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A banda Jota Quest lança o álbum "La Plata" em Curitiba | Divulgação/Weber Pádua
A banda Jota Quest lança o álbum "La Plata" em Curitiba| Foto: Divulgação/Weber Pádua
  • Shows da banda Jota Quest são nesta sexta e sábado

Pelo Brasil afora, é impossível enumerar quantas bandas tocam sucessos do Jota Quest, e deixam de lado o trabalho de composição própria. Para o baterista da banda mineira Paulinho Fonseca, que lança em Curitiba o novo álbum "La Plata", sexta (31) e sábado (1º), no Master Hall, "tocar cover não vale a pena". "Quem contabiliza com isso é o artista. É igual rádio tocando a música do cara", explicou o cantor.

Por outro lado, reconhece que "lançar trabalho próprio logo no início da carreira é difícil". "Tive outras bandas antes do Jota Quest. A gente era bem radical, só tocava música própria. Então, nosso universo era bem reduzido", contou Paulinho.

O músico citou como exemplo a banda Manitu, pouco conhecida pelo Sul do Brasil, porém em ascensão no cenário musical mineiro, terra natal do Jota Quest. "Eles têm um público enorme dentro de Belo Horizonte. A gente nem mesmo conhecia. Só que eles têm três ou quatro músicas deles. O resto é cover. É bem feito, mas são covers", disse.

Para Fonseca, o cenário musical deve entrar em uma fase mais autoral por conta das facilidades da Internet. O Jota Quest começou a entrar na era da rede pouco a pouco, e o reflexo aparece no novo álbum, que chega às lojas nesta sexta-feira (30). "La Plata" pode ser ouvido na íntegra no MySpace da banda até esta quinta (29). "Acho que as grandes bandas acabam ficando atrás das independentes. Elas sabem muito mais como funciona o processo da Internet do que a gente. Estamos aprendendo agora", confessou.

Em entrevista à Gazeta do Povo, o baterista explicou o processo de composição das músicas do novo trabalho autoral do grupo, além de confessar um desejo ainda não conquistado pela banda que já contabiliza 13 anos de carreira: compor especialmente para a trilha sonora de um filme.

Confira a íntegra da entrevista:

Por que Curitiba para abrir a turnê do novo disco, "La Plata"?

Primeiro porque gostamos muito de Curitiba. A nossa história na cidade é muito boa. Os primeiros shows fora de Belo Horizonte lá no comecinho da banda foram em Curitiba e Porto Alegre. Curitiba é uma boa largada, o pessoal dá um "feedback" muito bom para a gente.

O álbum foi gravado no novo estúdio do Jota Quest em Belo Horizonte, chamado "Minério de Ferro". Por que gravar em casa? Isso diminuiu a pressão com relação a este novo trabalho de inéditas?

A opção por gravar em casa era um sonho da banda. Sempre quisemos ter sede própria. O Rogério (vocalista) até brinca: "a gente mora junto há tanto tempo, mas a gente não tinha casa própria". Na realidade, a gente já tinha um estúdio, em que gravava em Belo Horizonte, mas tínhamos que sair para mixar em outros lugares. Isso acabava comprometendo a finalização do trabalho, pois era estressante. Você sai do ambiente em que você começou a fazer tudo, aí você vai para um hotel, um ambiente diferente, com tempo contado para você fazer as coisas. Era um objetivo da banda construir esse estúdio. A gente até atrasou um pouco o início das gravações em função disso. Isso trouxe para a gente uma tranqüilidade com relação a tempo e cronograma. Conseguimos render mais.

Como você definiria "La Plata" em relação aos anteriores do grupo?

É um trabalho que a gente teve mais tempo para decupar, entender e finalizar. É mais trabalhado, detalhado e feito sem pressa. Com isso, o resultado é muito bom nas nossas influências e como as colocamos neste disco. É muito variado, com estilos misturados. Nos outros discos, a gente tentou fazer e não deu certo por conta da falta de tempo.

Ao ouvir o disco, percebe-se que o grupo arriscou novos ritmos e batidas como, por exemplo, "Ladeira" e "Paralelepípedo", que abusam do samba. Vocês não temem que os fãs não se identifiquem com este som um pouco diferenciado do que foi feito anteriormente?

