar o forfait de quem já comprou ingresso para o concerto, às 20h, e para que a própria embaixadora, Maria Elisa Berenguer, possa comparecer. "Todo artista tem liberdade para marcar shows quando bem entende. Nesse caso, trata-se de uma feliz coincidência", diz, apaziguadora, a embaixadora Berenguer. "Afinal, o Roberto representa o Brasil, mesmo que não oficialmente."

Controvérsia

Justamente por ser um "representante informal" do país é que alguns diplomatas desaprovam a intenção do Rei de cantar, em hebraico, uma das músicas mais populares em Israel: "Jerusalém de Ouro". O Coral da Hebraica de São Paulo até já gravou um acompanhamento da canção para o show. A música é um hino de amor à cidade milenar, composta pouco antes da Guerra dos Seis Dias, em 1967, quando Israel conquistou, da Jordânia, a parte Oriental de Jerusalém. Para alguns, ao cantar a música, Roberto Carlos estaria demonstrando apoio à ocupação dessa parte da cidade, onde moram, hoje, cerca de 250 mil palestinos, principalmente se subir ao palco com seu tradicional modelito azul e branco – cores da bandeira de Israel.

"Não acho ruim que ele cante em hebraico, acho até um gesto simpático. Cantar em inglês não quer dizer apoiar a política americana ou britânica, por exemplo. Mas, como boa parte dos moradores de Jerusalém fala árabe, seria interessante se ele cantasse também em árabe", acredita a embaixadora.

Hesitação

Talvez por causa dessa controvérsia é que Roberto tenha se mostrado um tantinho hesitante em entrevista publicada pelo jornal israelense Yedioth Aharonoth (Últimas Notícias), o maior do país. No texto, o cantor parece que pode estar repensando o ato de colocar a mão na cumbuca do conflito entre israelenses e palestinos. Há anos, alguns artistas preferem não se apresentar em Israel para evitar esse tipo de problema, sem contar os que ativamente boicotam o país.

"Aprendi a cantar ‘Jerusalém de Ouro’ em hebraico, mas não tenho certeza se vou cantá-la. Por enquanto procuro outras músicas de amor em hebraico" disse ao repórter Nevo Ziv, que foi levado ao Rio de Janeiro pela produção do show, passando três dias em uma imersão de Roberto Carlos.

Para o produtor israelense do show, o poderoso empresário Shuki Weiss, é preciso deixar a política de lado, mesmo que Roberto tenha marcado um encontro com o veterano presidente israelense Shimon Peres para quando colocou os pés na Terra Santa, na última quinta-feira.

"Toda a história por trás da vinda dele a Jerusalém é fazer uma apresentação na cidade sagrada para tantas religiões, pessoas e nações. O investimento que está sendo feito no palco e no cenário trata da harmonia entre os povos e da possibilidade que vivamos juntos, muçulmanos, cristãos e judeus", alega Weiss. "A produção do cantor não está economizando em nada, sendo rigorosa nos detalhes para espelhar o multiculturalismo de Jerusalém."

O cantor brasileiro também recebe, do patriarca latino de Jerusalém, Fouad Twal, a condecoração de Cruz do Mérito, a mais alta comenda da Igreja Católica em Israel, além de produzir um especial que será vendido em 115 países e lançar o livro Rei, com mais de 500 páginas com fotos de sua trajetória.

Preocupações

Além do horizonte da questão política, a produção de Roberto enfrenta a realidade do Oriente Médio, que preocupa os quase 1,5 mil fãs do cantor que já compraram pacotes para uma viagem de cinco dias à Terra Santa, a preços que variam de US$ 3,4 mil (R$ 5,5 mil) a US$ 14,2 mil (R$ 22,8 mil). Segundo a produção, apenas jornalistas foram convidados a ir do Brasil para Israel. Os outros conterrâneos presentes, incluindo famosos como o humorista Tom Cavalcante e o empresário José Victor Oliva, custearam as próprias viagens. Além de assistir a apresentação, os fãs-peregrinos irão conhecer pontos de turismo cristão como a Galileia, o Mar Morto e Nazaré. Há dez dias, uma série de atentados terroristas abalou o Sul de Israel e levou as forças de segurança locais a aumentares o nível de alerta por todo o país para possíveis ataques. São muitas emoções.

Além de agradecer às parcerias diversas – a própria produção admite que a conta jamais fecharia –, o empresário Dody Sirena e o império do Rei não deixam de sonhar: se o saldo da conquista do Oriente Médio for considerado positivo, a intenção é levar o espetáculo a um lugar diferente a cada ano, mais ou menos como acontece com o cruzeiro Emoções a Bordo, que há oito anos leva os fãs do Rei para balançar em alto-mar.

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