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“Com a dose certa de responsabilidade profissional, o ator é a pessoa que não quer crescer. (...) A gente sai de casa, se tranca num quartinho e vira outra pessoa. Que esquizofrenia linda isso tudo”, diz Guta | Marcelo Andrade/Gazeta do Povo
“Com a dose certa de responsabilidade profissional, o ator é a pessoa que não quer crescer. (...) A gente sai de casa, se tranca num quartinho e vira outra pessoa. Que esquizofrenia linda isso tudo”, diz Guta| Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo

Trajetória

• Guta Ruiz nasceu na cidade de Santos (SP) em 1975.

• Mudou-se para Curitiba de 1989. Aqui se formou em Artes Cênicas pela Faculdade de Artes e começou a carreira de atriz.

• Em 2002, mudou-se para São Paulo e ingressou na Companhia Satélite onde atuou nos espetáculos como o clássico A Casa de Bernarda Alba de Garcia Lorca.

• No cinema, atuou em filmes Fim da Linha, de Gustavo Steinberg, Encarnação do Demônio, de José Mojica Marins, Augustas, de Francisco Cesar Filho e B runa Surfistinha, de Marcus Baldini.

• Na TV fechada participou das séries Alice da HBO, dirigida por Karim Ainouz e Sérgio Machado e 9 MM da Fox.

• Em 2013, esteve em cartaz com a premiada peça Deus é um DJ, de Falk Richter.

• Em 2014 faz parte do elenco da nova novela da Rede Globo, Joia Rara, vencedora do prêmio Emmy de melhor novela.

  • Como a corista Elisa na novela Joia Rara da TV Globo
  • Na série de tevê a cabo Alice da HBO:
  • Com Débora Secco no filme Bruna Surfistinha
  • No teatro na peça Deus é Um DJ: prêmios e boas críticas

Guta Ruiz sabe onde pisa quando está em Curitiba. A atriz marcou a entrevista com a Gazeta do Povo no viaduto do Alto da XV, perto da antiga caixa d’água. A ideia não era só aproveitar uma das melhores vistas da cidade em que viveu por 13 anos. O plano era beber um caldo de cana na Kombi do Gisélio que desde 1993 estaciona por ali servindo garapa "com limão e chorinho", para a alegria das abelhas e casais de namorados.

Cliente antiga, Guta sempre parava para um copo no caminho do colégio para casa, no início dos anos 1990. No reencontro, o homem atrás do balcão ficou intrigado: "Eu conheço você...", coçou-se .

A reação é cada vez mais frequente na vida da atriz, especialmente depois da atuação na novela global Joia Rara. No caso do garapeiro, porém, a figura dela estava mesmo em sua memória. Um tempo que Guta também lembra com afeto. "Eu adorava viver aqui. Cantei em bandas de rock [até alguns shows com a lendária guitar band UV Ray], ia nas festas e bailinhos. Fui estudante, modelo, motoqueira... Fui da noite e do dia, fiz grandes amigos. Um tempo muito bom", recorda.

Em Curitiba também nasceu a paixão pelo teatro, nas aulas de Joelson Medeiros no Colégio Medianeira. Quando entrou na Faculdade de Artes do Paraná (FAP), anos depois, Guta já sabia que aquela seria sua profissão. Assim, quando se formou, decidiu se mudar para São Paulo.

"Queria dar uma sumida e "matar" todos os meus ídolos do teatro. Tudo aquilo que estudei queria viver de perto", explica. Em São Paulo, logo foi chamada para integrar o elenco da peça A Casa de Bernard Alba ,de Garcia Lorca. A montagem do diretor Dionísio Filho revelou uma geração de atrizes que hoje se destaca no cinema, na tevê e no teatro. Guta entre elas.

Ainda que tenha se preparado para o palco, a carreira de Guta logo guinou para o áudio visual. "Dizem que a câmara gosta de mim", ri a atriz. No cinema e na tevê, a partir da série Alice na HBO, a carreira mudou de patamar.

"As pessoas começaram a me convidar para projetos maiores. É bom quando chega esse momento da carreira em que percebem que ser atriz é sua profissão", observa. "O ator em geral adora trabalhar. Muitas vezes entramos em projetos pela ideia, por afetividade, é bom estar disponível, mas é preciso deixar claro que você vive disso", diz.

Seu próximo projeto será um filme curitibano de horror, Snuff Games, do diretor Paulo Biscaia Filho. "Ele foi meu professor e sempre quisemos trabalhar juntos. O tema do filme é pesado, mas sei que terá um flerte com humor e uma estética dos anos 1970. Vai ser divertido", diz.

De botas, cabelos e vestido negros, óculos escuros, voz grave, rosto anguloso em que se destaca "um lindo nariz de atriz ... como se já nascesse adiantado e pulasse no palco" (na descrição de Xico Sá), Guta tem o it da mulher fatal.

O visual contrasta bem com um bom humor invencível que só tem aqueles que fazem o que gostam. "Com a dose certa de responsabilidade profissional, o ator é a pessoa que não quer crescer. É a criança que ganha um brinquedo novo e fica testando seus limites. Essencialmente, a gente sai de casa, se tranca num quartinho e vira outra pessoa. Que esquizofrenia linda isso tudo", se diverte.

Guta dá o ultimo gole no caldo de cana e uma joaninha sobe em seu vestido. "Curitiba me dá sorte". Antes de se despedir, conta que uma das coisas que mais tem gostado de fazer é "envelhecer".

"A idade te traz um olhar distanciado de todos os dramas que pareciam enormes na juventude. Chegando aos quarenta, a gente fica mais inteligente, entende nosso lugar no mundo", filosofa.

"Aliás, esta é uma das merdas do Brasil. Vivemos numa cultura de consumo hedonista absurda. Você se vê obrigado a consumir beleza e juventude desesperadamente. Seria tão bonito se a gente tivesse uma sociedade que respeitasse a história de vida das pessoas", arremata.

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