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Amy Hempel | Fotos: Divulgação
Amy Hempel| Foto: Fotos: Divulgação
  • August Wilson
  • Daphne Beal
  • Edmund White
  • Edward P. Jones
  • Grace Paley
  • Janet Malcolm
  • Richard Powers

Escritores são seres diferentes dos demais humanos? Por um lado sim e, por outro, obviamente não. A questão é ampla, complexa e depende de meridianos e paralelos.

No Brasil, desde muito, pelo menos desde o fim do século 19 e início do século 20, ser escritor era sinônimo de "estar" funcionário público. Muitos dos autores daquele período, Machado de Assis é o exemplo mais conhecido, tinham na burocracia a fonte de renda e oportunidade, devido ao expediente reduzido, de se dedicar à leitura, reflexão e produção de textos.

Passou o tempo e, hoje, professores universitários, jornalistas e outros profissionais liberais são os escritores brasileiros. Todos, evidentemente, têm de sobreviver fazendo "outra coisa", e não apenas literatura. Há feiras de livros e um circuito de palestras e debates remunerados, mas são poucos os autores nacionais que podem pagar as contas por meio da atividade de "ser escritor".

A situação nos Estados Unidos, e na Europa, é muito diferente do que acontece no Brasil, e essa constatação se evidencia, e muito, depois da leitura do livro Conversas entre Escritores.

O conteúdo, publicado originalmente nas páginas da revista norte-americana Believer, é realmente incomum. A obra reúne 21 entrevistas: 21 escritores foram entrevistados, cada um deles, por um outro escritor. Ja­­net Malcolm (autora de O Jornalista e o Assassino – Uma Questão de Ética) conversou com Daphne Beal por e-mail. Outros bate-papos aconteceram ao vivo, por telefone, na rua, dentro de um veículo em movimento ou, então, por meio de uma conjunção que incluiu diálogos que começaram em um café e a finalização se deu por escrito.

Em todas as 21 entrevistas, há pelo menos uma ideia memorável. Em geral, há muitas boas ideias. Não seria exagero dizer que todos os bate-papos são formados por excelentes frases e palavras inspiradas.

August Wilson diz, a Miles Marshall Lewis (e indiretamente a todo interlocutor), que o blues é a base e fonte de tudo o que ele escreve. E justifica, dando a entender que o blues traz em suas letras, a exemplo das obras de Shakespeare, todos os elementos que decifram o comportamento humano:

"Todos os personagens em minhas peças, suas ideias e atitudes, o posicionamento que eles adotam perante o mundo, são todas ideias e atitudes expressadas no blues. Se tudo desaparecesse da face da Terra e um grupo de pessoas, dois milhões de anos depois, procurasse indícios de nossa civilização e encontrasse alguns discos de blues, usando um enfoque antropológico, eles conseguiriam recriar quem fomos nós, o que pensávamos, quais eram nossas atitudes diante do prazer e da dor, e tudo mais."

Se Paul Auster diz que não se preocupa apenas em escrever belos parágrafos ("tudo é essencial"), o premiado autor Richard Powers afirma que receber prêmios é apenas um incentivo para um escritor "falhar melhor", e não se repetir seguindo fórmulas e caminhos seguros.

Muitos dos autores entrevistados, como Amy Hempel, Edmund White e Grace Paley, também são professores em cursos de criação literária ou redação criativa. Isso chama a atenção pelo fato de que esses escritores apresentam conhecimento e discurso lúcido em relação ao fazer literário, o que não é muito comum entre os autores brasileiros, intuitivos, autodidatas e que, em entrevistas, não costumam nem dar pistas sobre os seus processos inventivos.

Atravessar as 315 páginas de Conversas entre Escritores é sinônimo de estar em boa companhia, mesmo que o leitor não seja um interessado em literatura. Afinal, escritores são muito parecidos com toda as outras pessoas, gostam de falar e se expor, a exemplo de Edward P. Jones que, ao receber um prêmio em dinheiro, ao invés de carros e mansões, se deu como recompensa 12 caranguejos. GGGG

Serviço

Conversas entre Escritores. Organização: Vendela Vida. Arte & Letra. 315 págs. R$ 59.

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