O Jota já pode e deve arriscar. Trazer novidades é sempre bom. O cara que é fã mesmo vai ouvir e vai fazer críticas. Nós estamos abertos a isso tranqüilamente. Agora, podemos conquistar quem não é fã com esse trabalho. Falamos que são novas e velhas influências porque todos os nossos discos acabam tendo estes detalhes, mas não são tão evidentes como ficou neste disco. A questão de a gente ter tido mais tempo para trabalhar fez com que isso aparecesse com mais força. Em "Discotecagem", flertamos bastante com o samba-soul e samba-funk em algumas faixas, mas isso não ficou tão evidente. Já na faixa "Paralelepípedo" do novo disco, eu como baterista toquei tamborim, além de ter entrado em outras músicas também. No "Discotecagem" teve isso, mas ninguém viu. Acho que o fã do Jota vai gostar como já está gostando. Eles estão vendo esta mistura com bons olhos. Hoje, a Internet dá para a gente esse "feedback" bem rápido. Eu vejo que tem muito Jota Quest do começo de carreira.

Como aconteceu a composição com Nelson Motta, que assina a letra de "Ladeira"?

O Nelson Motta é um cara que a gente vem encontrando há bastante tempo. Somos muito fãs dele. Ele é talvez o cara mais inteirado de música brasileira que está aí. Viveu várias fases. Um dia, ele estava em Belo Horizonte e o chamamos para conhecer o estúdio. Ele passou uma tarde com a gente no estúdio e fizemos uma audição com ele, que escolheu algumas canções para tentar fazer uma letra. Dois dias depois, ele mandou a "Ladeira". Ele foi bem fiel à melodia. Encaixou até mesmo com o contexto do disco, em que a gente contesta um pouco esse meio em que a gente vive em função de dinheiro. A "Ladeira" mostra isso, esse sobe e desce da vida. Ele fez mais uma letra que acabou não entrando no disco. Chegamos a ter 40 músicas para o disco.

E a participação de Ashley Slater?

A gente escuta a banda dele, que é o Freak Power, desde o nosso primeiro CD. É uma banda inglesa de soul e funk muito importante para a década de 90, que está na ativa ainda no circuito underground. É uma banda de feras, e a gente curtia a voz dele. Através da Internet a gente conseguiu o contato, mandou uns e-mails. Ele passou uma semana com a gente em Belo Horizonte, e era para ele fazer só uma música, mas o envolvimento dele foi tão legal que acabou fazendo quatro, sendo que três estão no disco.

Estas músicas que não entraram podem aparecer mais para frente em outros momentos?

Podem. Hoje a gente tem a Internet que nos tira dessa mesmice de que só podemos lançar outro disco daqui a um ou dois anos. Hoje, podemos no mês que vem disponibilizar uma música na Internet. Não temos um plano futuro com relação ao que vamos fazer com próximos trabalhos, mas é um caminho em que a gente está ligado. Temos muito material.

Com relação a isso, a arte do novo CD de vocês está bem reduzida neste trabalho, com encarte bastante simples. Vocês pensam em abandonar este formato?

Rola um pouco de frustração. A gente trabalha para ter o CD físico na mão, e ontem recebemos o CD e "puf". Olhamos, olhamos o encarte. Mas depois pensamos para quê (risos)? A maioria das pessoas não vai ter acesso a isso. A gente não sabe até que ponto o CD vai durar, e eu não o vejo como uma peça de coleção como é o vinil. O CD você compra, joga dentro do seu computador, e ele vira um corpo estranho ali na sua casa ocupando espaço. É complicado. Mas a gente tem que estar aberto já que somos fruto deste meio e dependemos disso para trabalhar e mudar. Talvez o próximo CD não seja um CD. Vamos trabalhar assim e perceber o melhor jeito de aproveitar esse espaço. Acho que as grandes bandas acabam ficando atrás das independentes. Elas sabem muito mais como funciona o processo da Internet do que a gente. Estamos aprendendo agora. Talvez a gente não soubesse trabalhar de forma a se tornar um fenômeno na Internet.

Você acredita que as músicas novas podem alcançar o mesmo patamar e reconhecimento de músicas como "Fácil"? Hoje, o meio musical mudou bastante com relação ao que era no início do ano 2000.

