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O público acostumado a algumas montagens vistosas da Sutil Cia. de Teatro, com cenários às vezes grandiosos e ritmo agitado, se assustou e renegou Thom Pain – Lady Grey, apresentada no FTC em duas sessões no fim de semana no Teatro da Reitoria.

A Sutil destaca um exercício de linguagem difícil até para um público acostumado a acompanhar constantemente o teatro. O espetáculo agride desde o começo, a começar pela pouquíssima movimentação dos atores – Guilherme Weber e Fernanda Farah –, o cenário escasso e a iluminação centrada em um único ponto do palco. As histórias contadas, em princípio, não têm pé nem cabeça, ou um propósito definido. Isso vai incomodando o público de tal forma que muitos abandonam a peça – a maior parte no intervalo do primeiro para o segundo ato, mas alguns durante a própria encenação.

Thom Pain – Lady Grey é longo e tedioso, mas parece ser essa exatamente sua intenção para mostrar o processo de desconstrução e entendimento de um relacionamento que não deu certo. Mas a recusa do público não deve ser encarada pela companhia apenas como se o espectador não tivesse entendido a peça – a comunicação esperada não foi atingida. A peça estreou no FTC e ainda está em construção – algumas coisas devem ser modificadas na seqüência para conseguir uma aproximação maior com o espectador.

Um espetáculo não tão árido, mas com uma temática ousada, que poderia incomodar o público, teve boa recepção em sua passagem no FTC 2007: A Refeição, direção de Denise Weinberg, apresentada no Teatro do Sesc da Esquina. A peça é curta, formada por três histórias escritas pelo dramaturgo Newton Moreno, que têm como ponto comum o canibalismo.

As duas primeiras partes se sobressaem na montagem, adicionando ao tema central às perversões sexuais. Primeiro, um casal "aprofunda" sua relação depois que o marido come um dedo da esposa; pena que a trama dure pouco mais de dez minutos, pois tinha potencial para ser mais desenvolvida, rendendo uma ação mais interessante. Depois, na seqüência mais polêmica, um homem comenta seu envolvimento com mendigos, afirmando que só tem prazer em se relacionar com pessoas sujas.

O texto provoca e incomoda o espectador, levando a risos nervosos, sendo muito bem defendido por Marat Descartes, destaque maior do elenco. A última parte, sobre o encontro de um índio e um antropólogo é interessante, mas destoa bastante do restante da peça.

Ainda no fim de semana, estreou Zona de Guerra, da companhia paulista Triptal. Antes do espetáculo, foi apresentado um vídeo sobre o grupo. Não que isso seja sempre necessário, mas o filme é uma forma interessante de integrar o espectador ao repertório da companhia, que atualmente está desenvolvendo montagens baseadas nas obras do dramaturgo Eugene O’Neill, todas referentes à época em que ele foi marinheiro, no início do século 20.

Zona de Guerra é o segundo de uma série de quatro textos do autor que o grupo prentende encenar – a intenção é reuni-los em uma única peça, no futuro. Mas o texto curto não segura uma hora de peça. Fala de um grupo de marinheiros em uma situação-limite, provocada pela desconfiança de todos sobre um deles. A trama é óbvia e o desfecho previsível. Talvez fique melhor inserida na montagem completa que o grupo pretende realizar.

Thom Pain – Lady Grey – GG1/2A Refeição – GGGGZona de Guerra – GG

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