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Entrevista

"Trama Virtual veio antes do MySpace", diz João Marcello Bôscoli

Presidente da gravadora que distribui músicas gratuitas desde 2004 garante que foi percussor do modelo que ficou popular no mundo por meio do site da rede social

Cansei de ser Sexy ou CSS: banda mais popular que fez sucesso por meio do Trama Virtual | Reprodução/Site Oficial do CSS
Cansei de ser Sexy ou CSS: banda mais popular que fez sucesso por meio do Trama Virtual (Foto: Reprodução/Site Oficial do CSS)

A distribuição gratuita de músicas se torna uma tendência cada vez mais forte e comum entre bandas nacionais e internacionais. Coldplay e REM são alguns dos exemplos que adotaram a experiência, que já era seguida por uma gravadora brasileira há quatro anos. É o que afirmou o presidente da Trama Virtual e do selo Trama João Marcello Bôscoli, que contou em entrevista por telefone à Gazeta do Povo que não teve nenhuma referência quando criou a empresa em 2004. "A Trama começou antes do MySpace", disse ele.

O site MySpace é conhecido mundialmente por oferecer um canal aberto para que bandas publiquem o seu material próprio para ser ouvido por meio de streaming (que não permite que o ouvinte faça um download do arquivo para o seu computador – ele só pode ouvir a música enquanto conectado à Internet). No entanto, quando entrou no ar em agosto de 2003, o site ainda era pouco popular e tinha o caráter de uma rede social não específica para a música. Quando começou a tomar esta forma, foi criada a MySpace Records em 2005. A Trama entrou no ar em maio de 2004, e desde o início era focada apenas em música.

Para manter esse modelo de negócio, Bôscoli afirmou que a sobrevivência é feita por meio de patrocínio, e comparou com a televisão aberta, que oferece conteúdo gratuito aos espectadores. "Eu notei que é uma coisa que permeava toda a sociedade e não tinha chegado à música", contou. "As pessoas estão baixando música de graça, não estão? Por outro lado, o artista precisa receber. Essa equação era um binômio que precisava virar um trinômio. Aí feito um patrocinador fechando", explicou.

No início, o site oferecia apenas a plataforma para que qualquer banda se "autopublique". Hoje, existe uma ferramenta chamada "download remunerado", no qual empresas patrocinadoras oferecem um valor mensal para pagar os artistas, e o dinheiro é repartido igualmente para cada download feito no site. "O público, além de baixar de graça, baixa com segurança, de maneira legal, e remunerando o artista com o qual ele tem essa relação emocional", contou.

No entanto, foi preciso abrir cada vez mais o leque de opções dentro da música para manter este formato. O CD físico não deixou de ser vendido nas lojas, e a empresa trabalha também com o agenciamento de artistas, sonorização de ambientes, venda de programas de televisão e de rádio, entre outras possibilidades. "O que rende mais é o conjunto de todas as ações", disse Bôscoli.

Sobre o aumento de gravadoras independentes, Bôscoli disse que o trabalho feito por elas na cena musical atual é "fundamental". "O mercado fica mais civilizado quando você tem as independentes presentes. Caso contrário, você tem toda a produção do Brasil dentro de cinco ou seis gravadoras. Ou você é desconhecido tocando na sua garagem ou você está na Sony cantando no Faustão", comentou. Ele contou que hoje não é necessário que o artista deixe de ser quem é ou faça alguma mudança no seu som "para existir".

Carreira nacional do Cansei de Ser Sexy "não faz diferença"

Um dos exemplos mais conhecidos que fez sua carreira a partir da Trama Virtual é a banda Cansei de Ser Sexy. Hoje conhecida apenas por CSS, o grupo de integrantes brasileiros é pouco conhecido em solo nacional, mas tem carreira forte no exterior. Questionado sobre esta opção, Bôscoli disse que o reconhecimento nacional "não faz diferença". Ele contou que quando a música do grupo (que já fez mais de 400 shows fora do país e vendeu 1 milhão de cópias no mundo) chegou às rádios brasileiras, o som foi totalmente rejeitado. "A maioria falou ‘ah, isso é bandinha, porcaria, não vai acontecer nada’", contou ele.

Para Bôscoli, há uma rejeição quando é uma coisa nova. "De maneira geral, as pessoas temem o novo. Dá muito trabalho", disse. A diferença no exterior, segundo ele, é que há muitas rádios independentes, cenário que não se repete em terras nacionais.

Bôscoli garante que gravadoras não vão acabar

Questionado sobre o futuro das gravadoras, Bôscoli disse que não acredita que elas vão acabar. Um exemplo dado por ele foi da cantora Mallu Magalhães, cantora de 15 anos que ficou conhecida na Internet depois de distribuir quatro músicas demo na Trama Virtual e no MySpace. "A Mallu vai ter que lançar um disco, não vai? Ou ela vai escolher um selo que ela goste, ou ela vai montar o selo dela. A gente não pode confundir o negócio com os gestores do negócio.

Clique para conferir a entrevista com João Marcello Bôscolli na íntegra

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