Eu acho que tem como. Os hits vão continuar aparecendo, independentemente de que forma eles vão aparecer. A rádio vai continuar tocando, a novela vai estar com a música na novela, os programas de televisão onde você divulga. Se o artista não juntar isso tudo, ele não faz um hit realmente, uma música que todo mundo realmente cante junto. "Fácil" acabou entrando em tudo quanto é lugar. A gente brinca que na época de "Fácil", você abria a geladeira e tocava. A gente não agüentava mais. Chegou uma época que a gente tirou do show. Pensamos que não precisa tocar, todo mundo já sabe. Agora, voltou para o show e faz parte do show.

Existe alguma canção que nunca ficou fora de um show do Jota Quest?

A gente estava comentando isso nessa semana. "Encontrar Alguém" e "As Dores do Mundo" nunca saíram. "As Dores do Mundo" foi a primeira música nossa, e está lá até hoje. Eu até dei uma sugestão de tirar essa música do próximo show, mas falaram que eu estava louco (risos). Vai continuar.

Há uma maior dificuldade em compor e uma pressão para obter grandes sucessos já que a banda está consolidada entre as mais renomadas do pop rock brasileiro?

Isso não nos afeta. A gente continua compondo como a gente fazia antes. A gente vai colocando as idéias para fora, e quando a gente está compondo, não há uma preocupação com estilo. Pode ser que um dia eu faça até um heavy metal (risos). A gente faz a música, e o que sair, saiu.

Ao contrário de outras bandas do rock nacional como O Rappa, o Jota Quest manteve uma regularidade no lançamento de álbuns de inéditas, com períodos relativamente curtos de apenas três anos entre um álbum e outro. Há uma preocupação em manter a banda sempre ativa?

É uma coisa natural. Agora eu acho que até demorou um pouco. No meio da turnê de "Até Onde Vai" a gente lançou um DVD que deu uma sobrevida para a turnê que a gente não esperava. A gente deu uma parada para começar o próximo álbum, mas o estúdio não estava pronto. Decidimos esperar, e valeu a pena. Por isso, esse buraco destes três anos. Mas eu acredito que daqui para frente não vai demorar muito para chegar coisas novas. Tem muita coisa guardada e a gente compõe todo dia. Hoje, acordei cedo e já pensei em fazer um "negocinho". Estou falando do lançamento e pensando em outra música. Sempre está borbulhando alguma coisa.

O que você acha do trabalho das inúmeras bandas de pop rock que circulam todo o Brasil apenas com trabalho cover, e não buscam arriscar nas composições próprias?

Eu acho que é difícil a banda começar só com trabalho cover. Tive outras bandas antes e a gente era bem radical, e só tocávamos música própria. Então nosso universo era bem reduzido. Agora no almoço a gente estava comentando sobre algumas bandas de Belo Horizonte que são fenômenos e falamos de uma banda que chama Manitu. Eles têm um público enorme dentro de Belo Horizonte e a gente mesmo nem conhecia. Só que eles tocam muitos sucessos. É uma banda que tem três ou quatro músicas deles, e o resto é cover. É bem feito, mas são covers. Eu acho que está em uma fase agora, como tem Internet e essa coisa toda, as bandas têm que ser mais autorais. Não ficar 100% autoral, mas diminuir um pouco e colocar o repertório dela para fora. O Jota foi uma banda que no início de carreira tocou muito cover, mas a gente tinha uma preocupação com as nossas músicas. A gente tentava não tocar aquele sucesso imediato que tocava em rádio porque eu acho que isso não vale a pena. Quem contabiliza com isso é o artista. É igual uma rádio tocando a música do cara.

Existe algum filme para o qual você gostaria de ter feito a trilha sonora?

Vários. Eu como sou um cara apaixonado por carros. Acho que "60 Segundos" seria um filme bacana. Tem outro que se chama "Bullets" que tem várias perseguições de carros. Eu já tive muitas idéias de trilhas sonoras de alta velocidade. É muito bacana. O Jota tem uma vontade, já apareceram alguns convites, mas um pouco fora de época. A gente não teve como se dedicar. Mas alguns cineastas já entraram em contato com a gente.

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