Trabalho de formiga

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É normal: quem gosta muito de algo sempre quer fazer com que os outros se aproximem daquilo. Quem é fã de música clássica, não foge à regra. Está sempre tentando mostrar como pode ser bonita uma sinfonia, como um quarteto de cordas pode salvar uma tarde, como um compositor pode mudar a vida de alguém. Em Curitiba, há várias formiguinhas fazendo o trabalho de expandir ao máximo a divulgação da música erudita, nas suas várias formas possíveis.

Um dos mais ativos músicos a desempenhar essa tarefa nos últimos tempos é o pianista Alvaro Siviero. Ainda pouco conhecido do público geral – como de resto qualquer um que dedique sua vida à música erudita –, Siviero veio de São Paulo para Curitiba nos anos 90. Aqui, se instalou com seu diploma de físico e sua verdadeira vocação, a da música. Porém, com o tempo, decidiu que somente subir ao palco com alguma regularidade para apresentar a execução de alguma música era pouco. "Isso sozinho é pobre", afirma. Além de tocar, começou a pensar em maneiras de trazer mais música para a população da terra que adotou.

Um primeiro passo importante veio no ano passado, quando Siviero se tornou a ponte entre o Estação Embratel Convention Center e a música. O pianista foi convidado para organizar uma série de concertos que trouxe músicos importantes para a cidade, como, por exemplo a Orquestra Petrobrás Sinfônica, regida por Isaac Karabtchevsky. Agora, a idéia é montar novos projetos, sempre em parceria com a iniciativa privada. "Precisamos nos unir em torno de um projeto", afirma o pianista.

Uma das idéias em andamento é a realização de um festival internacional de música, que poderá sair do papel ainda neste ano. Siviero não adianta muito sobre o projeto, mas garante que as conversações com todas as partes necessárias já estão adiantadas. Tudo indica que, antes do fim do ano, músicos de cinco nacionalidades estarão se apresentando na cidade. Siviero tem tanta confiança na idéia que já está ensaiando as peças que pretende tocar junto com seus convidados.

Os contatos para o festival foram feitos, em boa parte, durante uma viagem que o músico fez nos meses de junho e julho a oito países europeus. Siviero foi selecionado recentemente para participar de uma série de master classes com o pianista irlandês John O’Connor, na Itália. O’Connor é um dos principais intérpretes da obra para piano de Beethoven e realiza as aulas para pianistas de todo o mundo na Casa Orfeu, fundada pelo pianista Wilhelm Kempf em Positano, no sul da Itália. Siviero conta que foi o primeiro brasileiro a ser escolhido para o projeto.

Aproveitando a viagem à Europa, visitou vários centros musicais importantes, como Salzburgo e Viena. Conheceu gente do calibre de Maurizio Pollini e Martha Argerich – dois dos principais pianistas do mundo, hoje – e foi montando uma lista de contatos. Saiu de lá com a idéia do festival quase pronta. Agora, trabalha para que tudo se torne realidade.

"Temos de parar com essa visão de que música erudita é elitista e trabalhar para trazer gente importante para cá", diz. Segundo ele, o mais relevante não é nem mesmo fazer com que a programação de música de Curitiba seja mais regular, e sim garantir que haja uma estrutura que dê o acesso à música para mais gente. E música bem feita, obviamente.