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Há muito tempo não se via uma parceria entre ator e diretor dar tão certo no cinema. E não se trata apenas de o primeiro ser o alter-ego preferido do segundo, como acontecia com as duplas Marcello Mastroianni & Federico Fellini, James Stewart & Alfred Hitchcock e Martin Scorsese & Robert De Niro. O que acontece entre Tim Burton e Johnny Depp parece até magia. Os trabalhos que os dois já fizeram juntos são a prova do quanto excentricidade, inteligência e talento em dobro podem render resultados literalmente fantásticos nas telas.

Depois de "Edward mãos de tesoura" (1990), "Ed Wood" (1994) e "A lenda do cavaleiro sem cabeça" (1999), os dois estão juntos novamente em "A fantástica fábrica de chocolate". E já estão envolvidos no projeto do filme de animação em stop-motion (animação em bonecos) chamado "Noiva cadáver".

"A fantástica fábrica de chocolate", baseado no clássico infantil do britânico Roald Dahl e já transformado em película em 1971, chega ao Brasil esta sexta-feira, uma semana depois de estrear nos Estados Unidos em primeiro lugar.

O faturamento nas bilheterias norte-americanas já cobriu mais de um terço do custo, que foi de US$ 150 milhões declarados oficialmente. Mas estima-se que, com a publicidade, esse número chegue a US$ 250 milhões. A grande parceira na campanha de divulgação pelo mundo foi a verdadeira fábrica de chocolates Nestlé. O material promocional do filme incluía barras Wonka. Infelizmente, no Brasil a multinacional não teve interesse em fazer a guloseima.

Em "A fantástica fábrica de chocolate", Depp é o extravagante dono da fábrica, Willy Wonka. Na primeira versão o personagem foi vivido por Gene Wilder. Os cabelos louros e assustadores, os olhos esbugalhados, o nariz e os dentes imperfeitos de Wilder já assustavam qualquer criança. Agora, Depp faz até os adultos tremerem diante de Wonka.

O fabricante de chocolates nesta refilmagem é um homem notadamente avesso a gente, família, crianças. Em um determinado momento, quando o guloso Augustus Gloop cai no rio de chocolate, sua mãe pergunta se será feito um doce do filho. Ao que Wonka garante: "Minha senhora, se gente virasse chocolate ninguém compraria, pois teria um gosto horrível."

A excentricidade na aparência do Wonka do passado e o de agora está toda lá, assim como no livro. Depp, inclusive, fez questão de escolher o figurino - com a indefectível casaca de veludo -, o penteado, a cor dos olhos (desta vez são violetas) e até os dentes (perfeitos, já que Wonka é filho de um renomado dentista da cidade). Tim Burton deu total liberdade para o ator.

- Ele está disposto a correr riscos, cada vez que trabalho com ele, ele é alguma coisa diferente - derrama-se em elogios o diretor no material de divulgação do filme.

Depp conta que, ao ser chamado por Burton para o projeto, nem esperou o diretor acabar de completar a frase explicando qual seria o filme.

- Se Tim quisesse filmar 54 mil metros de filme em que eu fico olhando para uma lâmpada e não pudesse piscar por três meses, eu faria - disse Depp.

Para completar a magia da direção de Burton e da atuação de Depp, entra em cena o pequeno ator Freddie Highmore. Ele é o Charlie do título original do filme ("Charlie and the chocolate factory"). Quem viu "Em busca da Terra do Nunca", também com Johnny Depp, vai lembrar daquela criança com carinha tristonha que tem uma impressionante habilidade em passar emoção sem ser falso ou forçadamente um adulto em cena.

Aquela velha e inesquecível música dos oompa-loompas... Oompa-loompas? Sim, aqueles anõezinhos de cabelos verdes da versão original que eram operários da fábrica de Wonka. É a batida da canção deles ("Ooom-pa loom-pa, oom-pa loom-pa loom-pa...") modificada pelo mestre em trilhas sonoras Danny Elfman, ex-vocalista do Oingo Boingo, que inicia o filme enquanto o espectador se delicia com as máquinas da fábrica.

Mas lembre-se: essa versão é muito menos musical que a primeira. Ninguém canta, apenas os pequenos operários da fábrica. Os oompa-loompas dão show em quatro cenas em que recontam as terríveis desventuras das crianças mal comportadas durante o passeio pela fábrica. As músicas respeitam as letras presentes no livro (em forma de cantigas) e ganharam melodias inspiradas em musicais das produções de Hollywood, no estilo retrô dos anos 70 e na psicodelia dos anos 60.

Ao contrário do que muita gente temia, a nova versão não transformou nossos pequenos e adorados oompa-loompas em bonequinhos totalmente digitalizados. Trata-se de um homem de verdade, chamado Deep Roy, que mede 1,50m e foi apenas diminuído no computador para 72 centímetros.

Ele interpreta a comunidade inteira dessa "rara" espécie que ama cacau. Por meio da tecnologia de captação de movimento e expressão facial, foram criadas imagens duplicadas dos oompa-lommpas em computador, a partir dos diversos desempenhos de Roy, e então diminuído seu tamanho. Nada que afete a magia dos anões do passado.

Aliás, a tecnologia em "A fantástica fábrica de chocolate" joga a favor do filme. Os cenários foram construídos em 360 graus, de maneira que os atores ficassem envolvidos pelo ambiente. A cachoeira e o rio de chocolate são de verdade. A maquinaria complexa que cria doces incríveis foi feita realmente. Ou seja, o máximo de efeitos especiais concretos.

Tudo para manter a magia do clássico infantil que ainda encanta crianças, mas principalmente os adultos.

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